Contra o nada, com Tudo

Os dias são como flechas em direção ao alvo, velozes e com um único objetivo: chegar. Chegar a ter vida a cada respiração. Alcançar a visão beatífica do ser agora. Iluminar-se com a possibilidade do Real.

Estremeço-me. A chuva insiste em me ninar. Na verdade, a voluptuosidade do tempo não me permite dormir, sonhar. A vigilia é que importa. Ainda mais quando nos sentimos sós. A solidão espreita e não posso ausentar-me de mim mesmo. O cansaço instala-se em meu peito e a cada fagulha de pensamento convenço-me: as palavras são meu mundo e nelas encontro o caminho saboroso e enebriante do estar.

Claro que minha história com elas nunca foi a estrada reta, lisa e de mão dupla que caracteriza as belas auto-estradas dos países nórdicos. Se assim o fosse não teria experimentado suas verdadeiras objeções ao meu ser. E não experimentá-las seria poupar-me da transformação, e isto é somente ilusão pura e simples. Estar com elas, para elas, é se entregar à sua dança libertadora e graciosa. É experimentar a doçura de ser ali, transpassados de sentidos. Isso. Sentidos. Há muito penso sobre isso. Sobre o meu caminho. Sobre o caminho humano. A descrença na existência de algum, sentido, para mim e para todos, levou-me à insanidade na crença no "nada significante". O nada, que por si só é a experiência do vazio, da não-realização, passou a ser a minha principal linha de conduta moral. Passou a "significar" (entre aspas, pois se é o nada como significa?). Óbvio que isto não acometeu apenas a mim. Sou mais um nessa nau sem rumo. O sentido, em um mundo onde impera "o nada" como valor absoluto e irremovível, é apenas fruto de uma invenção, individual, coletiva ou as duas juntas. Tudo seria, assim, fruto de nossa mente confusa, perdida e desejosa de segurança. Seriamos reinvenções de nós mesmos. Rascunhos mal elaborados. Nada me ligaria ao outro, do meu vizinho a um vietnamita. Seriamos apenas frutos de um tempo remoto e de um lugar longínqüo. Representantes de um inexistente elo perdido.

Não! Não aceito! A descoberta de Deus, do transcendente, do Totalmente Outro, já não me permite viver nesse nada insignificante. Não me permite olhar para trás, nem pra lá voltar. Por isso regozijo-me em estar Nele pelo menos no desejo, se não possuo forças para entregar-me absolutamente no seu amor. A única coisa que posso oferecer a Ele é minha súplica: Kirie, eleison...

Igreja Católica e civilização ocidental



Até quanto é preciso contar para manter a paciência frente a tanta bobagem que se diz sobre a história da Igreja? Aonde podemos recorrer para nos munir de conhecimento a fim de demonstrar a importância da Igreja para a formaçõ do mundo ocidental? Às vezes nem mesmo com um conhecimento sobre essa importância é suficiente, já que o recurso à falácia ad hominem - "ah, você é católico! "- já nos impossibilita de fazer alguma reflexão. Bem, exsite um livro muito interessante sobre o tema e que começo a ler: Thomas E. Woods Jr. Come la Chiesa Cattolica ha costruito la civiltà occidentale. Siena: Cantagalli, 2007. O autor é americano é possível encontrado em inglês. Por sinal, a foto que acompanha o post é do livro original. Woods trata para demosntrar sua tese, ou seja, de que sem a Igreja Católica não existiria o que chamamos de "civilização ocidental", da cristianização dos bárbaros, do papel dos monges cristãos, a universidade e a ciência, a arte, as origens do direito internacional e a moralidade ocidental. Com várias referências e com tom desafiador. Alguns diriam: "apologética". O autor responderia: "Sim, com muito prazer".

Bertone em Cuba e a possível transição

Discurso do Cardeal Bertone aos Bispos de Cuba

Ao visitar Havana no 10º aniversário do falecimento de João Paulo II

HAVANA, quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008 (ZENIT.org).- Publicamos o discurso que o cardeal Tarcísio Bertone, secretário de Estado de Bento XVI, dirigiu em Havana aos bispos cubanos por ocasião do 10º aniversário da viagem de João Paulo II a Cuba.

Senhor Cardeal,

Senhor Presidente da Conferência dos Bispos Católicos de Cuba,

Queridos irmãos no episcopado:

Agradeço a Dom Juan García Rodríguez, Arcebispo de Camaguey e Presidente da Conferência dos Bispos Católicos de Cuba, pelas cordiais palavras de boas-vindas que me dirigiu em nome de todos, e às quais respondo com a expressão de meu sincero afeto e minha profunda estima.

Em primeiro lugar, quero fazer-me intérprete dos sentimentos do Santo Padre Bento XVI, que, ante esta minha viagem a Cuba, pediu-me que transmitisse aos senhores sua afetuosa saudação e sua proximidade espiritual. Com efeito, o Papa conhece bem a situação da Igreja cubana, ele a leva em seu coração e a tem muito presente em suas orações. Por isso, espera com vivo desejo a próxima visita ad limina dos bispos cubanos, para poder assim encontrá-los pessoalmente e estreitar os vínculos de comunhão que tão fortemente unem os Pastores desta nobre nação com a Sé Apostólica.

Agradeço ao Senhor pela oportunidade que me oferece de poder estar aqui com todos os senhores e, de modo especial, neste momento no qual a Igreja cubana celebra o 10º aniversário da inesquecível visita do Papa João Paulo II a este país. Estou plenamente convencido de que essa data será também um tempo de graça abundante e uma ocasião privilegiada para impulsionar um intenso trabalho pastoral que, por um lado, permita consolidar os frutos espirituais já colhidos durante estes anos e, por outro, produza uma profunda renovação da vida cristã em todo o Povo de Deus que caminha nesta terra maravilhosa.

