Esperantes às avessas ou quem é o messias da vez


Do jornal O Lutador, 1° de maio de 2009


A chegada de Barack Obama ao poder dos Estados Unidos da América mexeu com as expectativas por todos os lados. Considerado pela opinião pública norte-americana, e quiçá do mundo, como um anti-Bush, além de ser mulato e descendente de uma família muçulmana do Quênia, o que traz uma novidade para os EUA, Obama é visto como a encarnação da transformação (vide o slogan utilizado em sua campanha: “We can change!”), das mudanças que, segundo seus entusiastas, construirão um novo Estados Unidos da América e, de quebra, um novo mundo, não mais assinalado pela “prepotência yankee”. A sua chegada, proclamam, ao maior posto político do país mais poderoso da terra é uma “reviravolta histórica”. A esperança, sabemos, é uma das características importantes do homem e aquele que não “espera”, não se projeta na vida e não se confronta com o tempo em sua magnitude. A esperança é a forma pela qual somos empurrados em direção ao futuro, na ânsia de sermos respondidos em nossas exigências primeiras. Contudo, sabemos que também podemos nos enganar profundamente ao assumir uma esperança em alguém, colocando todos os nossos desejos e sonhos centralizados em uma só pessoa, enxergando-a, assim sendo, como “o Messias”, que solucionará todos os problemas e pendengas que nos assolam. E da onde surge o sinal, ou os sinais, no qual nos pode fazer intuir essa hipótese? Da história. Vimos o que tal tipo de esperança desencadeou no mundo do século XX: perseguições, emigrações forçadas, escravização, progoms e assassinatos em massa. A falsa esperança em falsos messias que resolveriam nossas intempéries e nossas mais profundas questões frente ao sentimento de absurdo que sentimos ao nos confrontarmos com a dor e a morte – nossos dois principais problemas – levou-nos ao fundo do abismo desse sentimento ao presenciarmos os momentos mais bárbaros da história humana. Nunca se matou tanto de forma mais rápida e “melhor” do que no século passado. Mussolini, Hitler, Stálin, Mao são seus maiores exemplos. Estes desejavam, e foram acreditados por isso como profetas de um conhecimento superior, o “mundo prometido”, o “fim dos tempos”, a grande mudança que nos levaria à esperada paz beatífica.

Não quero dizer, claro, que Obama represente um perigo tal. Mas é notável, e quem sabe sintomático, descobrir que Barack Obama citou mais de três vezes Joachim di Fiore. Por quê? Segundo Eric Voegelin, em seu A nova ciência da política, Di Fiore, aquele monge europeu do século XIII, trouxe de volta, em sua simbologia, o latente desejo de redivinizar o mundo a partir de uma especulação filosófica sobre o sentido da história. Baseando-se na doutrina da Trindade, Di Fiori "previu" em sua teoria gnóstica que o homem passaria por suas andanças na terra por três fases: a do Pai, a do Filho e a do Espírito Santo. A última, que segundo ele tinha data pra iniciar, lá pelos meados dos 1200, seria aquela na qual o homem chegaria a sua "maioridade", com o fim da instituição eclesiástica, ou seja, a autoridade. O Espírito, "democratizado", tornaria obsoletos e desnecessários o poder e a autoridade, qualquer tipo fosse. Todos estaríamos libertados para sempre num reino imanente de paz, harmonia e felicidade. Para o filósofo austro-americano, com Di Fiore iniciamos a construção simbólica da representação política moderna. O monge teria invertido falaciosamente a lógica da escatologia cristã, organizada por Santo Agostinho em seu monumental Cidade de Deus, no qual desprezava as crenças milenaristas como “fábulas ridículas”. Trazendo para o imanente o que está para acontecer no transcendente, com uma teoria na qual o sentido estava contido em três estágios de desenvolvimento, Di Fiori forneceu os elementos da política moderna. Tal especulação teria sido usada, talvez inconscientemente – Voegelin afirma não compreender como não teriam percebido a falácia – como o pano de fundo no quais pensadores como Marx (comunismo primitivo – sociedade de classes – comunismo) e Comte (idade mítica – idade metafísica – idade positiva), além daqueles que os precederam, como os filósofos Fichte e Hegel, para elaborar os seus sistemas e teorias. A inversão da escatologia cristã constituiu uma filosofia da história que trazia para a esfera do imanente duas características centrais do sentido da história cristã: passaremos pelos “finais dos tempos” (teleologia) e ele será marcado pela vitória do bem (axiologia).

Sabemos, e experimentamos espiritualmente, a luta contínua e diária que é viver em um mundo no qual se mergulha no deserto abismal do nada. Caminhamos – ora combalidos, ora fortalecidos – pelo séquito de incertezas que nos acompanha por toda a nossa vida. Entretanto, entregar-se a toda sorte de milenarismos e messianismos fáceis é cair nas infindáveis teias desse mundo e negar – ou tentar, pois nesse caso só existe a tentativa – nosso caráter efêmero e a inefabilidade do sentido da história e do cosmos. Assim fazendo, confiamo-nos aos profetas dos novos tempos, aqueles “esperantes às avessas, escavadores do nada”, como dizia Léon Bloy.

Bento XVI: do conhecimento à sabedoria

Ao concluir o encontro dos professores de religião promovido pela Conferenza Episcopale Italiana, Bento XVI defendeu que longe de constituir "uma interferência ou limitação da liberdade", o ensino de elementos da doutrina católica nas escolas italianas faz parte da tradição da escola naquele país e "é antes, um válido exemplo daquele espírito positivo de laicidade que permite promover uma convivência civil construtiva, fundada sobre o respeito recíproco e sobre o diálogo leal, valores dos quais um país sempre precisou". Disse ainda: "A dimensão religiosa é intrínseca ao fato cultural, concorre a formação global da pessoa e permite transformar o conhecimento em sabedoria de vida." Confiram em La Stampa La Repubblica Avvenire.

Os lobos dentro da Igreja?

O diretor do L'Osservatore Romano, Giovanii Maria Vian afirma em entrevista para o Corriere della Sera que também vê lobos dentro da Igreja. Fonte iHu.

