Jesus Cristo ressuscitou!

Resurrexi, et adhuc tecum sum. Alleluia!

"Ateísmo cristão"

Mais um livro do movimento ateísta militante chega às livrarias: "O espírito do ateísmo". André Comte-Sponville. Martins Fontes. Nesse domingo saiu uma boa crítica na Folha de S. Paulo escrita por Eduardo Rodrigues da Cruz. Um dos trechos que me chamou atenção foi: "O autor parece ter sido afetado por uma disposição muito comum na modernidade tardia: uma volta à espiritualidade, mas recusando o Deus cristão e sua igreja". Segundo Cruz, Comte-Sponville não pertence ao rol dos Dawkins da vida. O autor de "O espírito do ateísmo" defende o patrimônio cultural do cristianismo e mesmo sua espiritualidade. Interessante, não? Já comprei e só falta chegar. Lido, dou meu parecer.

O lógos está em todos nós

Alarguemos a razão!
O convite de Bento XVI traduz muito bem as necessidades de nossa contemporâneidade. A luta, ideologizada e instrumentalizada, entre fé e razão já chegou ao fim. Os boçais de carteirinha ainda afirmam e reafirmam tal conflito, o que no nível filosófico, e mesmo físico, já nos encontramos em construção de um novo olhar, um novo paradigma, para ficar no jargão acadêmico. Acredito que a noção de "senso religioso" construído por Luigi Giussani deve constituir o nosso ponto principal de se fazer presente nesse mundo. Nós temos uma tarefa importantíssima, que é de demonstrar que o homem é constituído essencialmente de perguntas e não fazê-las, o que caracteriza o relativismo, é desumanizá-lo. Alarguemos a razão! Não neguemos o nosso ponto mais íntimo, não neguemos o que nós somos: "sementes do Verbo", filhos de Deus. Semear é preciso. Na verdade, a semeadura já aconteceu quando Deus nos criou, o que nos falta é despertar para nossa mais íntima natureza. Mãos à obra!

Heitor Cony defende liberdade da Igreja

"Direito e dever
RIO DE JANEIRO - Como freqüentemente acontece com qualquer tipo de debate, a questão sobre as pesquisas com células-tronco está futebolizada -uma versão plebéia do velho e desgastado maniqueísmo, que demoniza a opinião contrária, atribuindo-a aos baixos instintos da humanidade, responsáveis por tudo o que acontece de ruim na história.O satã de plantão é a Igreja Católica e alguns de seus adeptos, que não aprovam as pesquisas sobre um assunto em que a ciência ainda não deu sua palavra final, uma vez que não chegou a determinar o ponto exato do começo da vida humana. A própria ciência percorre um caminho muitas vezes errado. De 50 em 50 anos, até em ciências exatas, como a física, as verdades são modificadas. O caso mais visível envolve dois gênios, Newton e Einstein.O ministro do STF que pediu vista do processo naquela Corte está sendo crucificado pelo fato de ser católico praticante, um direito que lhe assiste. Se a questão envolvesse homossexuais, liberdade de culto para as seitas afrobrasileiras, um magistrado que fosse homossexual ou adepto da umbanda não seria acusado de estar vendido ao movimento gay nem pressionado pelos diversos terreiros existentes. Teria reconhecido o direito de ter sua opinião -e seria até mesmo elogiado por isso[...]"

E a cruz venceu a morte

Vatican II: did anything happen?


