Novo site da Comissão Ecclesia Dei

A Comissão Ecclesia Dei, a que trabalha com os tradicionalistas no intuito de reinserí-los na unidade da Igreja, agora tem novo site. Nele pode ser encontrado o histórico da comissão, a documentação sobre as conversações e alguns subsídios litpurgicos. (via Fratres in unum)

Crise financeira na Radio Vaticano

A crise econômica é profunda e a Santa Sé e seus organismos não ficariam de fora. Segundo notícia da BBC News, uma das rádios mais antigas do mundo, a Radio Vaticano, um dos mais importantes meio de comunicação da Igreja, competindo agora com o promisor pope2you nesse início de terceiro milênio, lançará mão de uma nova arma a fim de se sustentar: a publicidade. Em 6 de julho será veiculada a primeira propaganda, da multinacional de eletricidade italiana ENEL.

O Catecismo Anticomunista

Não conseguindo encontrar na web a imagem do polêmico livreto de D. Geraldo de Proença Sigaud, O Catecismo Anticomunista, resolvi tirar uma foto do meu e postar aqui. Bem peculiar a imagem da capa do livro.

História do pensamento católico no Brasil: campo a ser desbravado

A história do pensamento católico brasileiro ainda está por ser feita. Fora algumas obras gerais, como a do monge do Rio de Janeiro D. Odilão Moura, Idéias católicas no Brasil, e de Antônio Carlos Villaça, História do pensamento católico, reeditado há pouco tempo pela Civilização Brasileira, não encontramos nada mais substancioso sobre aqueles que formaram a "nata" da intelectualidade brasileira na primeira metade do século XX. Sobre o pensamento católico mineiro então, quase nada escrito, a não ser o livro resultante da tese de doutorado em História Eclesiástica de Frater Henrique Cristiano José Matos, Um estudo histórico sobre o catolicismo militante em Minas Gerais. (Por acaso sabiam que Georges Bernanos morou em Barbacena entre 1938 e 1945?) Tal campo de pesquisa é vastíssimo e merece maior atenção quando caminhamos para o aniversário de 100 anos da Carta Pastoral de D. Sebastião Leme, em 2016, que forneceu as pistas e deu os incentivos necessários para a formação dessa intelectualidade católica profundamente ciente da missão que deveriam cumprir naquele momento e que nos deram nomes como Jackson de Figueiredo, Alceu Amoroso Lima, Gustavo Corção, Hamilton Nogueira, João Camillo de Oliveira Torres, entre outros. Algumas dessas figuras ficaram no ostracismo da produção acadêmica posterior devido, principalmente, a pendões ideológicos que desencorajavam o estudo de seus pensamentos. Descobrir isso já se mostrou o começo do desbravamento necessário para uma compreensão mais vertical da história do catolicismo no Brasil.
* Fui alertado por um amigo muito atento (veja nos comentários) o esquecimento de uma importante obra sobre a história da religião no Brasil. É a História das Idéias Religiosas no Brasil, de João Camillo de Oliveira Torres.

Pope2you

Depois de todo o celeuma levantado pela excomunhão dos lefebvrianos e a indesculpável falta de informação sobre um de seus bispos, o papa, a partir de uma carta aos bispos, um dos documentos mais importantes de seu pontificado, chamou atenção para o fato da necessidade de a Santa Sé se envolver mais profundamente com os meios de comunicação, principalmente a web. Em vista disso, dá mais um passo na modernização de sua 'pastoral de infiltração'. Foi lançado hoje o Pope2you, um canal que visa aproximar mais o papa dos jovens a partir dos instrumento mais utilizado por eles. Depois do lançamento da Radio Vaticano em 1931, a Santa Sé dá um passo importante ao compreender a força da internet.