E quem são os lobos, diretor?

Refiro-me ao que Bento XVI disse na missa do início do pontificado: "Rezem por mim, para que eu não fuja, por medo, diante dos lobos". Às vezes, ele é retratado como puramente teólogo, distante das preocupações das pessoas. E é mentira: ele se apresentou como o bom pastor que ama os homens a ele confiados como Cristo ama. Mas com uma imagem forte. O Papa tem uma visão muito realista dos fatos do mundo. A hostilidade pode ser externa e interna.

Interna?

Menos de um mês antes, nos textos da Via Crucis, o então cardeal Ratzinger tinha exclamado: "Quanta sujeira há na Igreja! Quanta soberba!".

Os lobos também estão na Igreja?

Certamente. E são aqueles que mais o preocupam, os mais perigosos: os que se disfarçam e estão no aprisco. Os extremistas das duas partes que, no caso dos lefebvrianos, não entenderam o seu gesto de misericórdia. Quem chegou a negar a sua amizade com o judaísmo. Quem não compartilha o seu governo gentil e persuasivo. Quem insinuou rachaduras na Cúria, divisões com a secretaria de Estado, ou retratou a imagem de um pontífice isolado. Quem perdeu influência. De fato, na carta aos bispos, Bento XVI relembrou São Paulo e escreveu que, "ainda hoje, na Igreja, existe o morder e o devorar uns aos outros".

E os lobos "externos"?

Há um fechamento, especialmente em uma certa intelligentzia, com relação a um Papa que continua pedindo que se deixe o horizonte aberto ao transcendente, a Deus, partindo da razão como horizonte comum. Sem contar os interesses políticos mesquinhos e os econômicos: as suas denúncias, na África, incomodaram muitos países e multinacionais.

E portanto?

O Papa está sereno. E sabe que as pessoas o amam. Por isso, evocou uma imagem dos Padres: a Igreja como a lua que recebe a luz do sol. Há fases diversas, pode ser obscurecida pela crise, mas depois volta a crescer porque sempre existe: e sempre recebe luz de Cristo.


Mais um, Fernando Lugo?

O presidente do Paraguai, o ex-bispo Fernando Lugo, tá todo e não tá prosa. Depois de assumir que tinha um filho com uma jovem, na época que ainda ocupava o bispado, é novamente acusado, agora, por paternidade de criança de 6 anos.

Ratzinger defende Catecismo de São Pio X

O site italiano de estudo e oração maranatha.it oferece o famoso Catecismo maior de São Pio X para consultas. Segundo Rodari, Razinger, em uma entrevista em 2003, defendeu o valor intrínseco da obra: "A fé como tal é sempre idêntica. Assim, mesmo o catecismo de São Pio X conserva sempre o seu valor. Pode mudar, em vez, o modo de transmitir os conteúdos da fé. E assim pode se perguntar se o Catecismo de São Pio X pode , nesse sentido, ser considerado ainda válido hoje [...] Não devemos esquecer que o Catecismo derivava de um texto que foi preparado pelo mesmo papa quando era bispo de Mantova. Tratava-se de um texto fruto da experiência catequética pessoal de Giuseppe Sarto e que tinha as características de simplicidade de exposição e profundidade de conteúdo. Mesmo por isso o Catecismo de São Pio X poderá ter ainda no futuro, dos amigos...".

Termos das discussões entre Roma e a FSSPX

O Fratres in Unum afirma, a partir do blog de Richard Willianson, que os termos das futuras discussões entre a FSSPX e o Vaticano estão estipulados. Segundo a notícia, a negociação dar-se-á por escrito e não será pública.

4 anos de Bento XVI

Há quatro anos Joseph Ratzinger era elevado ao papado. O primeiro papa do século XX e do novo milênio. Nesse tempo, Bento XVI deixou claro algumas de suas metas: mostrar a luz de Cristo a todos os povos e tentar uma reconciliação no seio da Igreja. Os últimos meses desse quarto ano de pontificado foram os mais difícieis para ele. Parace que na homilia proferida em sua primiera missa como papa já previa o que viria pela frente. Dizia:"Rezai por mim, para que eu não fuja, por medo, dos lobos". E não faltaram os lobos. O movimento para desacreditá-lo e desligitimar todos os seus atos e falas foi constante nos últimos tempos. Qualquer palavra que proferia, em diversos contextos, era instrumentalizada e utilizada contra ele mesmo. Há muito tempo não se via tanto vociferar contra um papa. Seu projeto de restabelecer um equilíbrio no seio da Igreja, visando aliviar a crise pela qual passa desde o final do Concílio Vaticano II, com a emergência e consolidação de uma hermenêutica de ruptura do evento conciliar, fez com que rapidamente, aqueles "vencedores do concílio" se mexessem a fim de evitar qualquer dano às posições que alcançaram. Ratzinger sabe que a crise advém, em parte, dessa hermenêutica e muitos dos caminhos que escolheu seguir em seu governo vieram diretamente de encontro com essa interpretação, que de hegemônica em 40 anos de pós-concílio, passa a sofrer seus primeiros abalos.

"Instrumentalização simplista e apressada"

A ministra do interior da França, Michèlle Alliot-Marie, por ocasião da Páscoa, enviou uma carta à Conferência Episcopal Francesa, na qual faz um crítica à avalanche de incompreensões e ataques que se lançaram sobre Bento XVI nos últimos meses. Segundo ela, "La parole de Sa Sainteté le Pape Benoît XVI ­mérite d'être restituée dans sa complexité, face aux présentations parfois hâtives et abusivement simplificatrices qui l'entourent (…)". No Le Figaro.

Bégica protesta oficialmente contra Bento XVI

O Vaticano, através de uma nota da Secretaria do Estado, repudia a aprovação do parlamento belga de uma resolução para que o governo proteste oficialmente contra as declarações de Bento XVI sobre os preservativos em sua visita à África. Alguns jornais de hoje trazem a notícia: Corriere e La Repubblica. O texto da Secretaria encontra-se aqui em inglês e francês. Abaixo segue em italiano.