Mais um livro, by Amzon.com, chega às minhas mãos. SCHULTENOVER, David G. (edited). Vatican II. Did anything happen? New York: Continuum, 2007. Como se vê pelo título, o livro, que é uma coletânea de artigos de vários estudiosos sobre o polêmico concílio, deixa bem claro: nada aconteceu a partir do Vaticano II? Tal pergunta nos leva a inferir que os artigos que a obra contém são marcados pela defesa da hermenêutica da descontinuidade. Tal hermenêutica foi, e ainda é, hegemônica dentro da Igreja, principalmente na Igreja latino-americana marcada pelo ranço da teologia da libertação. Defendida principalmente pelos historiadores de Bologna, especialmente Giuseppe Alberigo, com a sua História do Concílio Vaticano II em cinco volumes (no Brasil saiu só os dois primeiros pela editora Vozes. Por que? Ninguém quer ler tal história. Na verdade, é preciso ter muita disposição mental para tal tarefa), a leitura descontínua vêm tomando suas bordoadas. (Confiram, por exemplo, o discurso do papa Bento XVI aos cardeais no Natal de 2005). Dessa forma, o livro que apresento vêm com a marca indelével da defesa da descontinuidade. O Vaticano II é evento (eles se baseam nos textos de Pierre Nora sobre a "volta do evento") que irrompe na história e a partir dele tudo se renova, tudo se vivifica, é uma Igreja nova que nasce. Tal hermenêutica vai ser utilizada tanto pelos progressistas radicais como pelos ultra-conservadores (os primeiros para o bem, os segundo para o mal e a perdição). No livro, encontramos, por exemplo, o artigo do padre Joseph Komonchak, Vatican as an "event". O padre foi o organizador da edição americana da "História do Concílio..." de Bologna. O que não consigo compreender é que o debate em torno da hermenêutica do concílio parece um diálogo de surdos. Um defende de cá, o outro rebate de lá. Creio que assim não é possível construir uma compreensão mais clara de evento tão importante para nós católicos. E que é preciso. Pela nossa sobrevivência como cristãos. Bem, aqui o que interessa é uma apresentação da obra. Só uma observação: o nome da editora é Continuum. Peculiar para um livro "descontinuum"... Hehehe...
Sobre as interpretações do concílio logo sai um artigo meu em uma revista e posto aqui para todos.

Albert Camus e o nada


Albert Camus! O grande escritor da obra, para mim das mais importantes do seculo XX, "O homem revoltado", volta à baila com trechos de uma peça teatral intitulada "O improviso dos filósofos", na qual constróia uma crítica voraz ao pai do existencialismo Jean Paul Sartre. Leia o trecho abaixo publicado na Mais! da Folha de S. Paulo:


O mercador da nova doutrina


SR. NÉANT
- A bem dizer, não tenho exatamente uma profissão, tendo consagrado minha vida às coisas do espírito e nada sabendo fazer com as mãos. Mas há algum tempo, e por pura vocação, quis arrumar um ofício. Tornei-me mercador da nova doutrina.
SR. VIGNE - Isso é muito bom, meu senhor, e eu o felicito. Mas, suplico-lhe, o que é isso?
SR. NÉANT - Isso o quê?
SR. VIGNE - Um mercador da nova doutrina?
SR. NÉANT - É o ofício que me traz até aqui.
SR. VIGNE - Nesse caso, senhor, é o melhor dos ofícios e merece meus aplausos.
SR. NÉANT - Nunca duvidei de sua aprovação e por isso vim vê-lo. Pois aquilo que tenho a dizer não posso dizê-lo a todo mundo e escolhi, para expor as finas mercadorias de que disponho, homens como o senhor, que devem sua primazia ao caráter, aos costumes e ao gênio.
SR. VIGNE - É verdade que tenho verniz mundano e algumas conjecturas sobre as coisas do espírito, mas não sabia que minha modesta reputação tivesse chegado até o senhor.
SR. NÉANT - O fato é que chegou até Paris e seus trabalhos são conhecidos por lá.
SR. VIGNE - Meus trabalhos! Mas não me recordo de tê-los publicado.
SR. NÉANT - É verdade; entretanto, nós o conhecemos, e a melhor prova é que aqui estou.
SR. VIGNE - É preciso crer no que diz, com efeito, pois essa prova é irrefutável. Mas continue, sou todo ouvidos e já começo a sentir certa afeição pelo senhor.
SR. NÉANT - Então estamos de acordo. Para falar brevemente, eis o caso: trago-lhe o que se faz de melhor em Paris em matéria de filosofia e pretendo lhe mostrar todas as vantagens dela.
SR. VIGNE (espantado e gaguejando de satisfação) - Uma honraria dessa, meu senhor, uma honraria dessa me faz sonhar. Acho que vou perder a fala.
SR. NÉANT - Não se inquiete. Posso muito bem falar sozinho. Entretanto, se o seu fôlego voltar, gostaria de começar por duas questões, e a primeira consiste em saber se o senhor é religioso.
SR. VIGNE - Tenho alguma noção, senhor, das verdades da fé católica, na qual meus pais me criaram.
SR. NÉANT - Isso significa que o senhor vive no erro, pela razão de que essa verdade se encontra hoje desmentida.
SR. VIGNE - E por quem?
SR. NÉANT - Por este livro aqui.
SR. VIGNE - E que livro é esse?
SR. NÉANT - O novo evangelho do qual eu sou apóstolo.
SR. VIGNE - O senhor me deixa espantado; não ouvi dizer que o mundo havia recebido a visita de um novo messias.
SR. NÉANT - Mas assim é. E, para a graça de todos nós, vários messias estão agora em Paris.
SR. VIGNE - Vários? Isso não é demais?
SR. NÉANT (severamente) - Nos tempos atuais, não poderíamos ter messias em excesso.
SR. VIGNE (afobado) - Sem dúvida, sem dúvida, o senhor tem razão. Mas confesso que sinto alguma dificuldade em pensar que a religião em que vivi até agora...
SR. NÉANT - Essa religião, em todo caso, não cabe mais para as pessoas que estão na moda em Paris.
SR. VIGNE - Ah! Senhor, o que está me dizendo! A gente de Paris é racional demais para pensar nisso tudo em vão. E sua conversa me abre tantos horizontes que eu quero logo responder a sua segunda questão.
SR. NÉANT - O senhor acredita que tudo nesse mundo tem uma causa?
SR. VIGNE - É isso que aprendemos no colégio em que fiz meus estudos.
SR. NÉANT - Eia! Isso reforça minha opinião de que seria preciso, para dar exemplo, esfolar vivos duas ou três dúzias de professores, pois os seus o fizeram viver até hoje na mentira.
SR. VIGNE - Espere aí! O que quer dizer?
SR. NÉANT - Quero dizer, senhor, que nada tem causa e que tudo é acaso.
SR. VIGNE - Então eu estou aqui, diante do senhor, prefeito desta cidade, farmacêutico oficial, pai de uma bela filha e tudo isso, em suma, sem uma razão? Como pode ser assim?
SR. NÉANT - É que este mundo é absurdo.
SR. VIGNE - E por que este mundo é absurdo?
SR. NÉANT - Pela simples razão de que ele não se explica.
SR. VIGNE - E como não?
SR. NÉANT - Porque é absurdo.
SR. VIGNE - Caramba, agora eu vejo as coisas claras e me explico claramente porque esse mundo não se explica.
SR. NÉANT - É a sua inteligência que merece todas as honras.
SR. VIGNE - Meu Deus, como essa filosofia me dá prazer! Sinto que vou adotá-la sem demora.

