Sobre a psicologia das massas

O século XX foi marcado, especialmente, pela carnificina sem precedentes. Por todos os lados do planeta vimos crescer os fascismos, os comunismos, ditaduras e sistemas totalitários que, marcados por teorias de fundo teleológico, perverteram o senso de realidade e nos jogaram em experiências brutalizantes, sempre com o intuito de chegarmos ao pretenso “final feliz”, ininterruptamente mais longe, a cada novo expurgo. A falsificação do bem, como forma de trazer mais correligionários para a causa auto-redentora, desumana e inalcançável, foi uma constante na propaganda ideológica maciça, que não deixava uma brecha de ar puro, naquele ambiente asfixiante, e que jogava a cada dia centenas de pessoas nos campos de concentração, quer nazistas, quer comunistas, os famigerados gulags, ou, para usar um eufemismo, “campos de trabalho corretivo”.

O estudioso francês Alain Besançon, em seu livro A infelicidade do século – sobre o comunismo, o nazismo e a unidade da Shoah (Editora Bertrand Brasil), tratou pontualmente do tema ao afirmar que estes sistemas totalitários são perpassados pela destruição física, pela destruição do político e pela destruição moral. Para ele, tais sistemas, que destroem as almas e as inteligências, falsificaram a noção de bem ao dar dignidade às idéias que desbancavam, por fim, em escravidão e morte. Enquanto para os nazistas o bem consistia em restaurar uma ordem natural corrompida pela história, especialmente pela modernidade, e que tinha como centro o “homem ariano alemão”, marcado por leitura específica e distorcida do super-homem de nietzschiano, para o comunismo o bem era levar a todos os homens, e não só o alemão, àquela categoria de seres humanos. Seria a democratização do super-homem. A idéia da graça de Deus que colabora com o homem decaído pela sua ignorância e egoísmo na sua peregrinação terrena é trocada pela idéia de que o próprio homem faz e conduz o seu caminho rumo ao paraíso terreno, povoado pelos “homens novos”, tão ridicularizado por um dos maiores romancistas de todos os tempos, Fiódor Dostoievski. Arremata Besançon: “o que é chamado de humano e de humanidade é, de fato, o sobre-humano e o sobre-humanitário que promete a ideologia”.

Mas quais os motivos que levou, ou levam, as massas a se deixarem guiar por teorias ou por “salvadores da pátria” que surgem de tempos em tempos aqui e ali? O que os impele a deixar suas próprias experiências e noções mais primordiais – como individualidade – em função de um chefe, um Führer ou Dux, que me dê a mão para nos levar a uma falsa libertação? Freud, em um de seus mais importantes estudos, Psicologia de grupo e a análise do ego, faz alguns apontamentos interessantes que podem nos ajudar a compreender tais motivos. Para ele, partindo dos estudos de Le Bon, Psychologie des foules (1855), afirma peremptoriamente que “os grupos nunca ansiaram pela verdade. Exigem ilusões, e não podem passar sem elas. Constantemente dão ao que é irreal precedência sobre o real; são quase tão intensamente influenciados pelo que é falso quanto pelo que é verdadeiro”. Le Bon aponta três fatores que levam as massas a tal obediência cega: 1) o indivíduo que faz parte do grupo adquire sentimento de “poder invencível”, que lhe permite deixar vir à tona todos os seus mais recônditos instintos que, estando sozinho, seria mantido sob coerção. Nota-se, no caso, o desaparecimento da consciência e da noção de responsabilidade; 2) o mimetismo ou contágio. Num movimento grupal, todo ato é “contagioso em tal grau, que o indivíduo prontamente sacrifica seu interesse pessoal ao interesse coletivo”; 3) Sugestionabilidade. Freud afirma que “quando indivíduos se reúnem num grupo, todas as suas inibições individuais caem e todos os instintos cruéis, brutais e destrutivos, que neles jaziam adormecidos, como relíquias de uma época primitiva, são despertados para encontrar gratificação livre (...) Sob a influência da sugestão, os grupos também são capazes de elevadas realizações sob forma de abnegação, desprendimento e devoção a um ideal”. Assim, as massas não passam de um rebanho obediente, sempre a procura do senhor que as levará pelo caminho do insondável. Sempre carismático e carregado de prestígio, tal senhor paralisa as faculdades críticas daqueles elementos do grupo, enchendo-os de admiração e respeito, dando a eles a sensação de um poder invencível, que não teriam individualmente.

Albúm com fotos do padres do Concílio Vaticano I

Pelo Twitter, chegou-me este álbum de fotos dos padres que participaram do Concílio Vaticano I (1869-1870).