“Entrar na relação pura não significa prescindir de tudo, mas sim ver tudo no Tu; não é renunciar ao mundo mas sim proporcionar-lhe fundamentação. Afastar o olhar do mundo não auxilia a ida para Deus; olhar fixamente nele tamém não faz aproximar de Deus, porém, aquele que contempla o mundo em Deus, está na presença d’Ele. ‘Aqui o mundo, lá Deus’ tal é uma linguagem do Isso; assim como ‘Deus no mundo’ é outra linguagem do Isso. Porém, nada abandonar, ao contrário, incluir tudo, o mundo na sua totalidade, no Tu, atribuir ao mundo o seu direito e sua verdade, não compreender nada fora de Deus mas apreender tudo nele, isso é a relação perfeita. Não se encontra Deus permanecendo no mundo, e tão pouco encontra-se Deus ausentando-se dele: Aquele que, com todo o seu ser, vai de encontro ao seu Tu e lhe oferece todo ser do mundo encontra-o, Ele que não se pode procurar. Sem dúvida Deus é o ‘totalmente Outro’, Ele é porém o totalmente mesmo, o totalmente presente. Sem dúvida, ele é o ‘mysterium tremendum’ cuaja aparição nos subjuga, mas Ele é também o mistério da evidência que me é mais próximo do que o meu próprio Eu. Na medida em que tu sondas a vida das coisas e a natureza da relatividade, chegas até o insolúvel; se negas a vida das coisas e da relatividade, deparas com o nada; se santificas a vida, encontras o Deus vivo.”
Martin Buber, no livro Eu e Tu.
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