Contra o nada, com Tudo

Os dias são como flechas em direção ao alvo, velozes e com um único objetivo: chegar. Chegar a ter vida a cada respiração. Alcançar a visão beatífica do ser agora. Iluminar-se com a possibilidade do Real.

Estremeço-me. A chuva insiste em me ninar. Na verdade, a voluptuosidade do tempo não me permite dormir, sonhar. A vigilia é que importa. Ainda mais quando nos sentimos sós. A solidão espreita e não posso ausentar-me de mim mesmo. O cansaço instala-se em meu peito e a cada fagulha de pensamento convenço-me: as palavras são meu mundo e nelas encontro o caminho saboroso e enebriante do estar.

Claro que minha história com elas nunca foi a estrada reta, lisa e de mão dupla que caracteriza as belas auto-estradas dos países nórdicos. Se assim o fosse não teria experimentado suas verdadeiras objeções ao meu ser. E não experimentá-las seria poupar-me da transformação, e isto é somente ilusão pura e simples. Estar com elas, para elas, é se entregar à sua dança libertadora e graciosa. É experimentar a doçura de ser ali, transpassados de sentidos. Isso. Sentidos. Há muito penso sobre isso. Sobre o meu caminho. Sobre o caminho humano. A descrença na existência de algum, sentido, para mim e para todos, levou-me à insanidade na crença no "nada significante". O nada, que por si só é a experiência do vazio, da não-realização, passou a ser a minha principal linha de conduta moral. Passou a "significar" (entre aspas, pois se é o nada como significa?). Óbvio que isto não acometeu apenas a mim. Sou mais um nessa nau sem rumo. O sentido, em um mundo onde impera "o nada" como valor absoluto e irremovível, é apenas fruto de uma invenção, individual, coletiva ou as duas juntas. Tudo seria, assim, fruto de nossa mente confusa, perdida e desejosa de segurança. Seriamos reinvenções de nós mesmos. Rascunhos mal elaborados. Nada me ligaria ao outro, do meu vizinho a um vietnamita. Seriamos apenas frutos de um tempo remoto e de um lugar longínqüo. Representantes de um inexistente elo perdido.

