Jesus Cristo ressuscitou!

Resurrexi, et adhuc tecum sum. Alleluia!

"Ateísmo cristão"

Mais um livro do movimento ateísta militante chega às livrarias: "O espírito do ateísmo". André Comte-Sponville. Martins Fontes. Nesse domingo saiu uma boa crítica na Folha de S. Paulo escrita por Eduardo Rodrigues da Cruz. Um dos trechos que me chamou atenção foi: "O autor parece ter sido afetado por uma disposição muito comum na modernidade tardia: uma volta à espiritualidade, mas recusando o Deus cristão e sua igreja". Segundo Cruz, Comte-Sponville não pertence ao rol dos Dawkins da vida. O autor de "O espírito do ateísmo" defende o patrimônio cultural do cristianismo e mesmo sua espiritualidade. Interessante, não? Já comprei e só falta chegar. Lido, dou meu parecer.

O lógos está em todos nós

Alarguemos a razão!
O convite de Bento XVI traduz muito bem as necessidades de nossa contemporâneidade. A luta, ideologizada e instrumentalizada, entre fé e razão já chegou ao fim. Os boçais de carteirinha ainda afirmam e reafirmam tal conflito, o que no nível filosófico, e mesmo físico, já nos encontramos em construção de um novo olhar, um novo paradigma, para ficar no jargão acadêmico. Acredito que a noção de "senso religioso" construído por Luigi Giussani deve constituir o nosso ponto principal de se fazer presente nesse mundo. Nós temos uma tarefa importantíssima, que é de demonstrar que o homem é constituído essencialmente de perguntas e não fazê-las, o que caracteriza o relativismo, é desumanizá-lo. Alarguemos a razão! Não neguemos o nosso ponto mais íntimo, não neguemos o que nós somos: "sementes do Verbo", filhos de Deus. Semear é preciso. Na verdade, a semeadura já aconteceu quando Deus nos criou, o que nos falta é despertar para nossa mais íntima natureza. Mãos à obra!

Heitor Cony defende liberdade da Igreja

"Direito e dever
RIO DE JANEIRO - Como freqüentemente acontece com qualquer tipo de debate, a questão sobre as pesquisas com células-tronco está futebolizada -uma versão plebéia do velho e desgastado maniqueísmo, que demoniza a opinião contrária, atribuindo-a aos baixos instintos da humanidade, responsáveis por tudo o que acontece de ruim na história.O satã de plantão é a Igreja Católica e alguns de seus adeptos, que não aprovam as pesquisas sobre um assunto em que a ciência ainda não deu sua palavra final, uma vez que não chegou a determinar o ponto exato do começo da vida humana. A própria ciência percorre um caminho muitas vezes errado. De 50 em 50 anos, até em ciências exatas, como a física, as verdades são modificadas. O caso mais visível envolve dois gênios, Newton e Einstein.O ministro do STF que pediu vista do processo naquela Corte está sendo crucificado pelo fato de ser católico praticante, um direito que lhe assiste. Se a questão envolvesse homossexuais, liberdade de culto para as seitas afrobrasileiras, um magistrado que fosse homossexual ou adepto da umbanda não seria acusado de estar vendido ao movimento gay nem pressionado pelos diversos terreiros existentes. Teria reconhecido o direito de ter sua opinião -e seria até mesmo elogiado por isso[...]"

E a cruz venceu a morte

Vatican II: did anything happen?


Mais um livro, by Amzon.com, chega às minhas mãos. SCHULTENOVER, David G. (edited). Vatican II. Did anything happen? New York: Continuum, 2007. Como se vê pelo título, o livro, que é uma coletânea de artigos de vários estudiosos sobre o polêmico concílio, deixa bem claro: nada aconteceu a partir do Vaticano II? Tal pergunta nos leva a inferir que os artigos que a obra contém são marcados pela defesa da hermenêutica da descontinuidade. Tal hermenêutica foi, e ainda é, hegemônica dentro da Igreja, principalmente na Igreja latino-americana marcada pelo ranço da teologia da libertação. Defendida principalmente pelos historiadores de Bologna, especialmente Giuseppe Alberigo, com a sua História do Concílio Vaticano II em cinco volumes (no Brasil saiu só os dois primeiros pela editora Vozes. Por que? Ninguém quer ler tal história. Na verdade, é preciso ter muita disposição mental para tal tarefa), a leitura descontínua vêm tomando suas bordoadas. (Confiram, por exemplo, o discurso do papa Bento XVI aos cardeais no Natal de 2005). Dessa forma, o livro que apresento vêm com a marca indelével da defesa da descontinuidade. O Vaticano II é evento (eles se baseam nos textos de Pierre Nora sobre a "volta do evento") que irrompe na história e a partir dele tudo se renova, tudo se vivifica, é uma Igreja nova que nasce. Tal hermenêutica vai ser utilizada tanto pelos progressistas radicais como pelos ultra-conservadores (os primeiros para o bem, os segundo para o mal e a perdição). No livro, encontramos, por exemplo, o artigo do padre Joseph Komonchak, Vatican as an "event". O padre foi o organizador da edição americana da "História do Concílio..." de Bologna. O que não consigo compreender é que o debate em torno da hermenêutica do concílio parece um diálogo de surdos. Um defende de cá, o outro rebate de lá. Creio que assim não é possível construir uma compreensão mais clara de evento tão importante para nós católicos. E que é preciso. Pela nossa sobrevivência como cristãos. Bem, aqui o que interessa é uma apresentação da obra. Só uma observação: o nome da editora é Continuum. Peculiar para um livro "descontinuum"... Hehehe...
Sobre as interpretações do concílio logo sai um artigo meu em uma revista e posto aqui para todos.