Eu vos animo, pois, queridos irmãos bispos, a intensificar ainda mais a ação pastoral que com tanta dedicação e empenho estão levando a cabo. Permitam-me recordar-vos algo que os senhores, como solícitos Pastores já conheceis bem: a importância e a primazia que, tanto na vida pessoal como em nosso ministério episcopal, devemos dar à oração e ao trato íntimo com o Senhor na vida espiritual. Sabemos também que em seu ministério, os bispos devem atender muitos compromissos, programar numerosas atividades e enfrentar muitas necessidades. Contudo, como disse o Papa Bento XVI, «na vida de um sucessor dos Apóstolos, o primeiro lugar deve ser reservado a Deus. Assim, ajudamos especialmente os nossos fiéis» (Discurso aos Bispos nomeados no último ano, 22-IX-2007). Desta maneira, toda nossa ação pastoral ao serviço dos fiéis e da Igreja será verdadeiramente fecunda (cf. João Paulo II, ex. ap. Pastores Gregis, n. 12), porque na intimidade da oração com Cristo é onde se amadurecem os melhores projetos e iniciativas pastorais, e onde o coração se enche de confiança e fortaleza ante as dificuldades, com a segurança de que é o Senhor quem atua em nós e através de nós.

Eu vos alento também a continuar robustecendo o espírito de comunhão entre todos os bispos, como membros do Colégio Apostólico, e com o Papa. Todos vós deveis sentir-vos acompanhados e sustentados por seus irmãos no Episcopado, como manifestação concreta desse afeto colegial que nos une (ibid. n. 8) e pela união com o Sucessor de Pedro, a quem se confiou confirmar na fé os seus irmãos (cf. Lc 22, 32). Posso vos assegurar o interesse e o apoio do Santo Padre por cada um de vós. Com efeito, o testemunho de caridade fraterna e de unidade entre os bispos será, sem dúvida alguma, o melhor espelho no qual os fiéis poderão ver refletido o mistério de unidade que é a Igreja.

Este espírito de comunhão há de envolver a toda a comunidade cristã, especialmente pelo trabalho próximo e constante dos sacerdotes e pessoas consagradas, que com seu ministério e consagração colaboram estreitamente com a missão dos Pastores. A estes, pois, corresponde uma tarefa insubstituível de ocupar-se de sua formação, inicial e permanente, e de atendê-los com solicitude em tudo o que se refere à sua vida espiritual e aos seus afãs apostólicos, sem descuidar dos aspectos pessoais e ambientais que podem incidir no exercício gozoso e abnegado de suas tarefas.

Além disso, em Cuba se faz hoje de maneira tangível a verdade das palavras de Jesus Cristo: «A messe é grande e os operários são poucos. Rogai ao Senhor da messe que envie operários para a sua messe» (Mt 9, 37-38). Uma oração à qual deve ir vinculada uma ação pastoral vocacional séria, sistemática e capilar, que faça chegar ao coração dos jovens cubanos o chamado a uma entrega incondicional ao Senhor e a seu Reino de amor, os acompanhe com paciência, delicadeza e solicitude em todas as etapas do discernimento vocacional e mostre às famílias e comunidades cristãs a beleza de uma vida totalmente dedicada a Cristo e à Igreja.

Albergo a esperança de que a celebração deste aniversário da visita do Papa João Paulo II a esta bendita terra contribua para dar um novo impulso às relações entre o Estado e a Igreja Católica em Cuba, para que, em espírito de respeito e entendimento mútuo, a Igreja possa levar a cabo plenamente sua missão, estritamente pastoral e ao serviço de seus fiéis, com a devida liberdade.

A este respeito, desejo aproveitar o colóquio que teremos a seguir para dialogar com os senhores sobre este importante aspecto das relações entre Igreja e Estado.

Por último, dirijo-me à Virgem Maria, Nossa Senhora da Caridade do Cobre, padroeira de Cuba, para encomendar-lhe os frutos desta visita, ao mesmo tempo que lhe peço por todos os senhores e suas comunidades diocesanas, para que Deus vos abençoe, encha de amor e esperança, e recompense vosso zelo ao serviço de Deus e da Igreja.

Muitíssimo obrigado.

[Tradução: Élison Santos. Revisão: Aline Banchieri]

A visita do Secretário de Estado do Vaticano foi apostólica, contudo num momento bem especial: a saída do velho ditador do poder. A Igreja já sofreu demais na "Ilha prísão", mas desde 1998, data da visita de João Paulo II, passa por momentos um pouco melhores. A transição virá, só nos resta saber como. Alguns dizem em um modelo parecido com o chinês. Nada de liberalismo econômico e político por sinal.

Rubem Alves, estrelas e engodos

Rubem Alves, hoje na Folha de S. Paulo destila seu preconceito ao papa Bento XVI. Lê-se:

"Retornamos às eternas estrelas do céu e aos efêmeros jardins da Terra...Os que olham para as estrelas dizem possuir a verdade. Mas os que olham para os jardins sabem que tudo o sabem é provisório. Os olhos da Igreja Católica não vêem jardins; só vêem as estrelas [...]
O SS Bento XVI acredita que Deus revelou à Igreja Católica e somente a ela a verdade total das estrelas. Segue-se, por necessidade lógica, que todos os homens, indivíduos ou igrejas, que têm idéias diferentes das suas, estão privados da Verdade."

Tsc, tsc, tsc...Rubem Alves só pode estar de brincadeira com esse seu artigo ao "Cotidiano" da Folha de hoje. Tenho certeza que o colunista sabe muito bem que Bento XVI não só olha para as estrelas, como cita, e que sabe também o que deve ser "retido" como Verdade, com letra maiúscula, e o que é provisório e efêmero, ou seja, os jardins e seus jardineiros. Na segunda assertiva, Alves defende que Bento XVI acredita que só a Igreja católica possui a "verdade total das estrelas" e que aqueles que não estão com ela ou têm idéias diferentes estão "privados da Verdade". O colunista sabe que o que fala não é correto, e Bento XVI também. Se Jesus disse "Eu sou o caminho, a verdade e a vida", não sei em qual sentido o papa se equivoca. Por outro lado, Ratzinger sabe muito bem, seguindo as determinações do Vaticano II, que religiões e sistemas filosóficos não cristãos podem possuir sim aspectos da verdade e que os indíviduos pertencentes a elas podem ser salvos sim. Rubem Alves sabe disso, ah sabe...