Não! Não aceito! A descoberta de Deus, do transcendente, do Totalmente Outro, já não me permite viver nesse nada insignificante. Não me permite olhar para trás, nem pra lá voltar. Por isso regozijo-me em estar Nele pelo menos no desejo, se não possuo forças para entregar-me absolutamente no seu amor. A única coisa que posso oferecer a Ele é minha súplica: Kirie, eleison...

Igreja Católica e civilização ocidental



Até quanto é preciso contar para manter a paciência frente a tanta bobagem que se diz sobre a história da Igreja? Aonde podemos recorrer para nos munir de conhecimento a fim de demonstrar a importância da Igreja para a formaçõ do mundo ocidental? Às vezes nem mesmo com um conhecimento sobre essa importância é suficiente, já que o recurso à falácia ad hominem - "ah, você é católico! "- já nos impossibilita de fazer alguma reflexão. Bem, exsite um livro muito interessante sobre o tema e que começo a ler: Thomas E. Woods Jr. Come la Chiesa Cattolica ha costruito la civiltà occidentale. Siena: Cantagalli, 2007. O autor é americano é possível encontrado em inglês. Por sinal, a foto que acompanha o post é do livro original. Woods trata para demosntrar sua tese, ou seja, de que sem a Igreja Católica não existiria o que chamamos de "civilização ocidental", da cristianização dos bárbaros, do papel dos monges cristãos, a universidade e a ciência, a arte, as origens do direito internacional e a moralidade ocidental. Com várias referências e com tom desafiador. Alguns diriam: "apologética". O autor responderia: "Sim, com muito prazer".

Bertone em Cuba e a possível transição

Discurso do Cardeal Bertone aos Bispos de Cuba

Ao visitar Havana no 10º aniversário do falecimento de João Paulo II

HAVANA, quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008 (ZENIT.org).- Publicamos o discurso que o cardeal Tarcísio Bertone, secretário de Estado de Bento XVI, dirigiu em Havana aos bispos cubanos por ocasião do 10º aniversário da viagem de João Paulo II a Cuba.

Senhor Cardeal,

Senhor Presidente da Conferência dos Bispos Católicos de Cuba,

Queridos irmãos no episcopado:

Agradeço a Dom Juan García Rodríguez, Arcebispo de Camaguey e Presidente da Conferência dos Bispos Católicos de Cuba, pelas cordiais palavras de boas-vindas que me dirigiu em nome de todos, e às quais respondo com a expressão de meu sincero afeto e minha profunda estima.

Em primeiro lugar, quero fazer-me intérprete dos sentimentos do Santo Padre Bento XVI, que, ante esta minha viagem a Cuba, pediu-me que transmitisse aos senhores sua afetuosa saudação e sua proximidade espiritual. Com efeito, o Papa conhece bem a situação da Igreja cubana, ele a leva em seu coração e a tem muito presente em suas orações. Por isso, espera com vivo desejo a próxima visita ad limina dos bispos cubanos, para poder assim encontrá-los pessoalmente e estreitar os vínculos de comunhão que tão fortemente unem os Pastores desta nobre nação com a Sé Apostólica.

Agradeço ao Senhor pela oportunidade que me oferece de poder estar aqui com todos os senhores e, de modo especial, neste momento no qual a Igreja cubana celebra o 10º aniversário da inesquecível visita do Papa João Paulo II a este país. Estou plenamente convencido de que essa data será também um tempo de graça abundante e uma ocasião privilegiada para impulsionar um intenso trabalho pastoral que, por um lado, permita consolidar os frutos espirituais já colhidos durante estes anos e, por outro, produza uma profunda renovação da vida cristã em todo o Povo de Deus que caminha nesta terra maravilhosa.

Eu vos animo, pois, queridos irmãos bispos, a intensificar ainda mais a ação pastoral que com tanta dedicação e empenho estão levando a cabo. Permitam-me recordar-vos algo que os senhores, como solícitos Pastores já conheceis bem: a importância e a primazia que, tanto na vida pessoal como em nosso ministério episcopal, devemos dar à oração e ao trato íntimo com o Senhor na vida espiritual. Sabemos também que em seu ministério, os bispos devem atender muitos compromissos, programar numerosas atividades e enfrentar muitas necessidades. Contudo, como disse o Papa Bento XVI, «na vida de um sucessor dos Apóstolos, o primeiro lugar deve ser reservado a Deus. Assim, ajudamos especialmente os nossos fiéis» (Discurso aos Bispos nomeados no último ano, 22-IX-2007). Desta maneira, toda nossa ação pastoral ao serviço dos fiéis e da Igreja será verdadeiramente fecunda (cf. João Paulo II, ex. ap. Pastores Gregis, n. 12), porque na intimidade da oração com Cristo é onde se amadurecem os melhores projetos e iniciativas pastorais, e onde o coração se enche de confiança e fortaleza ante as dificuldades, com a segurança de que é o Senhor quem atua em nós e através de nós.