Albert Camus e o nada


Albert Camus! O grande escritor da obra, para mim das mais importantes do seculo XX, "O homem revoltado", volta à baila com trechos de uma peça teatral intitulada "O improviso dos filósofos", na qual constróia uma crítica voraz ao pai do existencialismo Jean Paul Sartre. Leia o trecho abaixo publicado na Mais! da Folha de S. Paulo:


O mercador da nova doutrina


SR. NÉANT
- A bem dizer, não tenho exatamente uma profissão, tendo consagrado minha vida às coisas do espírito e nada sabendo fazer com as mãos. Mas há algum tempo, e por pura vocação, quis arrumar um ofício. Tornei-me mercador da nova doutrina.
SR. VIGNE - Isso é muito bom, meu senhor, e eu o felicito. Mas, suplico-lhe, o que é isso?
SR. NÉANT - Isso o quê?
SR. VIGNE - Um mercador da nova doutrina?
SR. NÉANT - É o ofício que me traz até aqui.
SR. VIGNE - Nesse caso, senhor, é o melhor dos ofícios e merece meus aplausos.
SR. NÉANT - Nunca duvidei de sua aprovação e por isso vim vê-lo. Pois aquilo que tenho a dizer não posso dizê-lo a todo mundo e escolhi, para expor as finas mercadorias de que disponho, homens como o senhor, que devem sua primazia ao caráter, aos costumes e ao gênio.
SR. VIGNE - É verdade que tenho verniz mundano e algumas conjecturas sobre as coisas do espírito, mas não sabia que minha modesta reputação tivesse chegado até o senhor.
SR. NÉANT - O fato é que chegou até Paris e seus trabalhos são conhecidos por lá.
SR. VIGNE - Meus trabalhos! Mas não me recordo de tê-los publicado.
SR. NÉANT - É verdade; entretanto, nós o conhecemos, e a melhor prova é que aqui estou.
SR. VIGNE - É preciso crer no que diz, com efeito, pois essa prova é irrefutável. Mas continue, sou todo ouvidos e já começo a sentir certa afeição pelo senhor.
SR. NÉANT - Então estamos de acordo. Para falar brevemente, eis o caso: trago-lhe o que se faz de melhor em Paris em matéria de filosofia e pretendo lhe mostrar todas as vantagens dela.
SR. VIGNE (espantado e gaguejando de satisfação) - Uma honraria dessa, meu senhor, uma honraria dessa me faz sonhar. Acho que vou perder a fala.
SR. NÉANT - Não se inquiete. Posso muito bem falar sozinho. Entretanto, se o seu fôlego voltar, gostaria de começar por duas questões, e a primeira consiste em saber se o senhor é religioso.
SR. VIGNE - Tenho alguma noção, senhor, das verdades da fé católica, na qual meus pais me criaram.
SR. NÉANT - Isso significa que o senhor vive no erro, pela razão de que essa verdade se encontra hoje desmentida.
SR. VIGNE - E por quem?
SR. NÉANT - Por este livro aqui.
SR. VIGNE - E que livro é esse?
SR. NÉANT - O novo evangelho do qual eu sou apóstolo.
SR. VIGNE - O senhor me deixa espantado; não ouvi dizer que o mundo havia recebido a visita de um novo messias.
SR. NÉANT - Mas assim é. E, para a graça de todos nós, vários messias estão agora em Paris.
SR. VIGNE - Vários? Isso não é demais?
SR. NÉANT (severamente) - Nos tempos atuais, não poderíamos ter messias em excesso.
SR. VIGNE (afobado) - Sem dúvida, sem dúvida, o senhor tem razão. Mas confesso que sinto alguma dificuldade em pensar que a religião em que vivi até agora...
SR. NÉANT - Essa religião, em todo caso, não cabe mais para as pessoas que estão na moda em Paris.
SR. VIGNE - Ah! Senhor, o que está me dizendo! A gente de Paris é racional demais para pensar nisso tudo em vão. E sua conversa me abre tantos horizontes que eu quero logo responder a sua segunda questão.
SR. NÉANT - O senhor acredita que tudo nesse mundo tem uma causa?
SR. VIGNE - É isso que aprendemos no colégio em que fiz meus estudos.
SR. NÉANT - Eia! Isso reforça minha opinião de que seria preciso, para dar exemplo, esfolar vivos duas ou três dúzias de professores, pois os seus o fizeram viver até hoje na mentira.
SR. VIGNE - Espere aí! O que quer dizer?
SR. NÉANT - Quero dizer, senhor, que nada tem causa e que tudo é acaso.
SR. VIGNE - Então eu estou aqui, diante do senhor, prefeito desta cidade, farmacêutico oficial, pai de uma bela filha e tudo isso, em suma, sem uma razão? Como pode ser assim?
SR. NÉANT - É que este mundo é absurdo.
SR. VIGNE - E por que este mundo é absurdo?
SR. NÉANT - Pela simples razão de que ele não se explica.
SR. VIGNE - E como não?
SR. NÉANT - Porque é absurdo.
SR. VIGNE - Caramba, agora eu vejo as coisas claras e me explico claramente porque esse mundo não se explica.
SR. NÉANT - É a sua inteligência que merece todas as honras.
SR. VIGNE - Meu Deus, como essa filosofia me dá prazer! Sinto que vou adotá-la sem demora.