Vaticano II: “esse obscuro objeto de desejo”


Do jornal O Lutador, 21 de maio 2009


Peço licença aos leitores para uma divagação teórica sobre, mais uma vez, o Concílio Vaticano II, uma de minhas obsessões profissionais. Nesses quase 50 anos de recepção as discussões crescem, tornam-se quase lutas fratricidas, e exigem um olhar mais cuidadoso sobre as questões. O filósofo e medievalista alemão Kurt Flasch publicou um texto no jornal francês Le Monde afirmando que “o Vaticano II trouxe algo novo no que se refere à liberdade religiosa e à exegese bíblica, mas sem nada tirar do primado do bispo de Roma, nem do primado da jurisdição do papa. Para o Colégio episcopal, o concílio realizou viradas de pouca importância, teológico-cosméticas em suma, sem verdadeiros efeitos sobre o direito canônico. Uma enorme propaganda unida a uma colocação em cena espetacular, fizeram aparecer o Vaticano II mais revolucionário de quanto não tenha sido na realidade, e a central romana luta há décadas contra esta percepção, que é antes uma autopersuasão." Para Flasch ocorre, assim sendo, durante todos esses anos de recepção conciliar, uma “supervalorização” do concílio.
A tese defendida pelo alemão parece ter ressonâncias do pensamento do célebre historiador francês Emile Poulat, em seu Une Église ébranlée: changement, conflit et continuité de Pie XII á Jean-Paul II (Casterman), de 1980, e que trazia sua lúcida tese sobre os acontecimentos. No terceiro ponto do capítulo XIV, L'année des trois papes (1978), Poulat fala em "fim de uma tradição, persistência de um modelo”. Contrariamente do que crêem alguns tantos, o historiador diz que o Vaticano II não colocou em causa nem modificou substancialmente aquele modelo construído pelo Concílio de Trento e o Concílio Vaticano I no século XIX. Ele antes procedeu a reequilíbrios, confirmando aquisições e podando alguns galhos mortos. Discutindo historicamente, como o faz Poulat, nota-se que as "aquisições" e "podas" que nos diz referem-se a toda história anterior ao evento conciliar que, por isso mesmo, possibilitou a sua realização. Segundo o historiador francês, o modelo, que ainda persiste mesmo com o acontecimento do concílio que visou um aggiornamento (atualização) da Igreja, substancia-se em três pilares: 1) negação de uma autonomia do homem que prescinda de Deus; 2) incentivo à modernização da atuação dos católicos no meio social, contando que não coloque em questão a busca da “cidade cristã”; 3) negação e condenação do modernismo como assimilação sub-reptícia das autonomias políticas, sociais e culturais da modernidade. Para Poulat, esse modelo ainda vigora na Igreja romana e não sofreu abalos mais sérios, mesmo frente aqueles que os desejavam e o desejam.
Podemos deduzir que a “supervalorização” decorre de um mito, aquele no qual, a partir de uma leitura fictícia e ilusória dos eventos, carregados não raramente de pendões ideológicos à esquerda e à direita, "desejava" que fosse “dessa” ou “daquela maneira” os seus resultados. Esse "obscuro objeto de desejo", para lembrar o cineasta Buñuel, mistura as dimensões e já não se sabe mais o que é o evento, o que é a história do evento, o que o levou, o que veio dele e assim por diante. Dessa forma, falar do concílio é exercício de julgamento e de desejo. E aí parece que as duas ações têm uma relação promíscua. Tanto o desejar quanto o julgar mesclam-se com a idéia do "o que foi". Esse “o que foi” é inacessível pela sua natureza temporal. O que temos é a história efeitual, como nos falaria o filósofo Hans-Georg Gadamer em seu Verdade e Método. Analisando historicamente a partir do nosso locus, a questão que emerge são os efeitos como ponto no qual o olhar hermenêutico pode se ater. Nossa leitura do evento condiciona-se sim aos próprios efeitos que emanam como ondas por estes 50 anos de recepção. Sofremos os efeitos dos olhares, das compreensões, das interpretações, dos preconceitos que se acumularam por todos esses anos. E é também a partir dessa "massa efeitual" que se constituem mais elementos para compô-la e recompô-la. A “supervalorização” é um de seus efeitos.

