Embriões e afins

Interessante reportagem de médico português publicado no Estado de São Paulo e postado no blog Nuvem do não-saber:

Célula embrionária é para fazer bebês, diz neurocirurgião português


Carlos Lima diz que só se faz pesquisa com célula-tronco de embrião porque a adulta não rende patente

Clarissa Thomé escreve para “O Estado de SP”:

O neurocirurgião português Carlos Lima, do Hospital de Egas Moniz, em Lisboa, conhecido por aplicar desde 2001 uma técnica experimental de recuperação de lesão medular baseada no implante de células-tronco retiradas da mucosa olfativa, veio ao Brasil para uma conferência sobre o tema realizada ontem na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Lima é um crítico das pesquisas com células embrionárias. Para ele, não se investe mais em células-tronco adultas porque não se pode patenteá-las. “Querem continuar a gastar tempo, dinheiro e energia, causando sofrimento ao paciente, por uma única razão: célula da mucosa olfativa não tem patente. Do ponto de vista financeiro, não traz benefício.”

Desde o início da pesquisa, 125 pessoas foram operadas e tiveram diferentes graus de recuperação – uma delas, a carioca Camila Magalhães Lima, de 23 anos, tetraplégica desde os 12 por causa de bala perdida.

Camila foi operada por ele em 2006 e diz ter recuperado parte da sensibilidade nos pés e nas costas, além de conseguir dar alguns passos com ajuda de equipamentos. A seguir, trechos da entrevista.

O que deve ser feito após o implante das células-tronco?
– Em lesões medulares crônicas, o cérebro deixa de reconhecer partes do corpo. As células que lembram a existência das pernas, dos braços, vão desaparecer. A complexidade para refazer essas conexões é impressionante. Demora anos. Por isso é preciso fisioterapia.

Como o senhor analisa o estudo com células-tronco embrionárias?
– Se faz pesquisa com elas por uma razão: célula adulta não rende patente. A célula da Camila é dela e foi usada para curar uma lesão que ela tem. Não se pode patentear. Grupos econômicos fazem toda essa publicidade em torno de células embrionárias, que na minha opinião nunca vão funcionar. A natureza não faz células embrionárias para reparar o corpo, mas para fazer bebês. Temos células com essa potencialidade das embrionárias, como as do nariz, que não só fazem neurônio, mas fazem fígado, sangue, pâncreas, mas isso não está na agenda.

O que está na agenda?
–Manipular células, patenteá-las, como se fosse possível mexermos no código da vida impunemente.

Casos como o da Camila surpreendem o senhor?
– Quem não se surpreende com um caso como o dela? Mas hoje ela não poderia ser operada, pelos critérios da pesquisa. Na fase atual, estamos operando doentes completos (sem nenhum movimento abaixo da lesão), crônicos e que possam fazer a reabilitação.
(O Estado de SP, 25/3)

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