"L’Ambasciatore del Regno del Belgio, dietro istruzioni del Ministro degli Affari Esteri, ha fatto parte all’Ecc.mo Mons. Segretario per i Rapporti con gli Stati della Risoluzione con cui la Camera dei Rappresentanti del proprio Paese ha chiesto al governo belga di "condannare le dichiarazioni inaccettabili del Papa in occasione del suo viaggio in Africa e di protestare ufficialmente presso la Santa Sede". L’incontro si è svolto il 15 aprile c.m.

La Segretaria di Stato prende atto con rammarico di tale passo, inconsueto nelle relazioni diplomatiche tra la Santa Sede e il Regno del Belgio. Deplora che una Assemblea Parlamentare abbia creduto opportuno di criticare il Santo Padre, sulla base di un estratto d’intervista troncato e isolato dal contesto, che è stato usato da alcuni gruppi con un chiaro intento intimidatorio, quasi a dissuadere il Papa dall’esprimersi in merito ad alcuni temi, la cui rilevanza morale è ovvia, e di insegnare la dottrina della Chiesa.

Come si sa, il Santo Padre, rispondendo ad una domanda circa l’efficacia e il carattere realista delle posizioni della Chiesa in materia di lotta all’AIDS, ha dichiarato che la soluzione è da ricercare in due direzioni: da una parte nell’umanizzazione della sessualità e, dall’altra, in una autentica amicizia e disponibilità nei confronti delle persone sofferenti, sottolineando anche l’impegno della Chiesa in ambedue gli ambiti. Senza tale dimensione morale ed educativa la battaglia contro l’AIDS non sarà vinta.

Mentre, in alcuni Paesi d’Europa, si scatenava una campagna mediatica senza precedenti sul valore preponderante, per non dire esclusivo, del profilattico nella lotta contro l’AIDS, è confortante costatare che le considerazioni di ordine morale sviluppate dal Santo Padre sono state capite e apprezzate, in particolare dagli africani e dai veri amici dell’Africa, nonché da alcuni membri della comunità scientifica. Come si può leggere in una recente dichiarazione della Conferenza Episcopale Regionale dell’Africa dell’Ovest (CERAO): "Siamo grati per il messaggio di speranza che [il Santo Padre] è venuto ad affidarci in Camerun e in Angola. E’venuto ad incoraggiarci a vivere uniti, riconciliati nella giustizia e la pace, affinché la Chiesa in Africa sia lei stessa una fiamma ardente di speranza per la vita di tutto il continente. E lo ringraziamo per aver riproposto a tutti, con sfumatura, chiarezza e acume, l’insegnamento comune della Chiesa in materia di pastorale dei malati di AIDS"."

Obras sobre maçonaria na web

Surpreendente este site no qual possibilita o acesso a um certo tipo de literatura que dominou a primeira metade do século XX e que, com certeza, influenciou muitos padres, principalmente, a que se notar, aqueles que com Lefebvre vão organizar a minoria conciliar e seus futuros seguidores. O tema é a maçonaria e sua possível influência mundial. A interpretação destes textos deve ser cuidadosa, a fim de que seja inserido devidamente em seu contexto hermenêutico.

Cientistas a favor de Bento XVI

O jornal Le Monde do último dia 11 traz uma réplica a carta aberta escrita por vários cientistas da França criticando as posições tomadas por Bento XVI sobre o preservativo e sua eficácia. Tony Anatrella, Michele Barbato, Jokin de Irala, René Ecochard e Dany Sauvage a escreveram defendendo a posição do papa. Segue abaixo a tradução do iHu.

Uma resposta aos autores da carta ao Papa sobre a prevenção da Aids

Com a leitura da carta endereçada por vocês a Bento XVI, no Le Monde do dia 25 de março, nós nos perguntamos se ainda é possível refletir sobre o sentido da sexualidade humana, dos comportamentos e dos modelos sexuais que uma sociedade gera, sem que rapidamente nos ordenem que nos calemos, em nome de uma visão puramente tecnológica sobre o assunto e que, de resto, não leva em consideração todos os estudos epidemiológicos.

Hoje, na imprensa, discute-se e focaliza-se sobre um grupo de palavras pronunciadas por Bento XVI: "(...) o que pode aumentar o problema". Para o Papa, não se trata de examinar os eventuais danos do objeto profilático por meio de rupturas ou de mau usos, nem de evocar a sua resistência e a hipótese da sua porosidade.

O problema não se refere a esse aspecto, que deve continuar sendo tratado pelos laboratórios de fabricação e pelos médicos. Mas ele não é a medida preventiva mais eficaz. Com efeito, em muitos países africanos, a proporção das pessoas portadoras do vírus é muito elevada para que a epidemia seja contida somente pelo preservativo.

Muitos epidemiologistas que trabalham no campo da luta contra a epidemia do HIV na África se assombram com a falta de informação que as posições contra a declaração do Papa revelam. Por exemplo, Edward Green, diretor do APRP (Aids Prevention Research Project) da universidade de Harvard, disse durante uma entrevista falando da África: "Teoricamente, o preservativo deveria funcionar, e, teoricamente, uma utilização do preservativo deveria levar a melhores resultados com relação à não utilização. Mas isso é teórico... Nós não encontramos uma relação entre uma utilização mais frequente do preservativo e uma redução das taxas de contaminação pelo HIV" ("Harvard Researcher Agrees with Pope on Condoms in África", Catholic News Agency, março de 2009).

Não há nenhum país com uma epidemia generalizada que tenha conseguido diminuir a proporção da população infectada pelo HIV graças às campanhas centradas só na utilização do preservativo. Os casos de diminuição de transmissão do HIV publicados na literatura científica estão associados à prática da "abstinência" e da "fidelidade" além do preservativo, na tríade ABC, abstinência (A), fidelidade (B, para "be faithful", em inglês, seja fiel) e a utilização do preservativo (C, para "condom").