Eu vos alento também a continuar robustecendo o espírito de comunhão entre todos os bispos, como membros do Colégio Apostólico, e com o Papa. Todos vós deveis sentir-vos acompanhados e sustentados por seus irmãos no Episcopado, como manifestação concreta desse afeto colegial que nos une (ibid. n. 8) e pela união com o Sucessor de Pedro, a quem se confiou confirmar na fé os seus irmãos (cf. Lc 22, 32). Posso vos assegurar o interesse e o apoio do Santo Padre por cada um de vós. Com efeito, o testemunho de caridade fraterna e de unidade entre os bispos será, sem dúvida alguma, o melhor espelho no qual os fiéis poderão ver refletido o mistério de unidade que é a Igreja.

Este espírito de comunhão há de envolver a toda a comunidade cristã, especialmente pelo trabalho próximo e constante dos sacerdotes e pessoas consagradas, que com seu ministério e consagração colaboram estreitamente com a missão dos Pastores. A estes, pois, corresponde uma tarefa insubstituível de ocupar-se de sua formação, inicial e permanente, e de atendê-los com solicitude em tudo o que se refere à sua vida espiritual e aos seus afãs apostólicos, sem descuidar dos aspectos pessoais e ambientais que podem incidir no exercício gozoso e abnegado de suas tarefas.

Além disso, em Cuba se faz hoje de maneira tangível a verdade das palavras de Jesus Cristo: «A messe é grande e os operários são poucos. Rogai ao Senhor da messe que envie operários para a sua messe» (Mt 9, 37-38). Uma oração à qual deve ir vinculada uma ação pastoral vocacional séria, sistemática e capilar, que faça chegar ao coração dos jovens cubanos o chamado a uma entrega incondicional ao Senhor e a seu Reino de amor, os acompanhe com paciência, delicadeza e solicitude em todas as etapas do discernimento vocacional e mostre às famílias e comunidades cristãs a beleza de uma vida totalmente dedicada a Cristo e à Igreja.

Albergo a esperança de que a celebração deste aniversário da visita do Papa João Paulo II a esta bendita terra contribua para dar um novo impulso às relações entre o Estado e a Igreja Católica em Cuba, para que, em espírito de respeito e entendimento mútuo, a Igreja possa levar a cabo plenamente sua missão, estritamente pastoral e ao serviço de seus fiéis, com a devida liberdade.

A este respeito, desejo aproveitar o colóquio que teremos a seguir para dialogar com os senhores sobre este importante aspecto das relações entre Igreja e Estado.

Por último, dirijo-me à Virgem Maria, Nossa Senhora da Caridade do Cobre, padroeira de Cuba, para encomendar-lhe os frutos desta visita, ao mesmo tempo que lhe peço por todos os senhores e suas comunidades diocesanas, para que Deus vos abençoe, encha de amor e esperança, e recompense vosso zelo ao serviço de Deus e da Igreja.

Muitíssimo obrigado.

[Tradução: Élison Santos. Revisão: Aline Banchieri]

A visita do Secretário de Estado do Vaticano foi apostólica, contudo num momento bem especial: a saída do velho ditador do poder. A Igreja já sofreu demais na "Ilha prísão", mas desde 1998, data da visita de João Paulo II, passa por momentos um pouco melhores. A transição virá, só nos resta saber como. Alguns dizem em um modelo parecido com o chinês. Nada de liberalismo econômico e político por sinal.

Rubem Alves, estrelas e engodos

Rubem Alves, hoje na Folha de S. Paulo destila seu preconceito ao papa Bento XVI. Lê-se:

"Retornamos às eternas estrelas do céu e aos efêmeros jardins da Terra...Os que olham para as estrelas dizem possuir a verdade. Mas os que olham para os jardins sabem que tudo o sabem é provisório. Os olhos da Igreja Católica não vêem jardins; só vêem as estrelas [...]
O SS Bento XVI acredita que Deus revelou à Igreja Católica e somente a ela a verdade total das estrelas. Segue-se, por necessidade lógica, que todos os homens, indivíduos ou igrejas, que têm idéias diferentes das suas, estão privados da Verdade."