Enquanto isso, em Notre Dame

As imagens falam por si mesmas. Na universidade católica de Notre Dame um idoso padre, Pe. Norman Weslin, preso por protestar contra as honrarias dispensadas a Obama e sua posição pró-aborto.

Agora no Twitter

A importância da web para a democratização da informação e de conteúdos é central hoje em dia. Todo espaço dentro do mundo virtual deve ser ocupado e utilizado por aqueles que podem e devem colaborar para que a informação chegue sempre a mais pessoas. Dessa forma, também utilizamos a partir de agora o Twitter, uma ferramenta que eleva essa possibilidade. O blog não será abandonado, mas terá sua produção diminuída, tanto em vista da nova ferramenta utilizada, quanto em vista dos meus compromissos profissionais que se acumulam. Para seguir-me no twitter acesse aqui.

Bento XVI no Muro das Lamentações

Mensagem do bilhete deixado por Bento XVI no Muro das Lamentações:

"Deus de todos os tempos, na minha visita a Jerusalém, a 'Cidade da Paz', morada espiritual para judeus, cristãos e muçulmanos, trago diante de Ti as alegrias, as esperanças e as aspirações, angústias, os sofrimentos e as dores de todo o Teu povo espalhado pelo mundo. Deus de Abraão, Isaac e Jacó, escuta o clamor dos aflitos, dos amedrontados, dos desesperados; manda a Tua paz sobre esta Terra Santa, sobre o Oriente Médio, sobre toda a família humana; desperta o coração de todos aqueles que chamam o Teu nome para que queiram caminhar humildemente no caminho da justiça e da piedade. 'O Senhor é bom para quem nele confia, para aquele que o busca' (Lm 3, 25)".

Vaticano faz silêncio sobre filme, mas polêmica é preciso para marketing certeiro

É impressionante como a indústria cultural superficial e bilionária sabe direitinho quais os caminhos a seguir para que uma polêmica seja incentivada em vista de seus interesses excusos. No tempo daquele bendito livro, e depois o filme, O código Da Vinci, algumas autoridades da Santa Sé reagiram às baboseiras que ele divulgava em sua intenção de ser simplemeste um entretenimento. A mistura entre fatos históricos e romance dava a chave de leitura e de sucesso para a obra. Sabemos da força da imagem hoje nas consicências e corações dos jovens e a dificuldade para eles discernirem os aspectos da realidade. Acham que apreendem história a partir de um filme de Hollywood. É algo corriqueiro ouvir meus alunos trazerem para a sala de aula clichês e histórinhas que viram em um filme como se aquilo fosse a verdade. Agora, com o lançamento de Anjos e Demônios a coisa é um pouco diferente. O Vaticano compreendeu que não é necessário falar uma só palavra sobre tal filme, que também terá seu sucesso devido às possíveis polêmicas que possa suscitar com a Igreja. A Folha de S. Paulo de hoje traz as palavras de alguns católicos, entre eles um bispo e o chefe da Liga Católica dos EUA, criticando o filme. Contudo, a manchete do texto diz "Vaticano pede que fiéis não vejam 'Anjos e Demônios'". A relação da matéria com o seu título é equívoca, já que o Vaticano não disse ainda uma palavra sequer sobre tal filme. E pelo que se vê, não falará nada. O marketing do filme só tem sucesso mais certeiro se polemizar com a Igreja. Mas já que a Igreja, em sua hierarquia, não disse nada, nem uma notinha qualquer, pegaram os católicos que falaram alguma coisa e fizeram de suas palavras palavras oficiais. É assim que as coisas se dão . "Hermenêutica seletiva", como dizem por aí.

