Altar pos-conciliar e homilia de Natal de Bento XVI


[As palavras vao sem acento, pois escrevo de computador desconfigurado]

O destino mais uma vez trouxe-me a Roma. Estive por quatro dias na Cidade Eterna e tive o privilegio de estar na Missa do Galo. Em uma de minhas andancas pela basilica de Sao Pedro vi, deixada atras do altar principal, o altar pos-conciliar que fora retirado a poucos meses e trocado pelo tradicional. Ei-lo em foto que tirei no local.
A homilia de Natal pode ser lida aqui.

João XXIII e seus escritos

Acaba de sair, em comemoração à eleição de Angelo Roncalli ao papado, a coleção de seus escritos em 10 volumes organizado pelo historiador Alberto Melloni, do Istituto per le Scienze Religiose di Bologna. Confira no site da instituição.

Gramsci converte-se ao catolicismo

Em seu leito de morte Antonio Gramsci, o baluarte da esquerda italiana e fautor de uma espécie de revolução comunista sem armas, a dita "revolução gramsciniana", converteu-se ao catolicismo em seu leito de morte. Veja aqui.

Centenário Plínio Corrêa de Oliveira

Em decorrência da comemoração do centenário de nascimento de Plínio Corrêa de Oliveira, Rafael Cariello, na Folha de. S. Paulo de hoje apresenta reportagem sobre a atual situação da TFP.
Também, em vista do centernário do fundador da TFP, foi publicado na Itália o livro Una battaglia nella notte. Plinio Corrêa de Oliveira e la crisi del secolo XX nella Chiesa. Um resumo da obra encontra-se no site do CESNUR.

A busca do fundamento ou a deificação do nada?

Fora alguns nostálgicos, os mitos do século XIX e início do XX estão sendo lentamente abandonados. O progresso que caminha incansável rumo ao reino imanente, o fim da história como uma especulação historicista, a ciência libertadora e emancipatória, todos esses mitos caíram um a um, juntamente dos corpos carbonizados por revoluções e guerras incansáveis, sempre em nome do avançar da história. Sobre os escombros da débâcle dos mitos modernos o que vêm à tona é o nada e a solidão pós-moderna. De um otimismo exacerbado na ciência e suas benesses, entramos em um tempo no qual o que prevalece é o pessimismo e o desnorteamento frente a qualquer discurso que vise construir e admitir algum tipo de sentido nesse turbilhão marcado pela ansiedade existencial. Sobre os escombros de uma modernidade orgulhosa e soberba o que emerge é um homem desorientado à procura. De quê? De si mesmo. Em meio a tanta descrença e desesperança o homem quer saber quem é ele, qual o sentido da vida, o porquê da existência.

De fato, a grande aventura humana sempre foi marcada pela busca de si mesma, pelo o que me aproxima do outro, pelo que me faz mais humano. Isso não é um privilégio do tempo presente. Tal busca constitui o âmago do ser. Contudo, no mundo contemporâneo, marcado por fundamentalismos e relativismos, várias são as tentativas de banir a própria possibilidade de se formular as perguntas que nos levam a vislumbrar respostas sobre “quem sou eu”. Impedidos, perdemos o que existe de mais humano em nós, reificando-nos. Tais tentativas, veladas pelo manto de uma utilização duvidosa do conceito de “tolerância” e “multiculturalismo”, diminuem o homem em seu aspecto mais peculiar, daquele ser que pergunta, que procura, que deseja respostas, que visa o Todo. Presenciamos assim, parafraseando Horkheimer, o “eclipse da razão”.

Por outro lado, a razão pode ser eclipsada, mas não totalmente proscrita, pois se assim fizesse seria a idiotização do homem e seu posterior aniquilamento espiritual. O lançar-se na busca da justiça, da verdade, da bondade, da liberdade e da felicidade faz parte dos mais íntimos interstícios do homem e marca indelevelmente o seu caminhar. Muitos são os filósofos, teólogos e estudiosos que se envolveram na busca e na pesquisa desse fundamento do ser do homem por milhares de anos.

