Bento XVI e sua sucessão

Já tem gente e olho na sucessão papal. Em matéria sobre os três anos do pontificado de Bento XVI no jornal francês Le Figaro, Hervé Yannou sugere que o papa, de 81 anos, tem problemas no coração e que alguns nomes para a sucessão já estão sendo aventados, como os dos cardeais Tarcisio Bertone e Oscar Rodriguez Maradiaga. A pressa parece vir de fora da Igreja, mas pode refletir interesses internos também, já que Ratzinger não é unânime em sua atuação, como, por sinal, qualquer outro pontificado. Mas calma lá, vai! "Deixa o homem trabalhar!"

Paulo VI contra determinismo social

Paulo VI foi memorável em sua Encíclica Populorum Progressio. Em um de seus belos trechos exclama a autonomia do homem e demonstra-se totalmente contra qualquer teoria determinista:

"Ajudado, por vezes constrangido, por aqueles que o educam e o rodeiam, cada um, sejam quais forem as influências que sobre ele se exerçam, permanece o artífice principal do seu êxito ou do seu fracasso: apenas com o esforço da inteligência e da vontade, pode cada homem crescer em humanidade, valer mais, ser mais". (n. 15)

A alegria que nasce da fé


Do blog de Andrea Tornielli (http://blog.ilgiornale.it/tornielli).

Trecho do discurso de Bento XVI em St. Patrick no sábado passado:

"Talvez perdemos de vista que uma sociedade na qual a Igreja pareça ser legalista e 'institucional', o nosso desafio mais urgente é de comunicar a alegria que nasce da fé e a experiência do amor de Deus".

Sobre a dita "lei natural"

Primeiro: gostaria de indicar um site muito interessante dedicado aos estudos de Santo tomás de Aquino e sua grandiosa obra: http://www.aquinate.net/. Muuuuito bom!

Segundo: Ando interessando-me sobre a questão da "lei natural". Nós, historiadores, temos uma dificuldade enorme em aceitar teorias nas quais defendem que o homem, já sendo homem, tem "inscrito no coração" uma lei que deve ser cumprida. Já me abri muito nessa perspectiva, que é a perspectiva católica, baseada no pensamento aristotélico e escolástico. Contudo, preciso de mais referências sobre o tema. Indico um livro italiano aqui. O primeiro que leio sobre o tema, e que me ajudou muito. Claro que além dele temos a Encíclica Veritatis Esplendor de João Paulo II. Enfim, quem puder me ajudar, indique algo!

SCANDROGLIO, Tommaso. La legge naturale: un ritratto. Verona: Fede & Cultura, 2007.