Bento XVI e o Islam

Texto de Damian Thompson livremente traduzido por Miles Ecclesia.


"No coração do pontificado de Bento XVI está a convicção de que os católicos devem adorar a Deus adequadamente. Ele quer sanar as feridas causadas pelo cruel repúdio dos liberais aos belos serviços em latim. Em 2007, ele repentinamente eliminou todas as restrições relativas à celebração da missa em latim celebrada antes do Vaticano II. Ele acredita que a liturgia antiga e a nova devem conviver lado a lado, se enriquecendo mutuamente.

Esta política tem alarmado uma geração de católicos de mais velhos (incluindo bispos) que foram levados a considerar o Vaticano II como um novo começo, um marco zero. E o Papa pagou um preço por sua falta de aliados no Vaticano: alguns cardeais procuraram explorar a crise.

No entanto, a nova geração está ao lado do Papa, pois os católicos praticantes mais jovens são surpreendentemente conservadores. Eles vêm o Papa como a figura de um avô que os está apresentando a antigos tesouros rejeitados por seus pais hippies. Atualmente Roma está cheia de seminaristas de preto inspirados por esse conservadorismo “beneditino”.

Há interessantes paralelos disso com o Islam. Bento não acredita que Cristianismo e Islamismo possam convergir teologicamente, mas ele compartilha uma compreensão com líderes muçulmanos que crêem que a força de uma comunidade religiosa repousa em suas tradições. Catolicismo liberal e Islamismo liberal têm uma coisa em comum: ambos têm sido pouco capazes de atrair seguidores.

Bento rejeita extremistas de todas as fés, mas ele também não se impressiona com uma religião diluída. E ele está curioso para aprender mais sobre como o Islam está convivendo com a modernização sem abrir mão de sua identidade porque ele está trilhando um caminho semelhante.

Sua visita ao Oriente Médio está repleta de dificuldades. Tantas coisas podem dar errado. Mas o Papa Bento XVI tem uma arma secreta: um charme profundo e autêntico que vence a timidez para conquistar amigos em lugares improváveis.

Quando ele era um velho cardeal, ele caminhava ao longo da Praça de São Pedro toda manhã. Ele não perambulava seguido por um comitê de conselheiros: com freqüência ele estava sozinho e muito satisfeito batendo papo com peregrinos, às vezes por vinte minutos. Este é o lado de Joseph Ratzinger que os muçulmanos, judeus e cristãos da Terra Santa estão para descobrir. Se será suficiente para produzir um triunfo diplomático, é o que vamos ver."

"Cala-te": o perigo contra a liberdade religiosa

Mais um capítulo sobre a laicidade desenrola-se no panorama atual do Ocidente. A questão, como pode ser vista há anos, será, acredito, um dos pontos nevrálgicos das relações entre religiões e estados, especialmente entre Igreja Católica e os estados democráticos. A bola da vez, como não poderia deixar de ser, é o papa Bento XVI. Seu discurso sobre o uso do preservativo, instrumentalizado à revelia por grupos de interesses opostos ao do pontífice, levou a vários protestos organizados por movimentos de esquerda na Europa. No momento, um protesto legal está sendo organizado pela Iniciativa per Catalunya y de Isquierda Unida, que acham que as palavras de Bento XVI é "um atentado incuestionable contra la salud pública". Tal "iniciativa" deseja, agora, que todo o Congresso dos Deputados afirme ser escandalosas as palavras do papa, lançando uma proposição que as critiquem e protestam formalmente perante a Santa Sé. Como não poderia deixar de ser, a Igreja da Espanha sente-se atacada. E não é de agora, claro. Lembrem-se das campanhas pró-aborto. O Vaticano II compreendeu, profeticamente, que a liberdade religiosa seria um dos problemas da Igreja. Alguns Estados hoje se arrogam o direito de tentar calá-la. O perigo está aí. O alvo do "cala-te" pode transformar-se em qualquer um.