Mais um artigo anti-papal

Leiam o artigo de Marco Politi, vaticanista, no La Repubblica de hoje:


A presença Pio IX volta a se manifestar na Santa Romana Igreja. A imprevista exaltação do papa Mastai, descrito por Bento XVI como grande pontífice de virtudes exemplares, “indômito e corajoso” combatente contra a secularização do século XIX, não é o melhor auspício para acalmar as tensões entre a sociedade laica e o papado.

É preciso saber ler a body-language de Joseph Ratzinger. No último consistório, em novembro de 2007, Bento XVI se apresentou na basílica vaticana com a mitra de Pio IX e o pluvial de João Paulo II. Sentado no trono, não evocava a imagem de um peregrino da fé, mas o ícone de um papado imperial. Nos pesados paramentos dourados, se refletia a obstinada vontade de manter unidas a Igreja do Syllabus e a Igreja do ‘mea culpa’, o papado que reabriu o gueto de Roma e o papado que, em Jerusalém, no ano 2000, pediu perdão pelo anti-semitismo, o catolicismo do absolutismo papal e o do ‘povo de Deus’ celebrado pelo concílio Vaticano II.

Não se escolhem por acaso as vestes cerimoniais para um rito pontifical. A sacristia de São Pedro não é uma loja de vestes teatrais que escolhe por meros gostos estéticos. A mitra de Pio IX pertence ao pontífice que declarou guerra ao século XIX, que execrou a liberdade de consciência e a liberdade religiosa, que permitiu que os seus seguidores se servissem de manobras totalitárias para impor a infalibilidade papal. A imagem de Pio IX que pôs o pé sobre o pescoço de um bispo que se opunha ao dogma – isso aconteceu durante uma audiência, no momento do beijo das pantufas – pertence às páginas mais desagradáveis da história da Igreja.

A recuperação da mitra foi o prólogo do discurso ratzingeriano no 130º aniversário do papa Matsai. Ele demonstra que não se trata de algo extemporâneo. A imagem de Pio IX, na descrição feita por Ratzinger, é a de um pontífice que luta para reafirmar a verdade da fé cristã frente a uma sociedade que se seculariza. Um baluarte heróico. Ontem Pio IX, hoje Bento XVI é a equação apresentada instintivamente aos olhos dos fiéis e do mundo. O jornal L´Osservatore Romano confirma. “Hoje se vive, em boa parte, da herança de Pio IX, proclama o fiel postulador da causa de canonização – e se correm riscos que o seu magistério pretendia poupar à Igreja de então e de sempre”.

Assim se coloca no mesmo plano o que é conciliável e o que não é. A oposição frontal à modernidade de Pio IX e a abertura aos sinais dos tempos de João XXIII, a infalibilidade papal, de um lado, e a gestão colegial da Igreja juntamente com os bispos, do outro. Continuamente volta, enfim, a vontade de negar o caráter de mudança e, em certos aspectos, de ruptura do Concílio Vaticano II. Mas a operação somente pode ser feita apelando à apologética ou se refugiando na remoção. Pio IX abominava a democracia, o Vaticano II a fez sua. Pio IX considerava a liberdade religiosa como uma loucura, o Vaticano II a reconheceu, Pio IX considerava a liberdade de consciência como algo inconcebível, Karol Wojtyla fez dela uma dos pontos centrais do seu pontificado, denunciando o que houve de opressivo no interior da Igreja. Isso tudo para não falar do ecumenismo. As crônicas do Concílio de Pio IX, em 1870, descrevem os gritos de condenação, dirigidas contra o bispo alemão Stossmeyer, culpado por ter declarado que “também entre os protestantes há pessoas que amam Jesus”. E quando o mesmo bispo implora para que não se imponha um dogma como a infalibilidade simplesmente apelando para a maioria, os seguidores de Pio IX se puseram a gritar:” Anátema, anátema, é um outro Lúcifer, um segundo Lutero”.


Não se pode recuperar Pio IX e querer o diálogo com o mundo contemporâneo. Está aqui a grande, subterrânea contradição do pontificado de Bento XVI: desejar sinceramente um confronto fecundo com a razão e a ciência moderna enquanto são propostas novamente as experiências mais autoritárias e doutrinalmente fechadas da Igreja. Muitas vezes os movimentos ratzingerianos parecem que ficam bloqueados pela metade. Num espasmo de contradições. Refutar as cruzadas e sustentar que o Islã é intrinsecamente violento. Afirmar que a Igreja não faz política e querer ditar o comportamento dos católicos no Parlamento. Querer o confronto com a razão e negar sua dignidade autônoma, se não se bebe das fontes do Transcendente.

Há um trecho revelador no seu discurso que seria proferido na universidade La Sapienza, de Roma. “Várias coisas ditas pelos teólogos no decorrer da história ou também traduzidas na prática das autoridades eclesiais – admite Ratzinger – se demonstraram falsas”. Mas nunca se diz quem demonstrou a falsidade. É uma remoção eloqüente. Porque aqueles que, nos séculos passados desmontaram verdades oficiais erradas, freqüentemente foram católicos perseguidos, teólogos declarados heréticos, pensadores não crentes acusados como inimigos da Igreja.

É difícil dialogar com o mundo moderno se não se admite até o fim a relatividade do agir da instituição eclesiástica, feita de seres humanos. Aos homens e às mulheres contemporâneos, sejam católicos ou não, a ideologia de um papa-rei, tipo Pio IX, inspira somente distância.