Discurso de Bento XVI na ONU

Senhor presidente, senhoras e senhores; Ao dar início ao meu discurso nesta Assembléia, desejo antes de tudo exprimir ao senhor presidente, a minha sincera gratidão pelas palavras à mim dirigidas. Igual sentimento direciono também ao secretário-geral, o senhor Ban Ki-moon, por ter me convidado a visitar os departamentos centrais da Organização e pelas boas vindas que me deram. Saúdo os embaixadores e diplomatas dos estados membros e todos o que estão aqui presentes: através de vocês saúdo os povos aqui representados. Eles esperam desta Instituição que leve a diante a inspiração que guiou a sua fundação, um “centro de harmonização dos atos das nações na perseguição dos bens comuns”, a paz e o desenvolvimento (carta das Nações Unidas, art. 1.2-1.4). Como o papa João Paulo II disse em 1995 a Organização deveria ser “centro moral no qual todas as nações do mundo se sintam em casa, desenvolvendo a comum consciência de ser uma espécie de família das nações” (mensagem à Ass. Geral da ONU no 50º aniversário de fundação, Nova Iorque, 5 de outubro de 1995). Mediante as Nações Unidas, os países deram vida a objetivos universais mesmo não coincidindo com um bem comum total da família humana, sem dúvida representam uma parte fundamental deste próprio bem. Os princípios fundadores da Organização, o desejo da paz, a busca da justiça, o respeito pela dignidade da pessoas, a cooperação humanitária e a assistência, exprimem as jutas inspirações do espírito humano e constituem os ideais que deveriam basear as relações internacionais. Como os meus predecessores, Paulo VI e João Paulo II já observaram, neste mesmo lugar, se tratam de argumentos que a Igreja Católica e a Santa Sé seguem com atenção e com interesse, porque veêm na vossa atividade a maneira de regulamentar os conflitos que dizem respeito à comunidade mundial. As Nações Unidas encarnam a aspiração "um grau superior de orientação internacional" (JPII Sollicitudo rei socialis, 43), inspirado e governado pelo princípio auxílio, e portanto capaz de responder as perguntas da família humana mediante regras internacionais comuns e através de estruturas capazes de harmonizar o cotidiano dos povos.Isso é ainda mais necessário em um tempo no qual experimentamos o óbvio paradoxo de um consenso multilateral que continua em crise por causa da subordinação à decisão de uma minoria, enquanto os problemas do mundo exigem intervenções na forma de ação coletiva da parte da comunidade internacional. Questões de segurança, objetivos de desenvolvimento, redução das desigualdades locais e globais, proteção do meio ambiente, os recursos e o clima, pedem que todos os responsáveis internacionais ajam conjuntamente e demonstrem uma prontidão em trabalhar de boa fé no respeito da lei e na promoção da solidariedade diante das regiões mais necessitadas do planeta. Penso em particular nos países da África em outras partes do mundo que permanecem à margens de um autêntico desenvolvimento integral e correm o risco de experimentar sozinhos os efeitos negativos da globalização. No contexto das relações internacionais é necessário reconhecer o papel que as estruturas têm em promover o bem comum e em defender a liberdade humana. Tais regras não limitam a liberdade, pelo contrário a promovem quando proíbem comportamentos e atos que operam contra o bem comum, tornando-se um obstáculo, comprometendo assim a dignidade de cada pessoa humana. Em nome da liberdade deve existir uma correlação entre direitos e deveres com os quais cada pessoa é chamada a assumir as realidades das próprias escolhas feitas em conseqüência da relação com os outros. Deste modo o nosso pensamento se dirige ao modo como os resultados das descobertas da pesquisa científica e tecnológica foram aplicados. Não obstante aos grandes benefícios que a humanidade pode tirar deles, alguns aspectos de tais aplicações representam uma clara violação da ordem da criação a ponto de não contradizer somente o caráter sagrado da vida humana mas a própria violação da pessoa e da família em sua identidade natural. Do mesmo modo, a ação internacional, na busca de preservar o ambiente, e proteger as várias formas de vida sobre a terra não deve garantir somente um uso racional da tecnologia e da ciência, mas deve redescobrir a autêntica imagem da criação. Isto não exige nunca uma escolha entre ciência e ética, mas se trata de adotar um método científico que respeite verdadeiramente os imperativos da ética. O reconhecimento da unidade da família humana