Coutinho aponta a "grosseria" de Marcos Nobre

Marcos Nobre, hoje na Folha, tenta dar um pitaco no turbilhão midiático que Ratzinger está inserido. Consegue fazê-lo, pois publicou, mas com alguns problemas. Ele afirma que o papa está convocando seu exército. Em certo ponto afirma: "Depois, reabilitou os excomungados integristas, cujo líder nega o Holocausto nazista." Erro. Quem nega o Holocausto não é Fellay, que é o líder da FSSPX, mas Willianson, um bispo dessa fraternidade. Logo depois: "Seu antecessor, João Paulo 2º, respondeu ao desafio dos fundamentalismos religiosos com uma volta ao mistério do sagrado, mas também com o diálogo ecumênico. O então cardeal Ratzinger impôs o silêncio obsequioso aos que divergiam da sua orientação e substituiu um a um os bispos mais críticos." Ratzinger era chefe da Congregação para a Doutrina da Fé de João Paulo II. Aqueles que colocaram em risco, segundo Ratzinger, os fundamentos da fé em seus tratados teológicos foram afastados por ele, com a anuência de João Paulo II. Então, não se pode contrastar um papado com o outro, pelo menos nesse sentido. Depois: "Escolhido papa, Bento 16 responde aos fundamentalismos religiosos com a criação de um fundamentalismo católico." Afirmar o que se acredita nesse mundo de hoje é tornar-se "fundamentalista". Até que ponto aquele que acredita em uma doutrina é considerado um "simples" fiel ou um "fundamentalista"? Ir à missa todos os dias, confessar-se e acreditar na Igreja Católica como a Igreja de Cristo pode ser sinal de "fundamentalismo". Ainda: "Não se trata apenas de tolerar externamente a existência de outras religiões, mas de aceitar a ideia de que é possível e legítimo expressar a fé de diferentes maneiras, em diferentes religiões." Diga-me aonde o papa afirma que isso não pode ser feito? Como um herdeiro do Vaticano II ele sabe muito bem por onde andas a teologia das religiões. Por fim: "O fundamentalismo praticado hoje pelo Vaticano destrói não apenas milhões de vidas. Destrói também as bases de uma convivência tolerante que levou séculos para ser construída." Destrói milhões de vidas? Por que? Por que afirma ser melhor a castidade do que a camisinha? Além do mais, é preciso dizer: o pluralismo como se vê hoje nas sociedades liberais-democráticas é fruto da própria dinâmica do cristianismo.

Parece que outro articulista da Folha, João Pereira Coutinho não concorda com Marcos Nobre. E dá resposta a ele no mesmo dia, sem saber, penso, de seu texto: "Tenho uma amiga que não gosta do atual papa. Razões? Ela responde: 'Acho que ele é demasiado católico'. A primeira vez que ouvi a tese, chorei de rir. Mas chorei com respeito. A tese expressa, com rigor e humor, o espírito do tempo sempre que o papa resolve ser papa." Depois: "a Igreja Católica, com total legitimidade, tem uma particular doutrina sobre a sexualidade humana, onde a abstinência (antes do casamento) e a fidelidade (depois do casamento) constituem-se como valores centrais. Centrais e absolutamente lógicos. Não é preciso ser católico para comprovar a eficácia do método. Basta usar a cabeça, caso exista uma: se os seres humanos fossem capazes de trilhar a visão de perfeição proposta pelo papa, a possibilidade de contágio seria nula, ou quase. Acusar o papa de espalhar a Aids na África não é apenas insulto grosseiro; é irracionalismo grosseiro. Se as pessoas seguissem a doutrina da Igreja em matéria sexual, não haveria Aids no mundo."

1 comentários:

R. B. Canônico disse...

João Pereira Coutinho é um dos melhores articulistas de nossos jornais, disparado. Mas disparado mesmo. Vale a pena ler tudo o que nosso amigo português escreve. Não que eu concordo com 100% das idéias, mas com mais de 90% com certeza. E quando discordo - raríssimo - não dá para ficar chateado com Coutinho: ele é honesto.

Agora, esse Marcos Nobre de nobre não tem nada... como a Folha pode publicar um texto tão infanto-juvenil?