D. Laurent Ulrich comenta

Reportagem de Stéphanie Le Bars, publicada no jornal Le Monde, 28-03-2009 e reproduzida com tradução de Moisés Sbardelotto no iHuonline. O entrevistado é Dom Laurent Ulrich, arcebispo de Lilla e vice-presidente da Conferência dos Bispos da França.

Como o senhor explica esse mal-estar? Foram cometidos erros?

Efetivamente, observa-se um desconforto ligado a uma série de casos julgados incompreensíveis. No caso dos bispos integralistas, é verdade que as explicações tardaram em chegar. Mas o Papa reconheceu os erros de comunicação e deu-lhes uma explicação na sua carta aos bispos. Hoje, ninguém está protegido desse tipo de erros.

No Brasil, a posição do episcopado brasileiro, que contradizia o bispo que havia pronunciado a excomunhão, foi pouquíssimo publicada pela imprensa. Entendeu-se que a excomunhão não é mais efetiva? Nem o texto de dom Fisichella – presidente da Pontifícia Academia para a Vida – que expressava a sua compaixão pela menina não foi muito difundido. A Conferência dos Bispos da França não quis acrescentar outras coisas a um drama do qual não conhecia todos os elementos.

Sobre os preservativos, quando lemos o texto do papa nas nossas reuniões públicas, as pessoas se dão conta de que é um discurso equilibrado. Ele repete que não se resolverá o flagelo da Aids apenas com as campanhas em favor do preservativo. O apelo à fidelidade é compreendido. E foi acolhido favoravelmente na África, pelos bispos mas também por responsáveis civis e políticos. De tudo o que o Papa disse, foi colocada em evidência apenas uma meia frase...

Como os católicos se sentem hoje? O que a Igreja faz para remediar o desconforto?

Não se pode dizer que os cristãos franceses estão desmoralizados. Evidentemente, ouve-se um certo número de pessoas dizendo "Não me sinto bem na minha Igreja". Alguns escrevem para dizer que já estão saturados da Igreja. Muitas vezes, tratam-se de pessoas que já haviam se distanciado da Igreja.

E outros estão muito felizes por ter encontrado a mensagem do Evangelho. O número de batismos de adultos aumenta: passaram de 2.300 para 2.900 entre 2001 e 2009. As polêmicas não colocam em discussão as convicções daqueles que se comprometem. Certos padres estão perturbados, mas todos estão atentos para ajudar os cristãos a entender. Depois da tempestade, vem o momento do diálogo. Não deixamos o Papa sozinho nas dificuldades. Nós, católicos, mostramos a nossa ligação com a Igreja, com a sua mensagem e com o Papa, pois as suas palavras são palavras de razão. São palavras que contam, senão não fariam tanto barulho! Certamente nos provocam, a nós e à sociedade. A Igreja faz refletir.

Na Igreja, alguns também consideram que essas palavras são sempre menos compreensíveis pelas sociedades ocidentais...

Não acredito. A nossa linguagem não é inacessível. Requer escuta, reflexão, discussão e tempo. As nossas palavras não satisfazem sempre o pensamento dominante, mas isso não é novidade! Isso não significa que somos destinados a ser colocados de lado. É uma das vocações da Igreja dizer coisas que não confirmam o pensamento único. Nós não buscamos uma oposição frontal e polêmica, mas a nossa palavra é livre e não nos sentimos obrigados a justificar tudo. A Igreja tem um dever e um direito de contestação. Porém, os católicos não estão na contracultura: pelo contrário, estão comprometidos com a vida da sociedade.

É possível ser católico mesmo criticando o Papa?

O símbolo da unidade que o Papa representa pode se enfraquecer, mas a fé católica não pode viver a sua unidade sem a relação com o Papa. Pode haver irritações passageiras, refutações, mas a unidade da fé não pode ser colocada em discussão. Que certas pessoas estejam desorientadas é possível, mas estou convencido de que a sua fé é maior do que uma desorientação momentânea.

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