e a atenção pela dignidade de cada homem e mulher encontram hoje uma acentuação renovada no princípio da responsabilidade de proteção. Este princípio só foi definido recentemente, mas era implicitamente presente nas origens das Nações Unidas e agora torna-se sempre mais uma característica das atividades da organização. Cada país tem um dever primário de proteger a própria população das violações graves e contínuas dos Direitos Humanos e também das conseqüências das crises humanitárias provocadas, seja pela natureza, seja pelos homens. Se os países não são capazes de garantir tal proteção, a comunidade internacional deve intervir com os meios jurídicos previstos na Carta das Nações Unidas e com outros instrumentos internacionais. As ações da comunidade internacional e de suas instituições, quando baseadas no respeito dos próprios princípios, nunca devem ser interpretadas como uma imposição indesejada e um limite da soberania do país auxiliado. Ao contrário, é a indiferença ou a falta de intervenção que ocasionam um dano real. O que é necessário é a busca sempre mais profunda de modos de prevenir e controlar os conflitos explorando cada possibilidade através do diálogo diplomático prestando atenção e encorajando cada pequeno sinal de diálogo e desejo de reconciliação. O princípio da “responsabilidade de proteção” era considerado pelo antigo ius gentium como um fundamento de cada ação realizada pelos governantes ao confrontar outros governantes: no tempo em que o conceito de estados nacionais soberanos estava sendo desenvolvido, o frei dominicano Francisco de Vitória, considerado “precursor” do ideal das Nações Unidas, descreveu tal responsabilidade como um aspecto da razão natural comum entre todas as nações e como resultado de uma ordem internacional na qual o dever é organizar o relacionamento entre os povos. Assim como naquela época tal princípio deve remeter a idéia da pessoa como imagem do Criador e do desejo de uma absoluta e essencial liberdade. A fundação das Nações Unidas, como sabemos, coincide com um profundo desprezo experimentado pela humanidade quando foi abandonado o significado da transcendência e da razão natural e, por conseqüência, foram gravemente violadas a liberdade e a dignidade do homem. Quando isso acontece, são ameaçados os fundamentos dos valores que inspiram e governam a ordem internacional e são minados na base dos princípios invioláveis formulados e consolidados pelas Nações Unidas. Quando estamos diante de novos e insistentes desafios é um erro retornar a um comportamento pragmático limitado a determinar “um terreno comum”, minimizando seus efeitos e conteúdos. A referência à dignidade humana, que é o fundamento e objetivo a ser protegido, nos leva ao tema sobre o qual somos convidados a nos concentrar neste ano que marca o 60º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos. O documento foi resultado de uma convergência de tradições religiosas e culturais, todas motivadas pelo comum desejo de colocar a pessoa humana no centro das instituições, leis e atos da sociedade. Considerando a pessoa humana essencial para o mundo da cultura da religião e da ciência. Os direitos humanos são, cada vez, mais apresentados como linguagem comum e base ética para as relações internacionais. Ao mesmo tempo a universalidade, a indivisibilidade e a interdependência dos Direitos Humanos, servem como garantia para salvaguardar a dignidade humana. É evidente, todavia, que os direitos reconhecidos e delineados na Declaração se aplicam a cada um em virtude da comum origem da pessoa pois ela permanece sendo o ponto mais alto do desígnio criador de Deus para o mundo e para a história. Tais direitos estão baseados sobre a lei natural escrita no coração do homem e presente nas diversas culturas e civilizações, remover os direitos humanos deste contexto significaria restringir o seu espaço e ceder a uma concessão relativista, segundo a qual, os direitos poderiam ser negados em nome de contextos culturais, políticos, sociais e, por fim, religiosos. Não se deve, todavia, permitir que esta variedade de pontos de vista obscureça o fato de que não somente os direitos são universais, mas, também, a pessoa humana sujeita a estes direitos. A vida da comunidade, seja em nível interno ou internacional, mostra claramente como o respeito dos direitos e as garantias que os sustentam sejam medidas em comum e servem para avaliar o relacionamento entre justiça e injustiça, desenvolvimento e pobreza, segurança e conflito. A promoção dos