Mas, "o que buscais?"


Publicado no Jornal O Lutador de Belo Horizonte em 21 de julho de 2008

“O que buscais?”: a pergunta que não quer calar

“O que buscais?” (Jo 1, 38). Essa pergunta curta, mas profunda em seu significado, é uma das mais prementes da existência de um homem e de uma mulher. Nela está contida toda uma vida, toda uma trajetória por se fazer, até mesmo uma memória a se construir. “O que buscais?”, na verdade, é uma pergunta curta, mas nada fácil. Em sua brevidade sintática impõe-se todo o destino de um ser humano em vistas de sua plena realização. Contudo, quem se interessa em respondê-la? Quem despende algum tempo na investigação de sua resposta? Num mundo marcado pelas necessidades materiais mais básicas, pelo corre-corre diário em vista de outras tantas “necessidades materiais” não tão básicas assim, o homem contemporâneo não tem tempo para tal investigação. Não tem tempo para uma investigação de si mesmo, de seu destino. Como nos diz D. Giussani, “normalmente na vida, para todas as pessoas, é sério o problema do dinheiro, é sério o problema dos filhos, é sério o problema do homem e da mulher, é sério o problema da saúde é sério o problema político. Para o mundo, tudo é sério, exceto a vida”. Ao agir, sem seriedade frente ao “problema da vida”, o homem torna-se menos humano, pois uma das grandes características do ser humano é perguntar-se sobre o sentido, a vida e o sentido da vida. Sei bem que nem todo mundo tem vocação para filósofo, o que seria um contra-senso da natureza se assim o fosse. Entretanto, existe uma vocação inata a todos os seres ditos humanos: pensar. A razão, como demonstrou um dia o filósofo grego Aristóteles, é o principal atributo do homem, de sua natureza. Assim, como nos diz o papa Bento XVI, não usá-la é ir contra Deus, a Razão Universal, o Logos originário, o Verbo, do qual comungamos como criaturas pensantes.

Mas “o que buscais?” Todo mundo procura por algo, todos os indivíduos buscam a felicidade, a paz, o amor, a verdade. Conscientemente ou não, as pessoas, nos cantos mais recônditos de seus corações, anseiam pelo todo, pelo significado de tudo a sua volta. É a saudade das coisas que ainda não foram, uma nostalgia, não raras vezes melancólica, do tudo, de se ver realizado completamente. De se ver amado, querido, acolhido e levado a sério. Na nossa passagem terrestre encontramos algumas pessoas que apontam nesse caminho e se encontram em torno de nós. Nossos pais, nos primeiros momentos da vida, alguns amigos e companheiros que encontramos nos esbarrões da vida cotidiana, nossa esposa ou esposo. Porém, como somos humanos, e o humano cai, erra, equivoca-se, o amor, a compreensão, o cuidado, são sempre limitados, mesmo quando exercido com o coração mais puro. Contudo, isso não tira o seu valor intrínseco. Aliás, assinala, expõe e descortina a constituição de nosso ser. Realça o que realmente nos falta e remete Àquele a quem nos dá tudo e nos sustenta em nossas fragilidades e debilidades: Deus Pai. Nosso início, meio e fim.

“O que buscais?” Essa pergunta de Jesus quer nos fazer pensar, refletir e assumir o nosso papel como pessoas na realidade circundante. Quer que assumamos nossa humanidade profundamente. Quer nos colocar frente a frente com nós mesmos, fazendo-nos assumir toda a realidade, todo o Mistério que a constitui. Jesus nos convida para que tomemos posse dela. Tomar posse dessa realidade que nos transcende, que vai além de minha capacidade de compreensão, é tomar posse de si mesmo. É encontrar-se. E encontrar-se é encontrar com Aquele Outro que nos constitui por inteiro, onde se dependura nossa existência. Desta forma, a liberdade, anseio humano dos mais profundos, é a nossa capacidade de aderir a essa realidade, afirmá-la continuamente, pois só assim afirmaremos também o homem e começaremos a cumprir nossa missão de instituir um humanismo integral.

1 comentários:

R. B. Canônico disse...

Maravilhoso, Rodrigo!

Esse texto é realmente desafiador, as palavras de D Giussani também são desafiadoras...

Viver é um desafio! Quem quer fugir disso é um covarde, e não ganha a recompensa que lhe é devida, que é a felicidade! Apenas quem se arrisca a alcança! E o grande risco é assumir a sua propria cruz...

Hoje as pessoas se 'mexem' muito, mas não saem do lugar... justamente por nao vislumbrarem um fim no caminho que seguem... e acabam ficando sem rumo!

Sobre os textos que vc pediu, em breve mando comentários e dicas por email! Vc comprou Sulco, Caminho, e Forja? São preciosidades mesmo!

Abraços!