Não preciso aqui referenciar os momentos que o "vaticanista" demonstra seu rancor contra Bento XVI, pois está claríssimo. Concentro-me apenas nessa afirmação: "Continuamente volta, enfim, a vontade de negar o caráter de mudança e, em certos aspectos, de ruptura do Concílio Vaticano II". Em contraposição à frase, eu diria: desde o final do Concílio Vaticano II existem indivíduos, como Marco Politi, que insistem em fazer da Igreja algo totalmente novo, e calcados em um otimismo ilusório, nesse caso, demonstram-se como os últimos baluartes da "verdadeira nova Igreja", aquela que, afirmam ideologicamente, desejava João XXIII. Observem como o autor gasta um parágrafo fazendo referências das contradições entre o papado de Pio IX e o Vaticano II. Mas peraí? Não me lembro de existir contradição entre primado papal e colegialidade. As duas coisas andam juntas e isso foi considerado pelo concílio. Outra: se Pio IX "abominava" a democracia era devido ao caráter laicista que se imprimia nela em diversos países da Europa, não necessariamente era contra "a" democracia. Parece até que o "vaticanista" não sabe que os Estados papais estavam correndo risco de desaparecerem na ocasião (o que de fato aconteceu) e que a posição de Pio IX era em vista da manutenção do poder temporal. De novo: peraí? Mas esse sujeito não sabe o que é hermenêutica? Não sabe que devo ler o Syllabus observando o sentido geral do texto e não suas proposições particulares, como diz o próprio teólogo... Joseph Ratzinger? E onde estão as atitudes "autoritárias" que chama atenção para o papado atual? Um papado marcado por um "espasmo de contradições": diga-me um que não foi contraditório, melhor, diga qualquer governo de qualquer nação ocidental ou oriental que não se move em contradições? Qual o problema de Bento XVI querer reafirmar, como Pio IX, a fé católica frente a um mundo que se seculariza cada vez mais? Não é a democracia o que defende, Marco Politi? Parece agora que quem se contradiz é o próprio "vaticanista"...


O discurso barrado

ALLOCUZIONE DEL SANTO PADRE BENEDETTO XVI
PER L’INCONTRO
CON L’UNIVERSITÀ DEGLI STUDI DI ROMA "LA SAPIENZA"

Testo dell'allocuzione che il Santo Padre Benedetto XVI avrebbe pronunciato nel corso della Visita all’Università degli Studi "La Sapienza" di Roma, prevista per il 17 gennaio, poi annullata in data 15 gennaio 2008:

Magnifico Rettore,
Autorità politiche e civili,
Illustri docenti e personale tecnico amministrativo,
cari giovani studenti!

È per me motivo di profonda gioia incontrare la comunità della "Sapienza - Università di Roma" in occasione della inaugurazione dell’anno accademico. Da secoli ormai questa Università segna il cammino e la vita della città di Roma, facendo fruttare le migliori energie intellettuali in ogni campo del sapere. Sia nel tempo in cui, dopo la fondazione voluta dal Papa Bonifacio VIII, l’istituzione era alle dirette dipendenze dell’Autorità ecclesiastica, sia successivamente quando lo Studium Urbis si è sviluppato come istituzione dello Stato italiano, la vostra comunità accademica ha conservato un grande livello scientifico e culturale, che la colloca tra le più prestigiose università del mondo. Da sempre la Chiesa di Roma guarda con simpatia e ammirazione a questo centro universitario, riconoscendone l’impegno, talvolta arduo e faticoso, della ricerca e della formazione delle nuove generazioni. Non sono mancati in questi ultimi anni momenti significativi di collaborazione e di dialogo. Vorrei ricordare, in particolare, l’Incontro mondiale dei Rettori in occasione del Giubileo delle Università, che ha visto la vostra comunità farsi carico non solo dell’accoglienza e dell’organizzazione, ma soprattutto della profetica e complessa proposta della elaborazione di un "nuovo umanesimo per il terzo millennio".

Mi è caro, in questa circostanza, esprimere la mia gratitudine per l’invito che mi è stato rivolto a venire nella vostra università per tenervi una lezione. In questa prospettiva mi sono posto innanzitutto la domanda: Che cosa può e deve dire un Papa in un’occasione come questa? Nella mia lezione a Ratisbona ho parlato, sì, da Papa, ma soprattutto ho parlato nella veste del già professore di quella mia università, cercando di collegare ricordi ed attualità. Nell’università "Sapienza", l’antica università di Roma, però, sono invitato proprio come Vescovo di Roma, e perciò debbo parlare come tale. Certo, la "Sapienza" era un tempo l’università del Papa, ma oggi è un’università laica con quell’autonomia che, in base al suo stesso concetto fondativo, ha fatto sempre parte della natura di università, la quale deve essere legata esclusivamente all’autorità della verità. Nella sua libertà da autorità politiche ed ecclesiastiche l’università trova la sua funzione particolare, proprio anche per la società moderna, che ha bisogno di un’istituzione del genere.

Ritorno alla mia domanda di partenza: Che cosa può e deve dire il Papa nell’incontro con l’università della sua città? Riflettendo su questo interrogativo, mi è sembrato che esso ne includesse due altri, la cui chiarificazione dovrebbe condurre da sé alla risposta. Bisogna, infatti, chiedersi: Qual è la natura e la missione del Papato? E ancora: Qual è la natura e la missione dell’università? Non vorrei in questa sede trattenere Voi e me in lunghe disquisizioni sulla natura del Papato. Basti un breve accenno. Il Papa è anzitutto Vescovo di Roma e come tale, in virtù della successione all’Apostolo Pietro, ha una responsabilità episcopale nei riguardi dell’intera Chiesa cattolica. La parola "vescovo"–episkopos, che nel suo significato immediato rimanda a "sorvegliante", già nel Nuovo Testamento è stata fusa insieme con il concetto biblico di Pastore: egli è colui che, da un punto di osservazione sopraelevato, guarda all’insieme, prendendosi cura del giusto cammino e della coesione dell’insieme. In questo senso, tale designazione del compito orienta lo sguardo anzitutto verso l’interno della comunità credente. Il Vescovo – il Pastore – è l’uomo che si prende cura di questa comunità; colui che la conserva unita mantenendola sulla via verso Dio, indicata secondo la fede cristiana da Gesù – e non soltanto indicata: Egli stesso è per noi la via. Ma questa comunità della quale il Vescovo si prende cura – grande o piccola che sia – vive nel mondo; le sue condizioni, il suo cammino, il suo esempio e la sua parola influiscono inevitabilmente su tutto il resto della comunità umana nel suo insieme. Quanto più grande essa è, tanto più le sue buone condizioni o il suo eventuale degrado si ripercuoteranno sull’insieme dell’umanità. Vediamo oggi con molta chiarezza, come le condizioni delle religioni e come la situazione della Chiesa – le sue crisi e i suoi rinnovamenti – agiscano sull’insieme dell’umanità. Così il Papa, proprio come Pastore della sua comunità, è diventato sempre di più anche una voce della ragione etica dell’umanità.