Direitos Humamos permanece sendo a estratégia mais eficaz para eliminar as desigualdades entre países e grupos sociais, bem como, para um aumento. As vítimas do desespero de quem a dignidade humana é violada impunemente se tornam fáceis presas da insinuação da violência e podem se tornar instrumentos de violação da paz. Todavia, o bem comum que os direitos humanos ajudam a alcançar simplesmente com aplicações de procedimentos corretos e, nem mesmo, mediante um simples equilíbrio entre direitos contrastantes. O mérito da Declaração Universal é ter permitido, a diferentes culturas, expressões jurídicas e modelos institucionais, convergir em torno de um núcleo fundamental de valores e, portanto, de direitos. Mas hoje é necessário redobrar os esforços para manter os fundamentos da declaração e dificultar a proteção da dignidade humana somente por próprios interesses. A Declaração foi adotada como “comum concessão a ser perseguida” e não pode ser aplicada por facções, sendo, segundo tendência, ou escolhas seletivas que corram o risco de contradizer a unidade da pessoa humana e por isso a indivisibilidade dos Direitos Humanos. A experiência nos ensina que, freqüentemente, a legalidade prevalece sobre a justiça quando a insistência sobre os Direitos Humanos faz parecer como exclusivo resultado de providências legislativas ou de decisões tomadas por grupos que estão no poder. Quando são apresentadas, simplesmente, em termos de legalidade, os Direitos correm o risco de tornarem-se fracas proposições destacadas na dimensão ética e racional que é o seu real fundamento. A Declaração Universal destacou a convicção de que o respeito dos Direitos Humanos, que não mudam, tem sua raiz na justiça, sobre a qual se baseia a força comum das proclamações internacionais. Tal aspecto é freqüentemente violado quando se tenta privar os direitos de sua verdadeira função em nome de uma minoria utilitarista. Dado que os direitos e, conseqüentes deveres, seguem naturalmente a interação humana é fácil esquecer que tais direitos são frutos de um comum sentido de justiça baseado primariamente na solidariedade entre os membros da sociedade e, por isso, válidos para todos os povos. Esta intuição foi expressa desde o quinto século por Agostinho de Hipona, um dos mestres da nossa herança intelectual, que afirmou “não fazer aos outros aquilo que não gostaria que fosse feito a você”. Tal máxima “não pode, de modo algum, variar segundo as diversas compreensões presentes no mundo” (De doctrina christiana III). Por isso, os Direitos Humanos devem ser respeitados como expressão de justiça e não, simplesmente, por vontade dos legisladores.Senhoras e senhores,Enquanto a história procede, surgem novas situações e se tenta uni-las aos novos direitos. O discernimento, isso é a capacidade de distinguir o bem do mal, torna-se ainda mais essencial no contexto de exigências que dizem respeito às vidas e comportamentos das pessoas, das comunidades e dos povos. Afrontando tema dos direitos, uma vez que estão envolvidas situações importantes e realidades profundas o discernimento é uma virtude indispensável e frutuosa. O discernimento mostra que confiar, de maneira exclusiva, aos países com suas leis e instituições, a responsabilidade de atender as aspirações das pessoas, comunidades e povos inteiros, pode ter como conseqüência a exclusão de uma real ordem social que respeite a dignidade e os direitos da pessoa humana. Por outro lado, uma visão da vida sadiamente ancorada na dimensão religiosa pode ajudar a conseguir tais fins, dado que o reconhecimento do valor transcendente de cada homem e de cada mulher favorece a conversão do coração, que tem como conseqüência o empenho de resistir à violência, ao terrorismo e à guerra, promovendo a justiça e a paz. Isso fornece, ainda, um ambiente próprio para o diálogo inter-religioso que as Nações Unidas são chamadas a sustentar do mesmo modo que sustentam o diálogo entre outros campos da atividade humana. O diálogo deveria ser reconhecido como meio em que vários componentes da sociedade podem articular o próprio ponto de vista e construir um consenso em torno da verdade que diz respeito aos valores e objetivos particulares. É próprio na natureza das religiões livremente praticadas, o fato que pode, de maneira autônoma, conduzir a um diálogo de pensamento de vida. Se, também neste nível, a esfera religiosa é deixada separada da ação política, grandes benefícios para indivíduos e comunidades. Do outro lado, as Nações Unidas podem contar com o