Um drink para 68

Como era fácil ser de "esquerda" no Ocidente, tomando champanhe francês e lendo Jean Paul Sartre tranquilamente em uma praça do Quartier Latin. Enquanto milhares de pessoas eram massacradas na China comunista, na Cuba fidelista e na Cortina de Ferro, principalmente a Tchecoslováquia, que teve também seu "maio de 68" sendo invadida por tanques russos, os jovens franceses enchiam a cara de Veuve Clicquot, matavam a ressaca com água Perrier e propagandeavam o seu "É proibido proibir" à sombra de bandeiras de Mao e Guevara. Lindo, belíssimo, comovente! Que preço pagamos por ele ainda hoje?


Piano Concerto No. 1 in B Flat Minor
+
C. S. Lewis

=

Magnânimidade

Bizarrice genética

Nessa semana que passou foi aprovada no Reino Unido a dita "lei Frankenstein". Que significa? Está aprovado o uso pelos cientistas britânicos de embriões híbridos, ou seja, células animais com material genético humano. Avançam mais um estágio na instauração de uma nova ordem moral e ética que passará a surgir num futuro nem tão longínquo. Fora a bizarrice intrínseca ao projeto, o uso desse tipo de pesquisa atenta frontalmente contra a dignidade humana. Misturar elementos animais com humanos é um ato de atentado à natureza humana e à lei natural.
___________________________________________________________

Lembram quando procurava livros sobre "lei natural"? Pois é. Estou lendo um que explica tão claramente que é o melhor para os não estudiosos. "Cristianismo puro e simples", de C.S. Lewis. (Martins Fontes).
Outro que leio paralelamente ao de Lewis é o do filósofo alemão Jürgen Habermas, "O futuro da natureza humana" (Martins Fontes), no qual discuti as implicações éticas de uma suposta "eugenia liberal". Bem, interessante...

Bento XVI criticado por Umberto Eco

Refletindo sobre a Igreja Católica, Umberto Eco dispara em entrevista publicada no caderno Mais! de ontem:

"Está ocorrendo um retrocesso ao século 19, quando havia um confronto entre o Estado liberal e a igreja. De quem é a responsabilidade por isso? Não é por acaso que esse confronto tenha se acirrado com a chegada de ratzinger [o papa Bento XVI]: portanto, talvez se deva à política clerical do novo pontífice. Sua luta contra a cultura moderna, o chamado relativismo, voltou aos grandes temas da igreja do século 19, que falava contra a revolução e contra a ciência moderna [...] Subiu ao trono um papa que pensa como um papa do século 19".

Não poderíamos cair num anacronismo fácil esse de falar que Bento XVI pensa como um pontífice do século XIX. Isso, por si mesmo, é impossível. Ratzinger fala 'depois' do Vaticano II e esse fator deve ser tomado como ponto de partida. Não podemos também cair em discursos que insistem em uma "volta à tradição", ou reacionarismo teológico desse papado. A história da Igreja do século XX é mais complexa que nossos conceitos cheios de ideologismos podem expressar.
Eco acerta num ponto: a questão do relativismo. De fato, esse tema já era tratado no contexto oitocentista, mas a partir da categoria do indiferentismo. Se o papa atual "pensa como um papa do século 19", significa deduzir que os problemas do século XIX estão ainda presentes no século XXI. Não significa dizer que o papa pensa como um papa oitocentista simplesmente por que não tem visão histórica, ou por ser fruto de uma escolha anteriormente deliberada. Bento XVI sabe dos desafios que a Igreja tem pela frente, mas simplesmente não é tão facilmente transigente com a modernidade como alguns acham que "deveria ser". Hoje não ocorre nenhum "retrocesso ao século 19, quando havia um confronto entre o Estado liberal e a Igreja". A Igreja tem consciência dos limites da teoria liberal e por todo o século XX buscou acertar suas contas com ele. Porém, nada ainda resolvido. E nem sabemos quando se resolverá.

Clodovis Boff: o revisionista da 'libertação'


Em artigo de outubro de 2007, Clodovis Boff, um dos grandes nomes da dita Teologia da Libertação (TdL), faz uma dura crítica à idéia central desta teologia: os pobres como lugar epistemológico-soteriológico de salvação. Depois de mais de 20 anos da condenação por parte da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, na famosa Instrução sobre Alguns Aspectos da Teologia da Libertação, um grande nome da TdL constrói um olhar mais crítico frente aquela que foi um dia hegemônica no cenário latino-americano. Uma interessante tarefa será uma comparação entre o que escreveu junto com seu irmão, Leonardo Boff, em vista da citada Instrução (Revista Eclesiástica Brasileira, n. 44, Fasc. 173, março, 1984)e o que escreve no último artigo que tece novas considerações sobre a problemática. Abaixo segue o resumo do artigo, escrito pelo próprio autor.


TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO E VOLTA AO FUNDA-MENTO
Por Fr. Dr. Clodovis M. Boff, OSM

Síntese: Quer-se mostrar aqui que a Teologia da Libertação partiu bem, mas, devido à sua ambigüidade epistemológica, acabou se desencaminhando: colocou os pobres em lugar de Cristo. Dessa inversão de fundo resultou um segundo equívoco: instrumentalização da fé "pa-ra" a libertação. Erros fatais, por comprometerem os bons frutos desta oportuna teologia. Nu-ma segunda parte, expõe-se a lógica da Conferência de Aparecida, que ajuda aquela teologia a "voltar ao fundamento": arrancar de Cristo e, a partir daí, resgatar os pobres. (Do site do Instituto Teológico Franciscano)