Bento XVI criticado por Umberto Eco

Refletindo sobre a Igreja Católica, Umberto Eco dispara em entrevista publicada no caderno Mais! de ontem:

"Está ocorrendo um retrocesso ao século 19, quando havia um confronto entre o Estado liberal e a igreja. De quem é a responsabilidade por isso? Não é por acaso que esse confronto tenha se acirrado com a chegada de ratzinger [o papa Bento XVI]: portanto, talvez se deva à política clerical do novo pontífice. Sua luta contra a cultura moderna, o chamado relativismo, voltou aos grandes temas da igreja do século 19, que falava contra a revolução e contra a ciência moderna [...] Subiu ao trono um papa que pensa como um papa do século 19".

Não poderíamos cair num anacronismo fácil esse de falar que Bento XVI pensa como um pontífice do século XIX. Isso, por si mesmo, é impossível. Ratzinger fala 'depois' do Vaticano II e esse fator deve ser tomado como ponto de partida. Não podemos também cair em discursos que insistem em uma "volta à tradição", ou reacionarismo teológico desse papado. A história da Igreja do século XX é mais complexa que nossos conceitos cheios de ideologismos podem expressar.
Eco acerta num ponto: a questão do relativismo. De fato, esse tema já era tratado no contexto oitocentista, mas a partir da categoria do indiferentismo. Se o papa atual "pensa como um papa do século 19", significa deduzir que os problemas do século XIX estão ainda presentes no século XXI. Não significa dizer que o papa pensa como um papa oitocentista simplesmente por que não tem visão histórica, ou por ser fruto de uma escolha anteriormente deliberada. Bento XVI sabe dos desafios que a Igreja tem pela frente, mas simplesmente não é tão facilmente transigente com a modernidade como alguns acham que "deveria ser". Hoje não ocorre nenhum "retrocesso ao século 19, quando havia um confronto entre o Estado liberal e a Igreja". A Igreja tem consciência dos limites da teoria liberal e por todo o século XX buscou acertar suas contas com ele. Porém, nada ainda resolvido. E nem sabemos quando se resolverá.

2 comentários:

Morg Ana disse...

Ora ora, vejam só que interessante! Então quer dizer que falar contra o relativismo é pensar com a cabeça do sec XIX? E por um acaso relativismo é coisa boa? E voltar no tempo é coisa ruim? O jogo de palavras que ele usa é construído para dar a idéia de que o Papa Bento XVI é um retrógrado, reacionário (tudo com sentido pejorativo, claro, bem ao estilo dos modernosos iluminadinhos)...Caramba, como certos intelectuais purpurinados pela mídia abrem a boca para falar bobagem! É interessantíssimo perceber como a mentalidade moderna funciona a base de progressismo.

Abraço!

R. B. Canônico disse...

Rodrigo, seus comentários estão muito equilibrados. Realmente muito bom mesmo!

O propior Bento XVI disse que seu pontificado teria como guiao Vaticano II - não poderia ser diferente. E lá a Igreja é claro sobre o que é uma sadia laicidade. Muito diferntes desse laicismo louco e ateu que há por aí.

Em brve, mando os comentarios que prometi no seu email.

Abraços!