Uma resposta aos autores da carta ao Papa sobre a prevenção da Aids
Com a leitura da carta endereçada por vocês a Bento XVI, no Le Monde do dia 25 de março, nós nos perguntamos se ainda é possível refletir sobre o sentido da sexualidade humana, dos comportamentos e dos modelos sexuais que uma sociedade gera, sem que rapidamente nos ordenem que nos calemos, em nome de uma visão puramente tecnológica sobre o assunto e que, de resto, não leva em consideração todos os estudos epidemiológicos.
Hoje, na imprensa, discute-se e focaliza-se sobre um grupo de palavras pronunciadas por Bento XVI: "(...) o que pode aumentar o problema". Para o Papa, não se trata de examinar os eventuais danos do objeto profilático por meio de rupturas ou de mau usos, nem de evocar a sua resistência e a hipótese da sua porosidade.
O problema não se refere a esse aspecto, que deve continuar sendo tratado pelos laboratórios de fabricação e pelos médicos. Mas ele não é a medida preventiva mais eficaz. Com efeito, em muitos países africanos, a proporção das pessoas portadoras do vírus é muito elevada para que a epidemia seja contida somente pelo preservativo.
Muitos epidemiologistas que trabalham no campo da luta contra a epidemia do HIV na África se assombram com a falta de informação que as posições contra a declaração do Papa revelam. Por exemplo, Edward Green, diretor do APRP (Aids Prevention Research Project) da universidade de Harvard, disse durante uma entrevista falando da África: "Teoricamente, o preservativo deveria funcionar, e, teoricamente, uma utilização do preservativo deveria levar a melhores resultados com relação à não utilização. Mas isso é teórico... Nós não encontramos uma relação entre uma utilização mais frequente do preservativo e uma redução das taxas de contaminação pelo HIV" ("Harvard Researcher Agrees with Pope on Condoms in África", Catholic News Agency, março de 2009).
Não há nenhum país com uma epidemia generalizada que tenha conseguido diminuir a proporção da população infectada pelo HIV graças às campanhas centradas só na utilização do preservativo. Os casos de diminuição de transmissão do HIV publicados na literatura científica estão associados à prática da "abstinência" e da "fidelidade" além do preservativo, na tríade ABC, abstinência (A), fidelidade (B, para "be faithful", em inglês, seja fiel) e a utilização do preservativo (C, para "condom").
Em outros termos, só os programas que recomendaram seriamente o adiamento da atividade sexual dos jovens e a monogamia recíproca (o que os cristãos chamam de fidelidade) foram coroados com sucesso. É o que ilustrou o famoso estudo referente à Uganda ("Population-Level HIV Declines and Behavioral Risk Avoidance in Uganda", Rand L. Stoneburner e Daniel Low-Beer, Science, 30-04-2004; "Reassessing HIV Prevention", M. Potts, D. Halperin e al. Science, 09-05-2008).
Os únicos países que conseguiram diminuir a prevalência são os que introduziram o A e o B em todos os setores da sociedade, da escola, das empresas, da universidade, da imprensa, das igrejas ("The Time Has Come for Common Ground on Preventing Sexual Transmission of HIV", D. Halperin, M.J. Steiner, M.M. Cassell, E.C. Green, N. Hearst, D. Kirby, H.D. Gayle, W. Cates, Lancet, novembro-dezembro de 2004).
A Igreja católica propõe o A e o B desde sempre. Os especialistas da epidemiologia destacam que a abstinência e a fidelidade evitaram, até hoje, seis milhões de mortes na África.
O Papa indica que "podemos agravar o problema" da Aids se os programas de prevenção se apoiarem somente no preservativo. Esse também é o estado do conhecimento em matéria de saúde pública e de epidemiologia. Os programas de prevenção centrados no preservativo dão uma mensagem inadequada à população em geral e particularmente aos jovens. Eles veiculam a mensagem: "Tudo o que vocês fizerem com o sexo está em completa segurança, sem riscos, desde que utilizem o preservativo".
O que é falso. Com efeito, esse tipo de campanha leva geralmente a um fenômeno de compensação dos riscos. Se as pessoas se sentem com 100% de segurança desde que usem os preservativos, elas têm a tendência de correr maiores riscos. Por exemplos, os jovens que ainda não tiveram relações sexuais começam a ter, ou aqueles que mantêm relações sexuais começam a ter mais parceiros – exatamente daquilo que o HIV precisa para se propagar.
Esse fenômeno de compensação foi amplamente descrito na literatura científica. Estudos foram realizados particularmente com amostras representativas da juventude nas Filipinas, em El Salvador ou também na Espanha. Em cada um dos casos, os jovens que acreditam que os preservativos são 100% eficazes têm a tendência de ter relações sexuais mais cedo, um fenômeno clássico de compensação dos riscos.
O discurso do Papa é realista e justo: nos interroga sobre uma visão da prevenção limitada só ao preservativo. Adota um ponto de vista antropológico e moral, compreensível por todos, para criticar uma orientação unicamente tecnológica que, sozinha, não é capaz de controlar a pandemia, como a ONU também mostrou. No espaço de 25 anos, essas campanas centradas no preservativo não conseguiram reduzir a pandemia. Compreende-se o discurso exclusivamente tecnológico se a escolha é rejeitar a abstinência e a fidelidade.
Porém, uma atitude diferente deve ser igualmente proposta, que faça maior apelo ao sentido da consciência humana e da responsabilidade: na realidade, trata-se de um percurso pedagógico que faça referência ao sentido dos comportamentos sexuais. Mas essa perspectiva, damo-nos conta, dificilmente é levada em consideração hoje no discurso social ligado a um pensamento pragmático. O preservativo tornou-se uma espécie de tabu não criticável, um fetiche que, curiosamente, deveria participar da definição da sexualidade. Não é um modo cínico de mascarar as interrogações? Devemos chegar à ideia de que o preservativo protege de tudo, até do pensamento?
Refletir sobre os comportamentos sexuais torna-se penoso a tal ponto que provoca a ira de muitos militantes e ideólogos da questão. Nesse sentido, as declarações do Papa não são "regressivas": ao contrário, nos levam para fora da regressão e nos convidam a nos confrontar com os fatos e com as questões em jogo.
O Papa fala dos homens e da sua vida. O que a imprensa europeia não diz, os africanos souberam escutar durante a sua viagem. Os africanos denunciam a parcialidade da imprensa ocidental, afirmando que, uma vez mais, eles estão enganados com relação à sua história, aos seus recursos e à sua vida, invadindo-os com uma ideologia comportamental que revoltam as suas culturas. Existem atitudes morais que humanizam a expressão sexual. O preservativo, como meio de prevenção na luta contra a Aids, não é um princípio de vida, nem um modo de personalizar e de humanizar a sexualidade, nem mesmo o único objetivo da prevenção. Quando não se apresenta um caminho de educação ao sentido da responsabilidade, da sexualidade vivida no respeito de si e do outro e no sentido do compromisso e da fidelidade. O excesso de desregulação financeira nos leva a um impasse. O que resultará de um abandono das referências morais da sexualidade?
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