Qui, però, emerge subito l’obiezione, secondo cui il Papa, di fatto, non parlerebbe veramente in base alla ragione etica, ma trarrebbe i suoi giudizi dalla fede e per questo non potrebbe pretendere una loro validità per quanti non condividono questa fede. Dovremo ancora ritornare su questo argomento, perché si pone qui la questione assolutamente fondamentale: Che cosa è la ragione? Come può un’affermazione – soprattutto una norma morale – dimostrarsi "ragionevole"? A questo punto vorrei per il momento solo brevemente rilevare che John Rawls, pur negando a dottrine religiose comprensive il carattere della ragione "pubblica", vede tuttavia nella loro ragione "non pubblica" almeno una ragione che non potrebbe, nel nome di una razionalità secolaristicamente indurita, essere semplicemente disconosciuta a coloro che la sostengono. Egli vede un criterio di questa ragionevolezza fra l’altro nel fatto che simili dottrine derivano da una tradizione responsabile e motivata, in cui nel corso di lunghi tempi sono state sviluppate argomentazioni sufficientemente buone a sostegno della relativa dottrina. In questa affermazione mi sembra importante il riconoscimento che l’esperienza e la dimostrazione nel corso di generazioni, il fondo storico dell’umana sapienza, sono anche un segno della sua ragionevolezza e del suo perdurante significato. Di fronte ad una ragione a-storica che cerca di autocostruirsi soltanto in una razionalità a-storica, la sapienza dell’umanità come tale – la sapienza delle grandi tradizioni religiose – è da valorizzare come realtà che non si può impunemente gettare nel cestino della storia delle idee.

Ritorniamo alla domanda di partenza. Il Papa parla come rappresentante di una comunità credente, nella quale durante i secoli della sua esistenza è maturata una determinata sapienza della vita; parla come rappresentante di una comunità che custodisce in sé un tesoro di conoscenza e di esperienza etiche, che risulta importante per l’intera umanità: in questo senso parla come rappresentante di una ragione etica.

Ma ora ci si deve chiedere: E che cosa è l’università? Qual è il suo compito? È una domanda gigantesca alla quale, ancora una volta, posso cercare di rispondere soltanto in stile quasi telegrafico con qualche osservazione. Penso si possa dire che la vera, intima origine dell’università stia nella brama di conoscenza che è propria dell’uomo. Egli vuol sapere che cosa sia tutto ciò che lo circonda. Vuole verità. In questo senso si può vedere l’interrogarsi di Socrate come l’impulso dal quale è nata l’università occidentale. Penso ad esempio – per menzionare soltanto un testo – alla disputa con Eutifrone, che di fronte a Socrate difende la religione mitica e la sua devozione. A ciò Socrate contrappone la domanda: "Tu credi che fra gli dei esistano realmente una guerra vicendevole e terribili inimicizie e combattimenti … Dobbiamo, Eutifrone, effettivamente dire che tutto ciò è vero?" (6 b – c). In questa domanda apparentemente poco devota – che, però, in Socrate derivava da una religiosità più profonda e più pura, dalla ricerca del Dio veramente divino – i cristiani dei primi secoli hanno riconosciuto se stessi e il loro cammino. Hanno accolto la loro fede non in modo positivista, o come la via d’uscita da desideri non appagati; l’hanno compresa come il dissolvimento della nebbia della religione mitologica per far posto alla scoperta di quel Dio che è Ragione creatrice e al contempo Ragione-Amore. Per questo, l’interrogarsi della ragione sul Dio più grande come anche sulla vera natura e sul vero senso dell’essere umano era per loro non una forma problematica di mancanza di religiosità, ma faceva parte dell’essenza del loro modo di essere religiosi. Non avevano bisogno, quindi, di sciogliere o accantonare l’interrogarsi socratico, ma potevano, anzi, dovevano accoglierlo e riconoscere come parte della propria identità la ricerca faticosa della ragione per raggiungere la conoscenza della verità intera. Poteva, anzi doveva così, nell’ambito della fede cristiana, nel mondo cristiano, nascere l’università.

È necessario fare un ulteriore passo. L’uomo vuole conoscere – vuole verità. Verità è innanzitutto una cosa del vedere, del comprendere, della theoría, come la chiama la tradizione greca. Ma la verità non è mai soltanto teorica. Agostino, nel porre una correlazione tra le Beatitudini del Discorso della Montagna e i doni dello Spirito menzionati in Isaia 11, ha affermato una reciprocità tra "scientia" e "tristitia": il semplice sapere, dice, rende tristi. E di fatto – chi vede e apprende soltanto tutto ciò che avviene nel mondo, finisce per diventare triste. Ma verità significa di più che sapere: la conoscenza della verità ha come scopo la conoscenza del bene. Questo è anche il senso dell’interrogarsi socratico: Qual è quel bene che ci rende veri? La verità ci rende buoni, e la bontà è vera: è questo l’ottimismo che vive nella fede cristiana, perché ad essa è stata concessa la visione del Logos, della Ragione creatrice che, nell’incarnazione di Dio, si è rivelata insieme come il Bene, come la Bontà stessa.