Tsc, tsc, tsc...Rubem Alves só pode estar de brincadeira com esse seu artigo ao "Cotidiano" da Folha de hoje. Tenho certeza que o colunista sabe muito bem que Bento XVI não só olha para as estrelas, como cita, e que sabe também o que deve ser "retido" como Verdade, com letra maiúscula, e o que é provisório e efêmero, ou seja, os jardins e seus jardineiros. Na segunda assertiva, Alves defende que Bento XVI acredita que só a Igreja católica possui a "verdade total das estrelas" e que aqueles que não estão com ela ou têm idéias diferentes estão "privados da Verdade". O colunista sabe que o que fala não é correto, e Bento XVI também. Se Jesus disse "Eu sou o caminho, a verdade e a vida", não sei em qual sentido o papa se equivoca. Por outro lado, Ratzinger sabe muito bem, seguindo as determinações do Vaticano II, que religiões e sistemas filosóficos não cristãos podem possuir sim aspectos da verdade e que os indíviduos pertencentes a elas podem ser salvos sim. Rubem Alves sabe disso, ah sabe...

Mais um artigo anti-papal

Leiam o artigo de Marco Politi, vaticanista, no La Repubblica de hoje:


A presença Pio IX volta a se manifestar na Santa Romana Igreja. A imprevista exaltação do papa Mastai, descrito por Bento XVI como grande pontífice de virtudes exemplares, “indômito e corajoso” combatente contra a secularização do século XIX, não é o melhor auspício para acalmar as tensões entre a sociedade laica e o papado.

É preciso saber ler a body-language de Joseph Ratzinger. No último consistório, em novembro de 2007, Bento XVI se apresentou na basílica vaticana com a mitra de Pio IX e o pluvial de João Paulo II. Sentado no trono, não evocava a imagem de um peregrino da fé, mas o ícone de um papado imperial. Nos pesados paramentos dourados, se refletia a obstinada vontade de manter unidas a Igreja do Syllabus e a Igreja do ‘mea culpa’, o papado que reabriu o gueto de Roma e o papado que, em Jerusalém, no ano 2000, pediu perdão pelo anti-semitismo, o catolicismo do absolutismo papal e o do ‘povo de Deus’ celebrado pelo concílio Vaticano II.

Não se escolhem por acaso as vestes cerimoniais para um rito pontifical. A sacristia de São Pedro não é uma loja de vestes teatrais que escolhe por meros gostos estéticos. A mitra de Pio IX pertence ao pontífice que declarou guerra ao século XIX, que execrou a liberdade de consciência e a liberdade religiosa, que permitiu que os seus seguidores se servissem de manobras totalitárias para impor a infalibilidade papal. A imagem de Pio IX que pôs o pé sobre o pescoço de um bispo que se opunha ao dogma – isso aconteceu durante uma audiência, no momento do beijo das pantufas – pertence às páginas mais desagradáveis da história da Igreja.

A recuperação da mitra foi o prólogo do discurso ratzingeriano no 130º aniversário do papa Matsai. Ele demonstra que não se trata de algo extemporâneo. A imagem de Pio IX, na descrição feita por Ratzinger, é a de um pontífice que luta para reafirmar a verdade da fé cristã frente a uma sociedade que se seculariza. Um baluarte heróico. Ontem Pio IX, hoje Bento XVI é a equação apresentada instintivamente aos olhos dos fiéis e do mundo. O jornal L´Osservatore Romano confirma. “Hoje se vive, em boa parte, da herança de Pio IX, proclama o fiel postulador da causa de canonização – e se correm riscos que o seu magistério pretendia poupar à Igreja de então e de sempre”.

