[...] E a alma, por estar aprisionada em um corpo cego,
Com a chama de sua luz reprimida,
Não pode mais distinguir os liames traçados do universo?
Mas por que ela arde de tal desejo
De conhecer os sinais ocultos da verdade?
Sabe ela o que procura impacientemente conhecer?
Se ela não sabe, para que procurar no escuro?
Quem, de fato, desejaria uma coisa desconhecida
ou iria em busca daquilo que não sabe o que é?
onde o encontraria? Quem poderia reconhecer, S
em tê-la conhecido antes, uma forma que descobriu?
ou então, percebendo a Inteligência suprema,
Seria ela capaz de conhecer ao mesmo tempo o essencial e os detalhes?
Atualmente escondida sob a obscuridade do corpo,
Ela no entanto não se esqueceu completamente de sua natureza
E conserva o essencial, mesmo tendo perdido os detalhes.
Por isso, um homem que procura a verdade
Vive numa situação intermediária: ele não sabe
E no entanto não ignora de todo;
Ele conserva e evoca o essencial,
Ele reflete e lembra-se do que viu lá no alto
De forma que pode ajuntar as partes esquecidas
Áquelas que ele conserva.
(Boécio, século V-VI)
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