Em outros termos, só os programas que recomendaram seriamente o adiamento da atividade sexual dos jovens e a monogamia recíproca (o que os cristãos chamam de fidelidade) foram coroados com sucesso. É o que ilustrou o famoso estudo referente à Uganda ("Population-Level HIV Declines and Behavioral Risk Avoidance in Uganda", Rand L. Stoneburner e Daniel Low-Beer, Science, 30-04-2004; "Reassessing HIV Prevention", M. Potts, D. Halperin e al. Science, 09-05-2008).

Os únicos países que conseguiram diminuir a prevalência são os que introduziram o A e o B em todos os setores da sociedade, da escola, das empresas, da universidade, da imprensa, das igrejas ("The Time Has Come for Common Ground on Preventing Sexual Transmission of HIV", D. Halperin, M.J. Steiner, M.M. Cassell, E.C. Green, N. Hearst, D. Kirby, H.D. Gayle, W. Cates, Lancet, novembro-dezembro de 2004).

A Igreja católica propõe o A e o B desde sempre. Os especialistas da epidemiologia destacam que a abstinência e a fidelidade evitaram, até hoje, seis milhões de mortes na África.

O Papa indica que "podemos agravar o problema" da Aids se os programas de prevenção se apoiarem somente no preservativo. Esse também é o estado do conhecimento em matéria de saúde pública e de epidemiologia. Os programas de prevenção centrados no preservativo dão uma mensagem inadequada à população em geral e particularmente aos jovens. Eles veiculam a mensagem: "Tudo o que vocês fizerem com o sexo está em completa segurança, sem riscos, desde que utilizem o preservativo".

O que é falso. Com efeito, esse tipo de campanha leva geralmente a um fenômeno de compensação dos riscos. Se as pessoas se sentem com 100% de segurança desde que usem os preservativos, elas têm a tendência de correr maiores riscos. Por exemplos, os jovens que ainda não tiveram relações sexuais começam a ter, ou aqueles que mantêm relações sexuais começam a ter mais parceiros – exatamente daquilo que o HIV precisa para se propagar.

Esse fenômeno de compensação foi amplamente descrito na literatura científica. Estudos foram realizados particularmente com amostras representativas da juventude nas Filipinas, em El Salvador ou também na Espanha. Em cada um dos casos, os jovens que acreditam que os preservativos são 100% eficazes têm a tendência de ter relações sexuais mais cedo, um fenômeno clássico de compensação dos riscos.

O discurso do Papa é realista e justo: nos interroga sobre uma visão da prevenção limitada só ao preservativo. Adota um ponto de vista antropológico e moral, compreensível por todos, para criticar uma orientação unicamente tecnológica que, sozinha, não é capaz de controlar a pandemia, como a ONU também mostrou. No espaço de 25 anos, essas campanas centradas no preservativo não conseguiram reduzir a pandemia. Compreende-se o discurso exclusivamente tecnológico se a escolha é rejeitar a abstinência e a fidelidade.

Porém, uma atitude diferente deve ser igualmente proposta, que faça maior apelo ao sentido da consciência humana e da responsabilidade: na realidade, trata-se de um percurso pedagógico que faça referência ao sentido dos comportamentos sexuais. Mas essa perspectiva, damo-nos conta, dificilmente é levada em consideração hoje no discurso social ligado a um pensamento pragmático. O preservativo tornou-se uma espécie de tabu não criticável, um fetiche que, curiosamente, deveria participar da definição da sexualidade. Não é um modo cínico de mascarar as interrogações? Devemos chegar à ideia de que o preservativo protege de tudo, até do pensamento?

Refletir sobre os comportamentos sexuais torna-se penoso a tal ponto que provoca a ira de muitos militantes e ideólogos da questão. Nesse sentido, as declarações do Papa não são "regressivas": ao contrário, nos levam para fora da regressão e nos convidam a nos confrontar com os fatos e com as questões em jogo.

O Papa fala dos homens e da sua vida. O que a imprensa europeia não diz, os africanos souberam escutar durante a sua viagem. Os africanos denunciam a parcialidade da imprensa ocidental, afirmando que, uma vez mais, eles estão enganados com relação à sua história, aos seus recursos e à sua vida, invadindo-os com uma ideologia comportamental que revoltam as suas culturas. Existem atitudes morais que humanizam a expressão sexual. O preservativo, como meio de prevenção na luta contra a Aids, não é um princípio de vida, nem um modo de personalizar e de humanizar a sexualidade, nem mesmo o único objetivo da prevenção. Quando não se apresenta um caminho de educação ao sentido da responsabilidade, da sexualidade vivida no respeito de si e do outro e no sentido do compromisso e da fidelidade. O excesso de desregulação financeira nos leva a um impasse. O que resultará de um abandono das referências morais da sexualidade?

Site: visita do papa à Terra Santa

Está no ar o site oficial do Ministério do Turismo de Israel sobre a visita do papa à Terra Santa no próximo mês.

Vaticano III? Não.