Assim se coloca no mesmo plano o que é conciliável e o que não é. A oposição frontal à modernidade de Pio IX e a abertura aos sinais dos tempos de João XXIII, a infalibilidade papal, de um lado, e a gestão colegial da Igreja juntamente com os bispos, do outro. Continuamente volta, enfim, a vontade de negar o caráter de mudança e, em certos aspectos, de ruptura do Concílio Vaticano II. Mas a operação somente pode ser feita apelando à apologética ou se refugiando na remoção. Pio IX abominava a democracia, o Vaticano II a fez sua. Pio IX considerava a liberdade religiosa como uma loucura, o Vaticano II a reconheceu, Pio IX considerava a liberdade de consciência como algo inconcebível, Karol Wojtyla fez dela uma dos pontos centrais do seu pontificado, denunciando o que houve de opressivo no interior da Igreja. Isso tudo para não falar do ecumenismo. As crônicas do Concílio de Pio IX, em 1870, descrevem os gritos de condenação, dirigidas contra o bispo alemão Stossmeyer, culpado por ter declarado que “também entre os protestantes há pessoas que amam Jesus”. E quando o mesmo bispo implora para que não se imponha um dogma como a infalibilidade simplesmente apelando para a maioria, os seguidores de Pio IX se puseram a gritar:” Anátema, anátema, é um outro Lúcifer, um segundo Lutero”.


Não se pode recuperar Pio IX e querer o diálogo com o mundo contemporâneo. Está aqui a grande, subterrânea contradição do pontificado de Bento XVI: desejar sinceramente um confronto fecundo com a razão e a ciência moderna enquanto são propostas novamente as experiências mais autoritárias e doutrinalmente fechadas da Igreja. Muitas vezes os movimentos ratzingerianos parecem que ficam bloqueados pela metade. Num espasmo de contradições. Refutar as cruzadas e sustentar que o Islã é intrinsecamente violento. Afirmar que a Igreja não faz política e querer ditar o comportamento dos católicos no Parlamento. Querer o confronto com a razão e negar sua dignidade autônoma, se não se bebe das fontes do Transcendente.

Há um trecho revelador no seu discurso que seria proferido na universidade La Sapienza, de Roma. “Várias coisas ditas pelos teólogos no decorrer da história ou também traduzidas na prática das autoridades eclesiais – admite Ratzinger – se demonstraram falsas”. Mas nunca se diz quem demonstrou a falsidade. É uma remoção eloqüente. Porque aqueles que, nos séculos passados desmontaram verdades oficiais erradas, freqüentemente foram católicos perseguidos, teólogos declarados heréticos, pensadores não crentes acusados como inimigos da Igreja.

É difícil dialogar com o mundo moderno se não se admite até o fim a relatividade do agir da instituição eclesiástica, feita de seres humanos. Aos homens e às mulheres contemporâneos, sejam católicos ou não, a ideologia de um papa-rei, tipo Pio IX, inspira somente distância.

Não preciso aqui referenciar os momentos que o "vaticanista" demonstra seu rancor contra Bento XVI, pois está claríssimo. Concentro-me apenas nessa afirmação: "Continuamente volta, enfim, a vontade de negar o caráter de mudança e, em certos aspectos, de ruptura do Concílio Vaticano II". Em contraposição à frase, eu diria: desde o final do Concílio Vaticano II existem indivíduos, como Marco Politi, que insistem em fazer da Igreja algo totalmente novo, e calcados em um otimismo ilusório, nesse caso, demonstram-se como os últimos baluartes da "verdadeira nova Igreja", aquela que, afirmam ideologicamente, desejava João XXIII. Observem como o autor gasta um parágrafo fazendo referências das contradições entre o papado de Pio IX e o Vaticano II. Mas peraí? Não me lembro de existir contradição entre primado papal e colegialidade. As duas coisas andam juntas e isso foi considerado pelo concílio. Outra: se Pio IX "abominava" a democracia era devido ao caráter laicista que se imprimia nela em diversos países da Europa, não necessariamente era contra "a" democracia. Parece até que o "vaticanista" não sabe que os Estados papais estavam correndo risco de desaparecerem na ocasião (o que de fato aconteceu) e que a posição de Pio IX era em vista da manutenção do poder temporal. De novo: peraí? Mas esse sujeito não sabe o que é hermenêutica? Não sabe que devo ler o Syllabus observando o sentido geral do texto e não suas proposições particulares, como diz o próprio teólogo... Joseph Ratzinger? E onde estão as atitudes "autoritárias" que chama atenção para o papado atual? Um papado marcado por um "espasmo de contradições": diga-me um que não foi contraditório, melhor, diga qualquer governo de qualquer nação ocidental ou oriental que não se move em contradições? Qual o problema de Bento XVI querer reafirmar, como Pio IX, a fé católica frente a um mundo que se seculariza cada vez mais? Não é a democracia o que defende, Marco Politi? Parece agora que quem se contradiz é o próprio "vaticanista"...