Nella teologia medievale c’è stata una disputa approfondita sul rapporto tra teoria e prassi, sulla giusta relazione tra conoscere ed agire – una disputa che qui non dobbiamo sviluppare. Di fatto l’università medievale con le sue quattro Facoltà presenta questa correlazione. Cominciamo con la Facoltà che, secondo la comprensione di allora, era la quarta, quella di medicina. Anche se era considerata più come "arte" che non come scienza, tuttavia, il suo inserimento nel cosmo dell’universitas significava chiaramente che era collocata nell’ambito della razionalità, che l’arte del guarire stava sotto la guida della ragione e veniva sottratta all’ambito della magia. Guarire è un compito che richiede sempre più della semplice ragione, ma proprio per questo ha bisogno della connessione tra sapere e potere, ha bisogno di appartenere alla sfera della ratio. Inevitabilmente appare la questione della relazione tra prassi e teoria, tra conoscenza ed agire nella Facoltà di giurisprudenza. Si tratta del dare giusta forma alla libertà umana che è sempre libertà nella comunione reciproca: il diritto è il presupposto della libertà, non il suo antagonista. Ma qui emerge subito la domanda: Come s’individuano i criteri di giustizia che rendono possibile una libertà vissuta insieme e servono all’essere buono dell’uomo? A questo punto s’impone un salto nel presente: è la questione del come possa essere trovata una normativa giuridica che costituisca un ordinamento della libertà, della dignità umana e dei diritti dell’uomo. È la questione che ci occupa oggi nei processi democratici di formazione dell’opinione e che al contempo ci angustia come questione per il futuro dell’umanità. Jürgen Habermas esprime, a mio parere, un vasto consenso del pensiero attuale, quando dice che la legittimità di una carta costituzionale, quale presupposto della legalità, deriverebbe da due fonti: dalla partecipazione politica egualitaria di tutti i cittadini e dalla forma ragionevole in cui i contrasti politici vengono risolti. Riguardo a questa "forma ragionevole" egli annota che essa non può essere solo una lotta per maggioranze aritmetiche, ma che deve caratterizzarsi come un "processo di argomentazione sensibile alla verità" (wahrheitssensibles Argumentationsverfahren). È detto bene, ma è cosa molto difficile da trasformare in una prassi politica. I rappresentanti di quel pubblico "processo di argomentazione" sono – lo sappiamo – prevalentemente i partiti come responsabili della formazione della volontà politica. Di fatto, essi avranno immancabilmente di mira soprattutto il conseguimento di maggioranze e con ciò baderanno quasi inevitabilmente ad interessi che promettono di soddisfare; tali interessi però sono spesso particolari e non servono veramente all’insieme. La sensibilità per la verità sempre di nuovo viene sopraffatta dalla sensibilità per gli interessi. Io trovo significativo il fatto che Habermas parli della sensibilità per la verità come di elemento necessario nel processo di argomentazione politica, reinserendo così il concetto di verità nel dibattito filosofico ed in quello politico.

Ma allora diventa inevitabile la domanda di Pilato: Che cos’è la verità? E come la si riconosce? Se per questo si rimanda alla "ragione pubblica", come fa Rawls, segue necessariamente ancora la domanda: Che cosa è ragionevole? Come una ragione si dimostra ragione vera? In ogni caso, si rende in base a ciò evidente che, nella ricerca del diritto della libertà, della verità della giusta convivenza devono essere ascoltate istanze diverse rispetto a partiti e gruppi d’interesse, senza con ciò voler minimamente contestare la loro importanza. Torniamo così alla struttura dell’università medievale. Accanto a quella di giurisprudenza c’erano le Facoltà di filosofia e di teologia, a cui era affidata la ricerca sull’essere uomo nella sua totalità e con ciò il compito di tener desta la sensibilità per la verità. Si potrebbe dire addirittura che questo è il senso permanente e vero di ambedue le Facoltà: essere custodi della sensibilità per la verità, non permettere che l’uomo sia distolto dalla ricerca della verità. Ma come possono esse corrispondere a questo compito? Questa è una domanda per la quale bisogna sempre di nuovo affaticarsi e che non è mai posta e risolta definitivamente. Così, a questo punto, neppure io posso offrire propriamente una risposta, ma piuttosto un invito a restare in cammino con questa domanda – in cammino con i grandi che lungo tutta la storia hanno lottato e cercato, con le loro risposte e con la loro inquietudine per la verità, che rimanda continuamente al di là di ogni singola risposta.

Teologia e filosofia formano in ciò una peculiare coppia di gemelli, nella quale nessuna delle due può essere distaccata totalmente dall’altra e, tuttavia, ciascuna deve conservare il proprio compito e la propria identità. È merito storico di san Tommaso d’Aquino – di fronte alla differente risposta dei Padri a causa del loro contesto storico – di aver messo in luce l’autonomia della filosofia e con essa il diritto e la responsabilità propri della ragione che s’interroga in base alle sue forze. Differenziandosi dalle filosofie neoplatoniche, in cui religione e filosofia erano inseparabilmente intrecciate, i Padri avevano presentato la fede cristiana come la vera filosofia, sottolineando anche che questa fede corrisponde alle esigenze della ragione in ricerca della verità; che la fede è il "sì" alla verità, rispetto alle religioni mitiche diventate semplice consuetudine. Ma poi, al momento della nascita dell’università, in Occidente non esistevano più quelle religioni, ma solo il cristianesimo, e così bisognava sottolineare in modo nuovo la responsabilità propria della ragione, che non viene assorbita dalla fede. Tommaso si trovò ad agire in un momento privilegiato: per la prima volta gli scritti filosofici di Aristotele erano accessibili nella loro integralità; erano presenti le filosofie ebraiche ed arabe, come specifiche appropriazioni e prosecuzioni della filosofia greca. Così il cristianesimo, in un nuovo dialogo con la ragione degli altri, che veniva incontrando, dovette lottare per la propria ragionevolezza. La Facoltà di filosofia che, come cosiddetta "Facoltà degli artisti", fino a quel momento era stata solo propedeutica alla teologia, divenne ora una Facoltà vera e propria, un partner autonomo della teologia e della fede in questa riflessa. Non possiamo qui soffermarci sull’avvincente confronto che ne derivò. Io direi che l’idea di san Tommaso circa il rapporto tra filosofia e teologia potrebbe essere espressa nella formula trovata dal Concilio di Calcedonia per la cristologia: filosofia e teologia devono rapportarsi tra loro "senza confusione e senza separazione". "Senza confusione" vuol dire che ognuna delle due deve conservare la propria identità. La filosofia deve rimanere veramente una ricerca della ragione nella propria libertà e nella propria responsabilità; deve vedere i suoi limiti e proprio così anche la sua grandezza e vastità. La teologia deve continuare ad attingere ad un tesoro di conoscenza che non ha inventato essa stessa, che sempre la supera e che, non essendo mai totalmente esauribile mediante la riflessione, proprio per questo avvia sempre di nuovo il pensiero. Insieme al "senza confusione" vige anche il "senza separazione": la filosofia non ricomincia ogni volta dal punto zero del soggetto pensante in modo isolato, ma sta nel grande dialogo della sapienza storica, che essa criticamente e insieme docilmente sempre di nuovo accoglie e sviluppa; ma non deve neppure chiudersi davanti a ciò che le religioni ed in particolare la fede cristiana hanno ricevuto e donato all’umanità come indicazione del cammino. Varie cose dette da teologi nel corso della storia o anche tradotte nella pratica dalle autorità ecclesiali, sono state dimostrate false dalla storia e oggi ci confondono. Ma allo stesso tempo è vero che la storia dei santi, la storia dell’umanesimo cresciuto sulla basa della fede cristiana dimostra la verità di questa fede nel suo nucleo essenziale, rendendola con ciò anche un’istanza per la ragione pubblica. Certo, molto di ciò che dicono la teologia e la fede può essere fatto proprio soltanto all’interno della fede e quindi non può presentarsi come esigenza per coloro ai quali questa fede rimane inaccessibile. È vero, però, al contempo che il messaggio della fede cristiana non è mai soltanto una "comprehensive religious doctrine" nel senso di Rawls, ma una forza purificatrice per la ragione stessa, che aiuta ad essere più se stessa. Il messaggio cristiano, in base alla sua origine, dovrebbe essere sempre un incoraggiamento verso la verità e così una forza contro la pressione del potere e degli interessi.