Mais um com o velho papo de um Concílio Vaticano III. Nada como aquele famoso ditado: "A pressa é inimiga da perfeição". Sabemos que a Igreja é luz da Eternidade na terra. Como Corpo Místico de Cristo não tem arranhão. Como instituição social, como gostariam os sociólogos, é falha, pois os homens são falhos. Isso é claro. Sabemos também que cada época tem os seus sinais, que a Igreja deve ler, interpretar e posicionar-se frente a eles para dar testemunho de Cristo. Fato. Por outro lado, os apressadinhos, que nem bem digeriram o Vaticano II e sua gama de positivas possibilidades - além dos muitos problemas surgidos de interpretações equívocas - evocam um Vaticano III. Pra quê? Claro, ordenações femininas, liberar os padres para que possam se casar, entre outros desejos que vem em encontro da opinião pública mundial. A bendita unanimidade. Vesga, por sinal. Quem são os porta-vozes dessa idéia? Alguns intelectuais. O iHu fala em sua chamada, referindo à matéria do Le Monde: "Um Concílio Vaticano III se impôe, dizem intelectuais". Mas que mania essa dos intelectuais saberem o que a Igreja deve ou não fazer! Tudo bem fazer uma análise conjuntural, analisar posicionamentos e tal, mas essa de dizer o que uma das instituições mais antigas do mundo deva ou não fazer é demais pra mim. Vejam que um desses "intelectuais" é um advogado, Jean-Pierre Mignard... Com todo o respeito, os seus desejos são apenas desejos de um leigo, que pode ter as melhores das intenções, mas não passa disso. Não tem autoridade alguma para propor seja lá o que for. "O mundo muda", diriam. Sim, a cada segundo. É bom relembrarmos que quando o Vaticano II acabou, em 1965, o mundo já era outro, diferente daquele de 1959, quando anunciado por João XXIII. As mudanças aprofundaram-se ainda mais depois de alguns anos de seu encerramento, em 1968, com o advento da pílula, o "é proibido proibir", o "sexo, drogas e rock n' roll". Acontece que um concílio é coisa séria. Não é uma reuniãozinha qualquer. A sua realização visa resolver alguns problemas, por outro lado, levanta contendas e aprofunda as já existentes. O Vaticano II ainda está em fase de recepção e não podemos ir passando em cima de algo que ainda está nascendo. São 40 anos de crise, aprofundada por uma luta interna de hemenêuticas que em teoria são diferentes, mas que no fundo partem de um mesmo ponto: a ruptura. A necessidade parece ser, não um passo apressado em direção a um outro concílio, mas sim uma recepção fiel do Vaticano II.

Fernando Lugo e seu caso extra-bispado

Como se não faltassem turbulências pelas quais a Igreja Católica passa, surge mais um escândalo: o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, teve um filho com uma jovem quando ainda era bispo. Segundo matéria da Folha de hoje, Lugo havia iniciado um relacionamento com Viviana Carrilo quando ela tinha apenas seus 16 anos. Seu filho faz aniversário no próximo 4 de maio.

Caroline Kennedy: Santa Sé não aceita seu nome

Caroline Kennedy é o nome sugerido para ocupar a cadeira da representação diplomática dos EUA na Santa Sé. Segundo as más línguas, aqui e aqui, a terceira proposta de um nome para o cargo, a de Caroline, será negado pela Vaticano. Suas posições pró-aborto são conhecidas, o que não agrada nem um pouco, como é de se esperar, Bento XVI e seus representantes. Esse é mais um dos capítulos, que se repetirão daqui pra frente, das conturbadas relações entre o Vaticano e o governo Obama.

Preservativo e profilaxia

Em matéria do Le Figaro, Jean-Marie Guénois, seu enviado especial à Roma, faz uma análise dos "caminhos da cruz" de Bento XVI. Guénois defende a tese de que é a primeira vez que Roma fala no preservativo como método de profilático contra a aids. O reporter sustenta a tese a partir de um texto publicado no L'osservatore Romano em 22 de março, no qual traz um estudo sobre como a Uganda está progredindo no combate à doença. O relato da Santa Sé da experiência do país africano aponta os três elementos que sustentam o relativo sucesso da experiência ugandense: fidelidade, queda de relações sexuais precoces e preservativo para alguns grupos (prostitutas, homossexuais e usuários de drogas). Segundo Guénois, o artigo recebeu antes de ser publicado o aval da Congregação para a Doutrina da Fé.

Nova catedral em Belo Horizonte

D. Walmor de Oliveira, arcebispo de Belo Horizonte, anunciou na quinta-feira santa a construção de uma nova catedral para a capital mineira. Com projeto de Oscar Niemeyer, ela comportará 5 mil pessoas.

Feliz Páscoa!

Missas em latim

Em São Paulo, padres celebram missas em latim. Um vídeo corre pela Folha online com palavras do padre Jonas dos Santos Lisboa, um de seus entusiastas, e imagens de uma das missas.

"Mas se vos mordeis..."

Do Jornal O Lutador (11/04/2009)


“Mas se vos mordeis e devorais uns aos outros...”


Mais um capítulo delineou-se na trajetória dos fatos iniciados com o levantamento das excomunhões dos bispos lefebvrianos em janeiro passado. No último dia 12 de março, Bento XVI, numa atitude nada usual, escreveu uma carta aberta para os bispos da Igreja Católica de todo o mundo visando colocar os pontos nos “is” e tentar encerrar as polêmicas. Como sabemos, e já tratei mais de uma vez nessa coluna, a atitude do papa levantou protestos contrários a seu ato por toda a orbi, não só católica, mas também, e principalmente, entre o povo judeu e alguns de seus representantes religiosos. Marcado por incompreensões e instrumentalização ideológica por determinados grupos, de um dos atos que podem ser dos mais importantes do pontificado de Joseph Ratzinger, Bento XVI decidiu escrever uma carta para todos os bispos a fim de eliminar de uma vez por todas as contendas que se iniciaram e se aprofundaram frente ao levantamento das excomunhões.