Podemos afirmar que a partir dessas exigências elementares o homem torna-se homem, humaniza-se, encontra com o semelhante, interage, cria a arte, a ciência, a filosofia, a religião e as civilizações. Desse impulso para viver em busca de respostas às exigências primordiais, dessa sede que nunca se farta de procurar por novos mananciais de água fresca do Todo é que nasce a história humana, tempo que escorre pelas nossas mãos e se derrama num grito de “por que”.

O filósofo espanhol Xavier Zubiri (1898-1983) nos fala que a busca de descobrir os significados das coisas, do sentido, constituiu e permeou a vida simbólica do homem, levando-o a se defrontar irremediavelmente com o problema de Deus. Qualquer que seja a resposta dada pelo homem a esse problema, – seja o ateísmo, o teísmo ou o agnosticismo –, este homem não tem a consciência de que a sua resposta é dada a uma questão anterior, isto é, a “um problema que subjaz às suas crenças”. Dessa forma, o ponto que está em questão é o enfrentamento inexorável do homem, indistintamente, com o que denomina de dimensão última do real.

Zubiri, deseja chamar atenção para o fato de que tal dimensão é algo estrutural da realidade humana. Por isso, o próprio ateísmo está inserido nessa mesma dinâmica de resposta do homem à sua própria condição. É uma resposta a esse enfrentamento com a dimensão última do real. Não uma resposta teológica, mas indubitavelmente teologal: “o problema de Deus, enquanto problema, não é um problema qualquer, arbitrariamente colocado pela curiosidade humana, mas é a realidade humana mesma em sua problematicidade constitutiva”.

A partir da reflexão do grande filósofo, parece que o desafio é fazermos o retorno a nós mesmos. Voltarmos para a nossa constituição mais íntima, deixar brotar nossos desejos mais profundos de amor, liberdade, felicidade e verdade. Voltar-nos e religarmo-nos ao fundamento do ser, pois corremos o sério risco, se não encararmos com seriedade essa tarefa da alma, de entronizar o nada deificado e tornarmo-nos néscios adoradores do vazio.

Entre a busca e o barateamento da vida interior

No dia 18 de outubro de 2008 realizou-se no auditório da reitoria da Universidade Federal de Minas Gerais o debate “Fé e conhecimento: a perspectiva do cientista, do poeta e do monge”. (a gravação completa encontra-se no site www.fafich.ufmg.br/~laps) O público no local foi em torno de 400 pessoas, além das 500 que acompanharam ao vivo pela internet, entre eles, muitos estudantes, professores e interessados pelo tema. O sucesso do debate demonstra que quando existe algo a ser falado, quando esse algo corresponde à interioridade do ser humano, quando o insere no jogo de ouvir, pensar, situar-se e implicar-se no que é dito, é possível agrupar um bom número de pessoas para refletirem juntas.

Ao perguntar-se se é possível articular fé e conhecimento, se são duas vias paralelas e que não se cruzam e se a fé é simplesmente acreditar cegamente em algo, as pessoas se sentem incitadas a pensarem suas próprias convicções e condutas. Ao perguntar-se sobre as razões de afirmações mais basais, de nossas vivências e experiências, lançamo-nos num desafio instigante de pensarmos nós próprios frente a um mundo que se transforma numa velocidade jamais vista. Em meio a tantas mudanças existe algo em mim que posso chamar de inato? Existe algo no homem que o constitui como ser?