diálogo entre as religiões e tirar “proveito” da disponibilidade dos crentes em pôr as próprias experiências a serviço do bem comum. O seu dever é o de propor um visão da fé, não em termos de intolerância, de discriminação e conflitos, mas em termos de respeito total da verdade, da coexistência,dos direitos e da reconciliação.Obviamente os Direitos Humanos devem incluir os direitos à liberdade religiosa compreendido como expressão de uma dimensão ao mesmo tempo individual e comunitária, uma visão que manifesta a unidade da pessoa mesmo distinguindo claramente a dimensão de cidadão e de crente. As atividades das Nações Unidas nos últimos anos asseguraram que a opinião pública oferecesse espaço aos pontos de vista inspirados em uma visão religiosa em todas as suas dimensões, incluindo a ritual, culto, educação, difusão de informações, assim como a liberdade de expressar ou escolher uma religião. Por isso é inconcebível que os crentes devam suprimir uma parte de si mesmo – a sua fé – para serem cidadãos ativos; não deveria nunca ser necessário renegar Deus para gozar dos próprios direitos. Os direitos unidos com a religião devem ser protegidos quando considerados um conflito com a ideologia secular, e também com posições de uma maioria religiosa de natureza exclusiva. Não se pode limitar a plena garantia da liberdade religiosa ao livre exercício de culto; ao contrário, deve ser considerada a dimensão pública da religião e, portanto, a possibilidade dos crentes em fazerem parte da construção da ordem social. Na verdade, isto já está acontecendo, por exemplo, através do envolvimento dos crentes em uma rede de iniciativas que levam universidades, instituições científicas, escolas, hospitais e organizações caritativas ao serviço dos mais pobres e dos marginalizados. A recusa de reconhecer a contribuição a sociedade baseada na dimensão religiosa e na busca do absoluto – por sua natureza, expressão da comunhão entre pessoas - privilegiaria, sem dúvida, um comportamento individualista e fragmentaria a unidade da pessoa. A minha presença nesta Assembléia é um sinal de estima para as Nações Unidas e entendida como expressão de esperança que a Organização possa servir sempre mais como unidade entre os países e como instrumento para toda a família humana. Isso mostra também a vontade da Igreja Católica em oferecer uma contribuição, que lhe é própria, ao construir relações internacionais que permitam a cada pessoa e a cada povo a consciência de “fazer a diferença”. A Igreja trabalha ainda para a realização de tais objetivos através das atividades internacionais da Santa Sé, de modo coerente com a própria atividade d]na esfera ética e moral e com a livre atividade dos próprios fiéis. Sem dúvida, a Santa Sé sempre teve um lugar nas assembléias das Nações Unidas, manifestando assim, o próprio caráter específico no âmbito internacional. Como as Nações Unidas reafirmaram, recentemente, a Santa Sé oferece deste modo a contribuição segundo às disposições da Lei Internacional ajuda a defini-la e a ela faz referência.As Nações Unidas permanecem sendo um lugar privilegiado no qual a Igreja se empenha a levar a própria experiência “em humanidade”, desenvolvida ao longo dos séculos entre os povos de várias raças e culturas, colocando-a à disposição de todos os membros da comunidade internacional. Essa experiência e atividade dirigidas a obter a liberdade para cada fiel buscam ainda aumentar a proteção oferecida aos direitos da pessoa. Tais direitos são baseados e modelados sobre a natureza transcendente da pessoa, que permite a homens e mulheres percorrer seu caminho de fé e sua busca de Deus neste mundo. O reconhecimento desta dimensão pode ser reforçado se desejarmos sustentar a esperança desta humanidade de modo mais eficaz se desejarmos criar as condições para a paz, para o desenvolvimento, para a cooperação e para a garantia dos direitos das gerações futuras.Na minha recente encíclica Spe Salvi, sublinhei “que a sempre nova, cansativa busca de retas orientações é um dever de cada geração”(n. 25). Para os cristãos tal dever é motivado pela esperança que nasce da obra salvífica de Jesus Cristo. É por isso que a Igreja é feliz de ser associada às atividades desta ilustre Organização a qual é confiada a responsabilidade promover a paz e a boa vontade em todo o mundo. Caros amigos, eu os agradeço por esta oportunidade de me dirigir a vocês e prometo o sustento das minhas orações para prosseguimento do vosso nobre dever. Paz e prosperidade com a ajuda de Deus!