Citando Gálatas 5, 13-15, Bento XVI deixa uma das mensagens principais de seu texto aos bispos: hoje, na Igreja, é preciso tomar cuidado para que os católicos não nos devoremos mutuamente. O papa chama atenção assim para os perigos do aprofundamento das divisões. A preocupação frente aos desdobramentos do levantamento das excomunhões soma-se ao tom angustiado em que Ratzinger fala aos bispos. Alguns pontos são interessantes de chamar atenção. Dois de caráter prático e um de caráter teórico, vamos assim dizer. O primeiro: o pontífice fala da centralidade da internet como meio de comunicação. Se os responsáveis pela aproximação com os lefebvrianos tivessem recorrido ao meio de comunicação com mais profundidade e vigor teriam chegado às posições negacionistas de Richard Willianson. Afirma: “Disseram-me que o acompanhar com atenção as notícias ao nosso alcance na internet teria permitido chegar tempestivamente ao conhecimento do problema. Fica-me a lição de que, para o futuro, na Santa Sé deveremos prestar mais atenção a esta fonte de notícias.” O outro ponto prático é a intenção de Bento XVI unir a Comissão Pontifícia «Ecclesia Dei» - presidida pelo cardeal Dario Castrillón Hoyos, responsável pelo diálogo com os tradicionalistas, à Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, chefiada atualmente pelo cardeal Willian Levada. A questão dos lefebvrianos é vista, assim, como discussão doutrinal que deve ser resolvida por este dicastério. E qual é esse problema: a aceitação do Concílio Vaticano II e o magistério pós-conciliar dos papas, profundamente criticados pela Fraternidade São Pio X. Tal questão prática liga-se estritamente ao ponto teórico. Bento XVI avisa: “Não se pode congelar a autoridade magisterial da Igreja no ano de 1962: isto deve ser bem claro para a Fraternidade.” Isto é, defender que as decisões do magistério eclesiástico são legítimas até Pio XII, o último papa antes do Vaticano II, não é correto e não pode ser aceito. (Apenas uma informação como nota: existem aqueles, também tradicionalistas, que afirmam que a Sé papal não está ocupada desde a morte de Pio XII, referindo-se aos papas posteriores como “anti-papas”, pois assumindo os ensinamentos do concílio teriam negado a fé verdadeira. São conhecidos como sedevacantistas.) Por outro lado, Bento XVI insiste na idéia que marca seu pontificado. Afirma: “Mas, a alguns daqueles que se destacam como grandes defensores do Concílio, deve também ser lembrado que o Vaticano II traz consigo toda a história doutrinal da Igreja. Quem quiser ser obediente ao Concílio, deve aceitar a fé professada no decurso dos séculos e não pode cortar as raízes de que vive a árvore.” Mais uma vez o papa deixa claro suas intenções: não voltar para antes do concílio, o que seria por si só irrealizável, mas entendê-lo inserido numa tradição viva, que caminha rumo ao encontro dAquele de que faz referência a dois mil anos.

"Be Love" contra-ataca

Algumas empresas de preservativos contra-atacam as palavras pronunciadas por Bento XVI em vista de sua passagem pela África. Eis uma das propagandas veiculadas pelo grupo Antoine Associés, que produzem e vendem os preservativos Be Love. Segundo o texto da UNITAS, a peça publicitária demonstra centenas de cupidos "atacando" as palavras do papa, pois "é preciso proteger os mercados africanos e europeus". Aliás, afirma UNITAS, Be Love é apoiada pelo ministério da saúde de Roselyne Bachelot. Assim sendo, organizam uma reação à empresa, já que "insultar Bento XVI por razões puramente comerciais é escandaloso e profundamente ofensivo para milhões de católicos." Veja aqui os números milionários do Antoine Associés.

Blair e o catolicismo

Parece que aquele boato de que Tony Blair estaria se convertendo ao catolicismo foi por água abaixo. Pelo menos é o que se pode concluir com algumas palavras de Damian Thompson e com reportagem do Times.

Fotos ActHope 4 avril




Os jovens do ActHope fizeram o planejado protesto contra o laicismo na frente da Notre Dame no dia 4 de abril. Acima o cartaz que alguns seguravam e duas fotos que Fréderic d'Órval, o porta-voz do grupo, postou em seu facebook.

Batista Re no alvo de Octavio Ruiz

Haja vista toda a polêmica em torno dos lefebvrianos, das dezenas de perguntas sobre de quem foi a culpa do tamanho rebuliço surgido após o levantamento das excomunhões, mais uma palavrinha que pode lançar mais perguntas. Octavio Ruiz (arcebispo colombiano e também secretário da Comissão para Assuntos Latino-Americanos), em entrevista ao jornal El Tiempo "assegurou que ele não foi o culpado pelo escândalo dos bispos lefebvrianos, que a revogação da excomunhão não foi uma decisão sua, mas sim colegiada, que o porta-voz do Papa foi imprudente ao indicá-lo e que depois se desculpou por meio de uma carta, e que quem realmente tinha que saber se um desses bispos negava o genocídio da II Guerra Mundial era o Prefeito para os Bispos, o cardeal Giovanni Batista Re."
Fonte iHu

Protege mi vida!


Esse é o cartaz que a Conferência Episcopal da Espanha espalhou por toda a cidade a fim de fazer frente no debate público sobre o aborto no país. Dando mais uma apimentada na polêmica, María Teresa Fernández de la Vega, vice-presidente do governo, defendeu ante o cardeal Bertone, a reforma da lei do aborto, que a amplia.

Judeus salvos por católicos: fundação busca testemunhos

Por ocasioão da visita de Bento XVI à Terra Santa a Fundação Internacional Raoul Wallenberg faz um apelo internacional para obter testemunho de judeus salvos por católicos na Segunda Grande Guerra. Abaixo alguns contatos da Fundação para aqueles que têm alguma coisa a falar:

E-mail - dannyrainer@irwf.org
Telefone: + 1 212 7373275 (Nova York), + 54 11 4382 7282 (Buenos Aires), + 972 2 62579916 (Jerusalém).

"Playmo-bibel"


Muito interessante e, vamos dizer, "pastoral", as cenas bíblicas contruídas com Playmobil pelo padre Markus Bomhard. Elogiado até por Bento XVI, Bomhard será processado pela empresa que fabrica os bonecos. O motivo no G1.

Bento XVI e a SIDA

Eis as palavras de Bento XVI que causaram tanta incompreensão pelo mundo afora.

ActHope


O grupo da ActHope, aquele que tentou impedir a manifestação do ActUp em Paris contra Bento XVI disponibilizou na internet para seus "militantes" o que traziam como mensagem.

Por sinal, amanhã estarão novamente se reunindo em um ato pacífico. Aí vai o aviso que está girando pela web:


Demain Samedi 4 Avril à 15H, manifestation pacifique devant Notre Dame de Paris en soutien à notre Saint Père. Tous les réseaux catholiques seront mobilisés et unis pour défendre nos convictions et nos valeurs. Nous constituerons un cordon humain devant la Cathédrale pour défendre symboliquement notre lieu de culte.
De nombreux médias seront présents pour relayer notre message.
ACT'HOPE
Geoffroy de Varenne
Frédéric d'Orval
Sophie Marin.