Para a poetisa Adélia Prado, que esteve conosco nesse encontro e que nos possibilitou vislumbrar a relação entre fé e conhecimento a partir do fazer poético, a resposta é sim, e o sentimento moral é uma dessas coisas. Segundo a poetisa, “o mundo já nos é dado com suas órbitas, leis, sentimentos do bem e do mal”. A sensibilidade ética, para Adélia Prado, “já nasce conosco e ela nos persegue feito um aguilhão. É o instinto da alma, o instinto religioso que é a tendência que a alma, o espírito humano, tem de procurar aquilo que justifique a existência, o absurdo do fenômeno da nossa existência e a do mundo, alguma coisa que justifique a existência num centro de significação e sentido: o que? Por quê? O que sou? De onde vim? Para onde vou? Por que sofremos?”

Transitando do olhar poético ao pensamento místico cristão, a poetisa mineira afirma que “a alma humana quer encontrar algo que a descanse; um descanso da nossa humanidade, da nossa finitude que fica permanentemente querendo uma coisa infinita.” E assevera: “Ninguém é insensível a essas exigências”. Ninguém é insensível às exigências primeiras do coração humano. As exigências primárias de felicidade, liberdade, bem e verdade. Para a poetisa, é da “da experiência de nascer, sofrer, morrer, alegrar-se é que nascem religiões, ciência, filosofia e arte. Sem esses aguilhões nós estaríamos ainda no mesmo lugar. É isso que provoca e é a pulsão daquilo que nós chamamos de civilização e humanização [...] É a religião e a arte [...] por que escapam da cadeia da lógica [...] propiciam ao homem a chance de viver a vida simbólica”. A crítica de Adélia Prado vem nesse sentido: atualmente vivemos um vazio simbólico, que leva o homem a essa secura espiritual tão marcante nos tempos atuais.

Na verdade, poderíamos afirmar, que temos sim uma vida simbólica na chamada pós-modernidade, hiper-modernidade ou super-modernidade, como queiram chamar esses tempos os estudiosos. Contudo, uma parcela dessa vida simbólica que qualquer olhar mais atento flagra gira em torno dos shoppings, templos de consumo aonde o espaço público é privado e restrito e aonde o grande ato sacrificial se dá nas faturas por serem pagas. Tal vida simbólica dá-se na relação estabelecida pelo próprio consumidor-fiel e seus novos totens, adquiridos quase com confiança religiosa em sua tarefa libertadora e salvífica. O ato da compra (ou do débito) é convertido em prática sacramental, e suas conseqüências são sinais na alma de um alento momentâneo e quase um êxtase orgiástico, dependendo do totem adquirido. O produto não é um simples produto. Além de suas funções primárias ele nos possibilita um caminho para o céu: invejado e desejado pelo outro, o totem e sua utilização tornam-se caminhos de salvação que visam nos fazer crer que somos únicos e insubstituíveis aos olhos do Deus-Mercado. À religião do consumo, uma das marcas da vida simbólica atual, não somos imunes. Ajoelhamos permanentemente para os nossos totens, dignos de adoração e veneração, mas assinalados com seus prazos de validade em decorrência da mão-invisível do Deus –Mercado, que deve proporcionar novos e mais eficazes totens para encher nossos templos e nos fornecer melhores caminhos de salvação.

Sobre o verdadeiro pecado


"Não te recriminam pelo fato de ignorares, contra tua própria vontade, mas de neglicenciares procurar saber o que ignoras. Tampouco te é imputado como culpa não poderes curar teus membros feridos, mas de menosprezares Aquele que te quer curar. Enfim, são esses os teus verdadeiros pecados"
Santo Agostinho, O Livre-arbítrio.

Ser si mesmo


"Quanto mais sou 'eu mesmo', mais vulnerável sou, mais aberto estou para 'o que vier', estou menos 'feito', sou menos 'coisa' e sei menos o que vai ser de mim. Na medida em que o sei, sou menos eu. Por isso, a excessiva experiência de coisas costuma destruir ou não deixar nascer a experiência da vida"
Julián Marías ( Antropologia Metafísica)

Nova Dicta&Contradicta


Como prometido por Malzoni e cia, dia 8 de dezembro será o lançamento do número 2 da revista Dicta&Contradicta. Ainda bem que cumpriram o prometido...