O discurso do papa em Washington

Senhor presidente,Obrigado pelas gentis expressões de boas vindas feitas a mim em nome do povo dos EUA. Aprecio profundamente seu convite para visitar este grande país. A minha vinda coincide com um momento importante da vida da comunidade católica na América, ou seja, a celebração do 2º centenário da elevação à Arquidiocese Metropolitana da 1ª Diocese do país, Baltimore, e a fundação das sedes de Nova Iorque, Boston, Filadélfia e Louisville. Sou também feliz de ser recebido por todos as americanos. Venho como amigo e anunciador do Evangelho, como alguém que respeita muito esta vasta sociedade pluralística. Os católicos americanos ofereceram e continuam a oferecer uma excelente contribuição à vida do país. Ao dar início à minha visita, penso que minha presença possa ser fonte de renovação e esperança para a Igreja nos EUA e reforce a determinação dos católicos a contribuir com maior responsabilidade na vida da nação, da qual são orgulhosos de pertencer.Desde o início da República, a busca por liberdade da América, foi guiada pela certeza de que os princípios que governam a vida política e social são intimamente ligados com a ordem moral baseada na lei de Deus Salvador. Os documentos que constituem esta nação se basearam, sob tal convicção, quando proclamaram a “verdade evidente por si mesma” de que todos os homens são criados iguais e dotados de inegáveis direitos fundados sobre a lei natural e sobre o Deus desta lei natural. O caminho da história americana evidencia as dificuldades, as lutas e a grande determinação intelectual e moral que foram necessárias para formar uma sociedade que incorporasse fielmente estes nobres princípios. Ao longo deste processo que plasmou a alma da nação, as crenças religiosas foram uma inspiração constante e uma força orientadora como, por exemplo, na luta contra a escravidão e no movimento pelos direitos civis. Até mesmo no nosso tempo, particularmente nos momentos de crise, os americanos continuam a encontrar forças no patrimônio religioso, partilhar os ideais e aspirações. Nos próximos dias, espero com alegria encontrar não somente a comunidade católica da América, mas também outras comunidades cristãs e representantes de muitas tradições religiosas presentes neste país. Historicamente, não somente os católicos, mas todos os crentes encontraram aqui liberdade de adorar a Deus segundo as regras da própria consciência, sendo ao mesmo tempo aceitos como parte de uma confederação na qual cada indivíduo e cada grupo pode fazer com que sua voz seja ouvida. Agora que a nação deve afrontar questões sempre mais complexas, seja na política ou na ética, acredito que os americanos poderão encontrar em suas crenças religiosas uma fonte de discernimento e uma inspiração para perseguir um diálogo racional, responsável e respeitoso, num esforço de edificar uma sociedade mais humana e mais livre.A liberdade não é somente um dom mais um apelo à responsabilidade pessoal e disso os americanos sabem por experiência. Quase todas as cidades deste país possuem os seus monumentos e rendem homenagem àqueles que sacrificaram a vida em defesa da liberdade seja na própria terra ou em outras. A defesa da liberdade chama a cultivar a virtude, autodisciplina, o sacrifício pelo bem comum e o sentido de responsabilidade diante dos menos favorecidos. Exige ainda a coragem de empenhar-se na vida civil, levando ao público um discurso racional de suas próprias crenças religiosas e valores mais profundos. Em uma palavra, a liberdade é sempre nova. Se trata de um desafio colocado a cada geração e deve ser constantemente vencido em favor do bem (Spe Salvi, 24). Poucos compreenderam isso tão claramente como João Paulo II, de venerada memória. Ao refletir sobre a vitória espiritual da liberdade sobre o totalitarismo, em sua Polônia e Europa Oriental, ele nos recordou que, em tantas ocasiões, a história evidencia que em um mundo “sem verdade, a liberdade perde o próprio fundamento” e uma democracia sem valores pode perder sua própria alma (Centesimus annus, 46). Essas palavras proféticas fazem eco, de certa maneira, na convicção do presidente Washington que expressou no seu discurso de despedida que a religião e a moral constituem “sustentos indispensáveis para a prosperidade política”.A Igreja, por sua parte, deseja contribuir na construção de um mundo sempre mais digno da pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus (Gn 1, 26-27). A Igreja é convicta que a fé trás uma luz nova sobre todas as coisas e que o Evangelho revela a nobre vocação e o sublime destino de cada homem e de cada mulher (Gaudium et spes, 10). A fé nos oferece, ainda, a força para responder à nossa alta vocação e à esperança que nos inspira a buscar uma sociedade sempre mais justa e fraterna. A democracia pode florir somente, como vossos pais fundadores bem sabiam, quando os líderes políticos são guiados pela verdade e possuem a sabedoria gerada do princípio moral para decidir a vida e o futuro da nação. Há mais de um século, os EUA desenvolveram um papel importante na comunidade internacional. Na próxima sexta feira, se for do agrado de Deus, terei a honra de dirigir a palavra à ONU, quando espero encorajar seus esforços atuais e, assim, render à instituição uma voz mais eficaz para as legítimas expectativas de todos os povos do mundo. A este respeito, no 60º aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem, a exigência de uma solidariedade global é mais exigente do que nunca, se desejamos que todos vivam de modo adequado a sua dignidade como irmãos e irmãs que habitam uma mesma casa em torno da mesa que a bondade de Deus preparou para todos os seus filhos. A América sempre se demonstrou generosa às necessidades humanas imediatas, promovendo o desenvolvimento e oferecendo consolo às vítimas de catástrofes naturais. Tenho confiança que estas preocupações, para a ampla família humana, continuarão a encontrar expressão no sustento e nos esforços pacientes da diplomacia internacional, voltada a resolver os conflitos e a promover o progresso. Assim as gerações futuras serão capazes de viver em um mundo onde a verdade, a liberdade e a justiça possam fluir. Um mundo onde a dignidade e os direitos dados por Deus a cada homem, mulher e criança sejam tidos em consideração, protegidos e promovidos eficazmente. Senhor presidente, caros amigos, neste momento em que dou início à minha visita aos EUA, quero exprimir, mais uma vez, minha gratidão pelo convite, a alegria de estar em meio a vocês e a minha fervorosa oração para que Deus onipotente confirme esta nação no seu povo, nas vias da justiça, da prosperidade e da paz. Deus abençoe a América!
Taí! Bento XVI, em seu discurso em Washington, reforça sua presença na Igreja dos Estados Unidos, elogia a laicidade do país e, de quebra, convida os norte-americanos a não deixar o papel, como deve ser o de toda grande potência, de "resolver os conflitos e promover o progresso". Claro, que o papa, ao falar da laicidade no país do Tio Sam, faz referência histórica à laicidade européia. Ratzinger vê problemas no Velho mundo, já que é possível perceber movimentos laicistas agressivos, e que não correspondem a uma laicidade sana, como a dos EUA.
Note: a laicidade surgida na Europa veio com a busca do 'espírito' europeu em se livrar da ingerência eclesiástica no âmbito estatal. Assim, como maior representante daquele mundo que deveria vir a baixo, o Antigo Regime, a Igreja amargou forte oposição laicista, virando às costas não só para a instituição, mas também para o Mistério, para Deus. Por outro lado, os EUA, terra prometida, carregava em si toda a potêncialidade de liberdade. Uma terra aberta a todos, não interessando a religião, que buscavam um lugar seguro para professar sua religiosidade livremente. Bento XVI fala de "patrimônio religioso", de "ordem moral". Reafirma a democracia ao dizer que ela só "pode florir somente, como vossos pais fundadores bem sabiam, quando os líderes políticos são guiados pela verdade e possuem a sabedoria gerada do princípio moral para decidir a vida e o futuro da nação". No fundo, mesmo estando nos EUA, vejo que seu discurso volta à Europa, àquela laicista e intolerante, aquela da "Sapienza" que não o deixou falar em janeiro passado, àquela que não olha e não assumi sua história e seu patrimônio, mas se vira para ele. Democracia sem verdade e sabedoria moral. O recado foi dado. Que venha a ONU!