A "leggenda nera" de Pio XII em xeque


Mais um livro contestando a imagem de Pio XII como "o papa de Hitler" é editado: In defesa di Pio XII. Le ragioni della storia, organizado por G. M. Vian (Marsilio editrice). Composto de vários artigos, o livro traz entre seus escritores estudiosos de vários matrizes culturais, inclusive dois judeus. Segundo Magister, a "leggenda nera" sobre Pio XII teve seu ápice nos anos 1960 e iniciou-se já no início do pontificado de Pacelli, em 1939, com críticas dos "católicos-sociais" Emmanuel Mounier e Jacques Maritain. No pós-guerra, quem fez o papel propagador da imagem negativa de Pio XII foi a URSS. Ocorre um esforço enorme para se chegar à verdade sobre este papado. É o que todos desejamos. Melhor, nem todos...

Vattimo: "o cristianismo nos deixa como herança precisamente o liberalismo e a laicidade"


Gianni Vattimo: Liberdade. Uma herança do cristianismo


Em entrevista concedida por e-mail para a IHU On-Line, o filósofo italiano Gianni Vattimo fala sobre a necessidade da religião para uma sociedade laica e liberal e afirma que “sociedade liberal e sociedade laica são resultados de uma pertença religiosa da qual nos libertamos aos poucos, conservando, no entanto, muitos traços dela, que constituem seu sustento”.


Em entrevista concedida por e-mail para a IHU On-Line, o filósofo italiano Gianni Vattimo afirma que “sociedade liberal e sociedade laica são resultados de uma pertença religiosa da qual nos libertamos aos poucos, conservando, no entanto, muitos traços dela, que constituem seu sustento”. Ao defender a importância da liberdade e de sua relação com a Igreja, ele declara que “o cristianismo nos deixa como herança precisamente o liberalismo e a laicidade; trair estes valores, como frequentemente fazem as igrejas, significa trair a própria religiosidade”. E completa: “Eu sinto como dever cristão ajudar a Igreja a se libertar destes resíduos de poder temporal e a se tornar uma verdadeira defensora da liberdade”.

Estudioso do pensamento de Nietzsche, Heidegger e Gadamer, Vattimo é conhecido como o mentor do "pensamento fraco". De sua produção intelectual, destacamos, Credere di credere (Milano: Garzanti, 1996), O fim da modernidade: niilismo e hermenêutica na cultura pós-moderna (São Paulo: Martins Fontes, 1996) e Depois da cristandade. Por um cristianismo não religioso (São Paulo: Record, 2004).

Gianni Vattimo estará na Unisinos no próximo dia 15 de setembro, quando irá ministrar a conferência “A narrativa de Deus na sociedade pós-metafísica. Possibilidades e impossibilidades”, durante o Simpósio Internacional Narrar Deus numa sociedade pós-metafísica. Possibilidades e impossibilidades, promovido pelo IHU.

IHU On-Line - O senhor defende um espírito religioso na história e argumenta que sem isto não existe uma verdadeira república. Por que e em que sentido a religião se torna importante para garantir a existência de uma sociedade laica e liberal?

Gianni Vattimo - Convenço-me sempre mais de que, no espírito religioso, há um componente de “nostalgia”, como quando se festeja o Natal, recordando a nossa infância, as orações aprendidas da voz da mamãe. A religiosidade é sempre, em certo sentido, uma “origem”, um passado que nos marca, como um patrimônio do qual vivemos consumindo-o, transformando-o, secularizando-o. Este passado serve para construir uma sociedade liberal? Direi que sim. Como escreve Nietzsche: “ainda é preciso ter sido religioso...”; sociedade liberal e sociedade laica são resultados de uma pertença religiosa da qual nos libertamos aos poucos, conservando, no entanto, muitos traços dela, que constituem seu sustento. É preciso ter uma religião ou uma família para trair, para poder ser verdadeiramente livre. É como se cada um de nós devesse, para tornar-se liberal, retraçar em si a história da secularização: ontogênese que repete a filogênese, ou como a Fenomenologia do espírito, de Hegel...

IHU On-Line - Quanto ao espírito religioso, quais são os ensinamentos que ele oferece à sociedade ocidental? Como pode contribuir para uma ética na política?

Gianni Vattimo - Não creio que se possa falar do espírito religioso em abstrato. Só posso falar dele em referência à minha – nossa – herança religiosa: cristianismo, judaísmo etc. É verdade que, na religiosidade, como a aprendemos do Cristianismo, há aquilo que Schleiermacher chamava de “o puro sentimento da dependência” – sou criatura, provenho de, não me criei por mim... Será este um traço universal da religião? Não estou seguro de que posso afirmar isso. Por exemplo, o sentido do sagrado, como o descreve Rudolf Otto (numinosum, fascinans, tremendum), já me parece um tanto diferente. Se eu penso no cristianismo e em suas origens judaicas, direi que o que a nossa religião tem a ensinar à política é o espírito de caridade, ou também o que Schopenhauer chamava de altruísmo, a vitória sobre a vontade de sobrevivência a todo custo etc.

IHU On-Line - Sobre questões polêmicas como a pena de morte, o aborto e a eutanásia, por exemplo, Estado, Igreja e diversas religiões entram em conflito devido a ideologias opostas. Neste sentido, como deve prosseguir a relação entre Estado, Igreja e religiões? Como garantir a liberdade em momentos de conflito?

Gianni Vattimo – Precisamente, o liberalismo que herdamos da secularização cristã oferece uma guia neste caso: o valor da pessoa humana (também os cabelos de vossa cabeça estão contados, diz Jesus...) é a liberdade. Não há “verdade” objetiva ou valor supremo que esteja acima disto (Que dará o homem em troca da alma – ou seja, de sua liberdade?). O Estado deve funcionar segundo leis que tenham o consenso exclusivamente em sua base – e, naturalmente, isto é sempre um efeito a ser ainda aperfeiçoado, pois todos nascemos numa ordem social já dada que, no entanto, devemos ter o direito e os modos de modificar, reconstruir, por em discussão. Uma Igreja é a comunidade dos crentes que se reúnem para rezar e exercitar de todas as formas o amor de Deus e do próximo. Como cidadãos, agirão na política segundo aquilo em que creem. Mas, pelo mesmo respeito à liberdade que devem ter aprendido de seu patrimônio cristão, eles respeitarão esta liberdade de todos. O cristianismo nos deixa como herança precisamente o liberalismo e a laicidade; trair estes valores, como frequentemente fazem as igrejas, significa trair a própria religiosidade.