Ebbene, finora ho solo parlato dell’università medievale, cercando tuttavia di lasciar trasparire la natura permanente dell’università e del suo compito. Nei tempi moderni si sono dischiuse nuove dimensioni del sapere, che nell’università sono valorizzate soprattutto in due grandi ambiti: innanzitutto nelle scienze naturali, che si sono sviluppate sulla base della connessione di sperimentazione e di presupposta razionalità della materia; in secondo luogo, nelle scienze storiche e umanistiche, in cui l’uomo, scrutando lo specchio della sua storia e chiarendo le dimensioni della sua natura, cerca di comprendere meglio se stesso. In questo sviluppo si è aperta all’umanità non solo una misura immensa di sapere e di potere; sono cresciuti anche la conoscenza e il riconoscimento dei diritti e della dignità dell’uomo, e di questo possiamo solo essere grati. Ma il cammino dell’uomo non può mai dirsi completato e il pericolo della caduta nella disumanità non è mai semplicemente scongiurato: come lo vediamo nel panorama della storia attuale! Il pericolo del mondo occidentale – per parlare solo di questo – è oggi che l’uomo, proprio in considerazione della grandezza del suo sapere e potere, si arrenda davanti alla questione della verità. E ciò significa allo stesso tempo che la ragione, alla fine, si piega davanti alla pressione degli interessi e all’attrattiva dell’utilità, costretta a riconoscerla come criterio ultimo. Detto dal punto di vista della struttura dell’università: esiste il pericolo che la filosofia, non sentendosi più capace del suo vero compito, si degradi in positivismo; che la teologia col suo messaggio rivolto alla ragione, venga confinata nella sfera privata di un gruppo più o meno grande. Se però la ragione – sollecita della sua presunta purezza – diventa sorda al grande messaggio che le viene dalla fede cristiana e dalla sua sapienza, inaridisce come un albero le cui radici non raggiungono più le acque che gli danno vita. Perde il coraggio per la verità e così non diventa più grande, ma più piccola. Applicato alla nostra cultura europea ciò significa: se essa vuole solo autocostruirsi in base al cerchio delle proprie argomentazioni e a ciò che al momento la convince e – preoccupata della sua laicità – si distacca dalle radici delle quali vive, allora non diventa più ragionevole e più pura, ma si scompone e si frantuma.

Con ciò ritorno al punto di partenza. Che cosa ha da fare o da dire il Papa nell’università? Sicuramente non deve cercare di imporre ad altri in modo autoritario la fede, che può essere solo donata in libertà. Al di là del suo ministero di Pastore nella Chiesa e in base alla natura intrinseca di questo ministero pastorale è suo compito mantenere desta la sensibilità per la verità; invitare sempre di nuovo la ragione a mettersi alla ricerca del vero, del bene, di Dio e, su questo cammino, sollecitarla a scorgere le utili luci sorte lungo la storia della fede cristiana e a percepire così Gesù Cristo come la Luce che illumina la storia ed aiuta a trovare la via verso il futuro.

Dal Vaticano, 17 gennaio 2008

BENEDICTUS PP. XVI

"O Reno se lança no Tibre"


Fiquei muito feliz em saber da edição brasileira the "The Rhine flows into the Tiber", do padre norte-americano Ralph Wiltgen S.V.D. : O Reno se lança no Tibre: o concílio desconhecido. Niterói: Permanência, 2007. Primorosa diagramação, bela capa, preço razoável (R$30,00), esta obra nos conta, em 311 páginas, incluindo as notas, o desenrolar do Concílio Vaticano II e a proeminência das idéias dos episcopados alemão, holandês, belga, austríaco, francês e suíço nos textos finais do evento mais importante da história da Igreja do século XX. Obra importante devido a sua peculiaridade frente à hegemônica "História do Concílio Vaticano II" do grupo de historiadores de Bologna; não uma visão de todo diferenciada dessa "história", mas com novas perspectivas e informações sobre como as forças progressistas organizaram-se para imprimir seus desejos nos textos conciliares e como as hostes conservadoras se mobilizaram para tentar freiá-las. Wiltgen, fez um trabalho fantástico, na medida em que foi um observador direto do concílio. O verbita constituiu o que chamou de Divine World News Service (DWNS), uma agência de notícias sobre o concílio e que coletava informações dos padres conciliares, tanto liberais quanto conservadores. Em Roma, na Congregação do Verbo Divino, tive a oportunidade com Pe. Bossold, de dar uma olhada em todos os periódicos organizados por Wiltgen em várias línguas. Procurado constantemente pelos bispos conservadores, D. Antônio de Castro Mayer, D. Geraldo de Proença Sigaud e Mons. Marcel Lefebvre, já que estes não possuíam o aparato de informação gigantesco dos progressistas, o conhecido DO-C, Wiltgen publicou entrevistas de padres das várias tendências, o que demonstrava abertura e profissionalismo em seu jornalismo. Livro fundamental para quem deseja desenvolver um trabalho sobre o concílio, ou mesmo se informar mais profundamente sobre o evento que abalou o catolicismo mundial.