Santo Atanásio contra os pagãos


"Assim, olhando o céu, e vendo sua ordem, sua beleza e a luz dos astros, é possível formar uma idéia do Logos que é o autor desta ordem; igualmente, quando se pensa no Logos de Deus, é necessário pensar também em Deus seu Pai: procedente dele, o Logos é com razão chamado intérprete e mensageiro do Pai; e isto também pode-se vê-lo segundo o que sucede em nós. Efetivamente, quando o homem produz o seu verbo, concebemos que a fonte deste verbo é o espírito; e, portanto, nossa atenção a este verto, nosso raciocínio vê o espírito do qual é sinal. Com mais forte razão, e por uma consideração que a supera incomparavelmente, vendo o poder do Verbo, concebemos uma idéia do seu bom Pai, como disse o próprio Salvador: 'Quem me vê, vê também o Pai'(Jo 14,9)". Santo Atanásio, Contra os pagãos, n. 45

Os dez mandamentos da serenidade do papa João XXIII

1. Só por hoje tratarei de viver exclusivamente este meu dia, sem querer resolver o problema da minha vida, todo de uma vez.
2. Só por hoje terei o máximo cuidade com o meu modo de tratar os outros; delicado nas minhas maneiras; não criticar ninguém; não pretenderei melhorar ou disciplinar ninguém senão eu mesmo.
3. Só por hoje me sentirei feliz com a certeza de ter sido criado para ser feliz não só no outro mundo, mas também neste.
4. Só por hoje me adaptarei às circunstâncias, sem pretender que as circunstâncias, se adaptem todas aos meus desejos.
5. Só por hoje dedicarei dez minutos do meu tempo a uma boa leitura, lembrando-me que assim como é preciso comer para sustentar o meu corpo, assim também a leitura é necessária para alimentar a vida da minha alma.
6. Só por hoje praticarei uma boa ação sem contá-la a ninguém.
7. Só por hoje farei uma coisa de que não gosto e se for ofendido nos meus sentimentos procurarei que ninguém saiba.
8. Só por hoje me farei um programa bem completo do meu dia. Talvez não o execute perfeitamente, mas em todo o caso, vou fazê-lo. E me guardarei bem de duas calamidades: a pressa e a indecisão.
9. Só por hoje ficarei bem firme na fé, de que a Divina Providência se ocupa de mim como se estivesse somente eu no mundo - ainda que as circunstâncias manifestem o contrário.
10. Só por hoje não terei medo de nada. Em particular, não terei medo de gozar do que é belo e não terei medo de crer na bondade.
Durante doze horas de um dia posso fazer bem o que me desanimaria se pensasse que teria que fazê-lo durante toda a minha vida.
(Traduzido da revista Espanhola "Mensageiro", n. 997, p. 59)