IHU On-Line - O que deveria fazer parte da relação entre Estado e Igreja? Como estas instituições podem ajudar no sentido de construir uma sociedade mais solidária e ética?

Gianni Vattimo - Estado e Igreja não são duas essências estáticas, são instituições históricas que mudam e se transformam. Hoje, em geral, no mundo cristão-ocidental, a relação tende a se configurar frequentemente como um conflito: a Igreja (falo também e, sobretudo, da italiana) exercitou na história da Europa e do Ocidente um poder também temporal que tinha suas razões (a queda do Império romano, a necessidade de certa autoridade estável), as quais hoje são obstáculos à liberdade. Eu sinto como dever cristão ajudar a Igreja a se libertar destes resíduos de poder temporal e a se tornar uma verdadeira defensora da liberdade.

IHU On-Line - Por que, a seu ver, independente de religiões ou crenças, a humanidade carece de ações de caridade?

Gianni Vattimo - Entrará aí o “pecado original”? Eu tendo a identificar o mal com o domínio, a vontade de opressão, o instinto da posse, que parecem depender da vontade de conservar-se e intensificar a própria vida. A ideia de que haja uma vida além da morte, ou, de certo modo, um sentido da história que não se identifica com a minha existência individual no mundo, deve funcionar como um limite à violência. A humanidade, como a conheço, é assim, não sei se dependeria do pecado de Adão (mas, também este, de onde vinha?). O que posso fazer é procurar limitar, em mim e no mundo, a violência que se exerce por toda parte.

IHU On-Line - Se cada ser humano tem uma percepção pessoal sua sobre vida, morte, moral, costumes, que leis devem reger este Estado laico? Na prática, é possível separar domínio público e domínio privado? Como garantir a dignidade humana de escolha?

Gianni Vattimo - Também aqui não creio que haja soluções universais. Há jogos de forças históricas, que deveriam se voltar para o respeito da liberdade de escolha de cada um, a fim de que esta não lese a igual liberdade de todos. Liberalismo, mais uma vez, com a consciência de que não existe jamais, estaticamente, uma ordem da liberdade, pois ela é sempre de novo conquistada. A existência, como ensinava Heidegger, é sempre projeto, jamais conservação de uma ordem ideal.

IHU On-Line - Também se muitos percebem o secularismo (ou a secularidade) como uma oportunidade a fim de que a religião volte a viver no coração dos homens, e não como um trabalho anti-religioso, como o senhor percebe o diálogo entre os cristãos e esta pluralidade de religiões?

Gianni Vattimo - Creio que o encontro com outras religiões, como com outras visões filosóficas do mundo ou outras morais, me constrinja utilmente a tomar consciência da finitude de minha colocação histórica. Posso ser sinceramente crente e sinceramente relativista? Creio que sim, e até creio dever sê-lo. Estou sempre disponível a ser desmentido. Naturalmente, para resistir nesta condição, devo ser aquilo que Nietzsche chamava de “um super-homem”, mas Jesus o chamaria somente de um homem caritativo, que mantém a porta de sua casa aberta a todos.

Reflexos de Nínive


Estava pensando ontem sobre minhas mazelas, já que estamos na Quaresma. Não deixo de fazer isso recorrentemente, mas dessa vez, ao abrir a Bíblia em alguma página para leitura meditativa caí no livro de Naum, no qual narra a queda de Nínive:

"Todas as tuas fortalezas são figueiras,
carregadas de figos maduros;
à menor sacudida caem
numa boca voraz.
Olha tuas tropas:
só há mulheres em teu meio
As portas de tuas terras estão escancaradas
para teus inimigos:
o fogo devorou tuas trancas.
Tira água para o assédio, reforça tua defesa,
vai pela lama, rebolca-te no barro,
segura o molde de tijolos!
É aí que o fogo te devorará,
que a espada te eliminará; - como gafanhotos,
te devorarão" (3, 12)

As palavras de Naum parecem ser destinadas não só aqueles habitantes de Nínive, mas a todos os homens de todos os tempos, pois, cada qual em seu tempo e lugar, temos por esta cidade a natalidade de nossa fraqueza em repelir o mal. Nossas quedas constantes. O mal se manifesta a todos, e às vezes somo nós mesmos seus instrumentos. E somos presas fáceis na medida em que nossas "trancas" foram derretidas pelo fogo e nossas portas estiverem abertas. Tal texto levou-me à mais profunda tristeza, aquela na qual nos faz saber dos nosso limites frente ao mal que nos assola... Todos nós descendemos de Nínive!

Mons. Vingt-Trois fala

Mgr André Vingt-Trois, presidente da Conferência Episcopal Francesa, criticou abertamente a Cúria Romana em reunião em Lourdes, denunciando "'dysfonctionnements évidents des services concernés' dans la gestion romaine de l'affaire Williamson." Além do mais, Vingt-Trois criticou a mídia: "Les coups de vent (…) ont été particulièrement violents ces derniers temps», a-t-il reconnu. Évoquant toutes les affaires récentes - Williamson, l'avortement au Brésil, la polémique sua la phrase du Pape en Afrique -, il a parlé d'«ouragan médiatique» et de «soubresauts de notre vie ecclésiale». A matéria completa no Le Figaro.

Wojtyla beato

Bento XVI reza pela beatificação de João Paulo II. é o que nos diz matéria do Corriere. A notícia ressoa informação já dada por aqui. Segundo Angelo Amato, prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, surgem mais relatos de milagres ocorridos por intercessão de Wojtyla.