O grande Consolador



"Nell'eucaristia mangiamo tutti il pane, per la sua natura numericamente uno - Cristo, il quale non si lascia assimilare nella nostra sostanza corporea, ma, al contrario, ci assimila nel suo corpo e fa cosí di noi tutti un unico Cristo" (Joseph Ratzinger. Il Nuovo Popolo di Dio. Roma: Queriniana, 1992, p. 91)

Quando estava em Roma busquei aprofundar-me um pouco mais no pensamento do papa Bento XVI e encontrei essa pérola nesse seu famoso livro da década de 1970. Traduzo livremente: "Na eucaristia nós todos comemos o pão, pela sua natureza numericamente única - Cristo, aquele que não se deixa assimilar pela nossa substância corpórea, mas, ao contrário, nos assimila no seu corpo e faz assim de todos nós um único Cristo".
Essa foi a descoberta do início do ano: na comunhão não sou eu que assimilo Cristo, mas o seu Corpo, dito Corpo Místico de Cristo, que me assimila, que me faz Um com Ele, que me leva para dentro de Si, que me religa junto de seu divino amor. Como sou um ignorante sobre esse mistério maior, do poder desse alimento! Contudo, não me frusto: alimento-me, e isso me leva pra Ele... O Grande Consolador!

O Nada e Tu


"Ó Deus grandioso, Pai de todas as coisas, cuja infinita luz é trevas para mim, cuja imensidade me é como um Vácuo, chamaste-me, tirando-me de Ti mesmo, porque me amas em Ti. Eu sou uma expressão transitória de Tua inexaurível e eterna realidade. Se não me sustentasses unido a Ti no coração do teu Filho unigênito, eu não poderia conhecer-Te, estaria perdido nessa escuridão, cairia nesse vácuo desaparecendo de Ti.
Pai, eu Te amo, a Ti que não conheço. Te abraço sem ver-Te. Abandono-me a Ti a Quem ofendi. Amas em mim o Teu Filho unigênito. Vês a Ele em mim, abraças a Ele em mim, porque Ele quis identificar-se completamente comigo por aquele amor que O levou à morte, por mim, na Cruz."
Thomas Merton, em Diálogos com o Silêncio.

Quem tem medo do papa?

O rapto de Europa, Ticiano

Estive no Velho continente por dois meses. Entre estudos para minha tese de doutorado, em Bologna e Roma, e viagens, Firenza, venezia, Berlim, Barcelona, Amsterdam e Paris, pude apreender um pouco do que "essa" Europa. Entre paisagens maravilhosas, igrejas espetaculares (apaixonei-me com a catedral gótica de Barcelona, além da Notre-Dame, claro!), cidades belíssimas (Amsterdam é fantástica!), cultura "per fas et per nefas" ("a torto e a direito", bom que já explico o título do blog...), contrastes chocantes, se vislumbra que a Europa está doente. Sim, o berço do que chamamos de civilização ocidental está mal. Não se enxerga mais, não entende mais seu papel, não vê as oportunidades que se abrem para ser "Europa" com todo o seu vigor. E por que digo isso? Porque ela não aceita sua certidão de nascença. Revoltou-se com seu nascimento, não quer ser cristã, mesmo que seja impossível não sê-la.
Acompanhei de perto todo o problema em torno da visita de Bento XVI a universidade Sapienza. A grosseria do ato dos professores e de um bando de alunos, nostálgicos do "maio de 68" francês que completa esse ano, por sinal, 40 anos, fez com que o papa cancelasse sua aula e demonstrou um ranço laicista e intolerante que abre precedente triste e preocupante. Defendendo uma separação das esferas entre razão e fé, parece-me que os professores e os alunos conflagados contra o papa não sabem é definir, isso sim, o que seja razão, religião, os campos de uma e de outra, a necessidade premente de se pensar um novo contrato civil frente as duas dimensões do ser humano, que pra mim, claramente, fazem parte de uma só, e que, por seu turno, busca apenas uma coisa: a Verdade.
Nós já sabemos quanto o catolicismo e os católicos sofrem perseguições de todos os gêneros no Ocidente. Ser católico transformou-se em um tipo de ofensa à tolerância e à paz entre os povos. Por que? Porque ser católico siginifica acreditar em Jesus Cristo, na sua Verdade, na objetividade de sua mensagem, na sua completude e unicidade. Isso, para os fundamentalistas laicistas e relativistas, como queiram, não pode ser aceito e aprocura de enfraquecer a mensagem cristão vem de várias formas, a mais importante e preocupante através de uma teologia relativista como a de P. Knniter, por exemplo.
A falta de conhecimento sobre o pensamento de Joseph Ratzinger, misturada com informações de uma imprensa medíocre e por mais das vezes anti-católica, resultam em episódiso como esse de janeiro passado. Uma lástima! O discurso do papa, que teria pronunciado na Sapienza, era de um equilíbrio em seu teor, de uma racionalidade tal, que não seria entranho que alunos e professores ficassem vermelhos de vergonha com as suas "cientificidades". Na praça de São Pedro recebi o discurso e li ali mesmo esperando o Angelus. Estonteante. O que Bento XVI pede? Que não deixemos de buscar a verdade, o que é um dos escopos centrais da instituição universitária; que é algo que marca o ser humano como ser humano e renunciar a essa busca é insanidade e loucura. Claro, mensagem muito ácida para os fautores do relativismo insano. Acorde Europa! Assuma quem você é, se não, me parece, a tendência é de uma decadência abissal...Mas, enfim, depois de um período tenebroso sempre vêm uma nova síntese de luz, e penso que ela só será possível a partir do cristianismo, como sempre foi nesses dois mil anos de história européia.

Indicações bibliográficas:
PERA, Marcello; Ratzinger, Joseph. Senza radici: Europa, relativismo, cristianesimo, islam. Milano: Arnoldo Mondadori, 2004
HABERMAS, Jürgen. Tra scienza e fede. Roma-Bari: Laterza, 2006.